Turismo Titulo Iporanga
Aventura subterrânea pelos núcleos do Petar
Aggnes Franco
Especial para o Diário
21/02/2013 | 07:43
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Junior Petar


As cavernas são certamente o maior atrativo da cidade. Atualmente há 12 abertas para visitação turística. Todas as outras têm entrada autorizada apenas a pesquisadores. A  administração do Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) pretende abrir mais 18 nos próximos anos, totalizando 30 diferentes ambientes a serem visitados. A maioria das grutas fica dentro dos limites da reserva, que é dividida em quatro núcleos: Caboclos, Ouro Grosso, Casa de Pedra e Santana (o mais visitado). Mas há muito mais a ser visto. Cachoeiras e rios proporcionam momentos mágicos a quem se aventura por suas águas geladas.

O núcleo mais antigo e visitado de todos é o Santana, que recebe, em média, 1.000 visitantes por mês, de acordo com pesquisa feita por Beroaldo Sobrinho (quem é). O local possui estacionamento e fica a 17 quilômetros do centro da cidade, com acesso por estrada de terra sem pavimentação, margeada por belas paisagens protagonizadas pelo cristalino Rio Bethary.

Logo na entrada nos deparamos com o mirante do Bethary, que proporciona uma esplendorosa vista do vale, das trilhas e cavernas a serem percorridas. Entre elas está a Gruta de Santana, uma das mais ornamentadas do mundo, com grande variedade de espeleotemas. Estalactites, estalagmites, pérolas e diversas outras formações espeleológicas enchem os olhos. E a gruta é também a de mais fácil acesso, contando com escadas e pinguelas.

A caverna tem sete quilômetros de extensão, mas apenas 800 metros podem ser visitados. Para chegar à entrada, gasta-se não mais do que cinco minutos de caminhada. A partir daí, são duas horas dentro da caverna. Imagens que lembram a pata de um  elefante, uma cabeça de cavalo e a popular representação de Jesus Cristo instigam o imaginário dos visitantes e são um deleite aos fotógrafos. Ainda assim, é preciso ficar atento para evitar quedas, pois o chão é escorregadio em alguns trechos.

Como em outras cavernas, há vida. Morcegos, opiliões (espécie de aracnídeo não venenoso) e larvas que se alimentam de insetos são facilmente encontrados. Mas não se assuste! Se não procurar, dificilmente você irá se deparar com algum destes seres tão pitorescos. Um rio atravessa toda a extensão da cavidade subterrânea, mas a maior parte da área visitada é seca.

Morro Preto é outra importante caverna do Núcleo Santana. O portal é um dos mais bonitos da região, com um mirante pouco depois da entrada da caverna, que permite a formação de inesquecível contraluz.

O nome faz jus a grande parte da formação, que possui coloração bem escura. De acordo com arqueólogos, o local serviu de abrigo a homens pré-históricos, e diversas conchinhas do mar são visíveis no solo, provando que a área foi banhada pelo oceano  milhões de anos atrás.

A caminhada externa é uma subida de 15 minutos que tira o fôlego dos mais preguiçosos, mas recompensa com uma hora de passeio por dentro da Terra.

Morro Preto está interligado à caverna ao lado: Couto. A ligação é popularmente chamada de ‘aborto', mas o acesso requer autorização prévia. Ao conhecer a passagem, fica fácil entender o nome. A travessia é desconfortável, uma vez que se desce por uma estreita passagem que vai se abrindo. Quem fica do outro lado esperando o colega chegar tem a nítida sensação de ter visto realmente um nascimento. A aventura foi um dos principais atrativos nos anos 1990 e início de 2000, quando ainda era totalmente aberto ao público.

Couto é um desmoronamento, ou seja, não há muitas formações espetaculosas. Mesmo assim, tem seu charme. É uma espécie de duto para águas que surgem na Serra da Onça Parda, e tem 600 metros de comprimento. O rio que passa dentro da caverna se transforma na linda Cachoeira do Couto. Crianças e adultos se deliciam sob ela, aproveitando a piscina natural que se forma. O acesso à caverna leva cinco minutos e à queda d'água, mais três minutos. O passeio por dentro dura cerca de uma hora.

Depois, pode-se encarar no mesmo núcleo a Trilha das Andorinhas, ou Trilha do Bethary, de nível médio, que inclui duas cavernas. Milhares de bromélias, juçaras (principal espécie de palmito, ameaçada de extinção) e centenas de exemplares da flora embelezam o passeio, além da grande chance de cruzar com macacos, quatis e tucanos. O percurso tem cerca de quatro quilômetros, com satisfatória dose de adrenalina, cruzando rios, subindo morros e sujando bastante a roupa.

A 1.500 metros do ponto de partida para todas as grutas (o quiosque dos monitores) está a Caverna Água Suja, uma das preferidas pelos turistas. Com cerca de três quilômetros  e de fácil acesso, tem uma grande entrada. O roteiro turístico é praticamente todo feito dentro do rio que atravessa a cavidade subterrânea. O nome se dá devido à forte presença de argila e outros sedimentos, proporcionando um tom amarronzado à água em períodos de chuva. O maior desafio é chegar à cachoeira escondida dentro da gruta. A passagem é desafiadora, já que o visitante precisa atravessar um trecho de teto baixo, dentro do rio, para chegar lá.

Apenas 300 metros à frente de Água Suja, avista-se a Gruta do Cafezal, com 216 metros de extensão. Com uma pequena cavidade para entrada, o visitante não enfrenta dificuldades para caminhar em seu interior. Ornamentada com ‘flores' e conchas sedimentadas, a caverna proporciona uma verdadeira viagem no tempo.

E o final da trilha ainda preserva uma das mais raras belezas do Petar: a Cachoeira das Andorinhas. Com 35 metros, é uma das paisagens mais impressionantes do vale. Não é possível nadar porque a força da água provoca redemoinhos capazes de puxar os desavisados para baixo da queda, mas a contemplação é mais que suficiente. Cinquenta metros rio acima, a Cachoeira do Beija-Flor serve de refresco para quem não dispensa um ducha de água doce. Apesar de mais alta (45 metros), o menor fluxo d'água permite um revigorante e merecido banho antes do retorno para o descanso, já que esse passeio dura o dia todo.

 

 

OUTROS NÚCLEOS

Localizado no Bairro da Serra, a 16 quilômetros do centro de Iporanga, o Núcleo Ouro Grosso apresenta boa infraestrutura, com alojamento para 46 pessoas - exclusivo a encontros de grupos de estudantes e pesquisadores -, sala de convivência, cozinha e o Museu da Cultura Tradicional (Casa da Farinha em pau a pique, monjolo e moenda de cana). A diária custa R$ 17 por pessoa.  E é no entorno do alojamento que se esconde uma das grutas mais cobiçadas pelos mais aventureiros e destemidos: a Caverna Ouro Grosso. A entrada já assusta: um buraco, com cerca de 1,5 metro de diâmetro, obriga o ‘quebra-corpo' no primeiro minuto.

O trecho para visitação é bem curto, em torno de 200 metros, mas a caverna toda é bem maior, com 1.100 metros. Abriga cinco cachoeiras, das quais quatro precisam ser escaladas para se chegar ao final. Trata-se de uma das mais difíceis e perigosas travessias da região. Por isso, o turismo é permitido em doses homeopáticas. Qualquer acidente após o trecho turístico pode ser fatal, uma vez que o resgate é muito complicado. Além disso, quando a chuva cai, o volume de água em algumas cavernas, como esta, sobe muito rápido, podendo isolar a equipe e o acidentado.

Outra beleza do Núcleo Ouro Grosso é a Trilha da Figueira, que fica ao lado de um paredão de calcário onde é possível ver em vários pontos - mesmo estando fora da caverna - a ação da água sobre as rochas. Banquinhos em meio à trilha são ótimos para contemplação e descanso. O ponto alto do momento é a passagem entre as raízes da centenária figueira gigante.

É também deste núcleo que partem aqueles que se atrevem a deitar sobre uma câmara de caminhão aparamentada para descer o Rio Bethary no acquaride (ou boiacross, como preferem os locais). A aventura pode durar de 30 minutos a uma hora, e os monitores garantem a segurança de todo o grupo. Mas os menos destemidos preferem mergulhar no Lago Ouro Grosso, em meio à refrescante sombra da mata, na região que costuma ser bem quente durante primavera, verão e parte do outono.

Próximo ao núcleo, mas fora dos limites do Petar - a cerca de um quilômetro de distância - está a Gruta Alambari de Baixo. A caverna possui 890 metros, dos quais 400 metros são abertos para visitação. Alguns trechos possuem cordas devido à correnteza do rio que a atravessa. O portal é enorme, com cerca de 40 metros de altura, e na realidade a caverna passa por dentro de todo o morro, de modo que há sumidouro e nascedouro.

Praticamente toda a visita acontece dentro d'água. Em alguns trechos, a profundidade pode chegar a 1,70 metro, mas há cordas para dar apoio à passagem. Apesar da possibilidade de chegarmos ao outro extremo da caverna, o dono do terreno não permite a saída dos turistas por dentro de sua propriedade, obrigando os aventureiros a retornar pelo mesmo caminho, o que não diminui a beleza do passeio.

 

CASA DE PEDRA

"Não pude falar. Só senti. E percebi o quanto somos ignorantes e fracos diante da natureza... É, eu chorei de emoção, sim", disse o turista Marcelo Gomes ao retornar da trilha que leva ao Portal da Caverna Casa de Pedra, atração internacionalmente conhecida por ser o maior portal de grutas do mundo, com 215 m de altura.

Para chegar, percorre-se nove quilômetros de carro da cidade de Iporanga até a guarita do núcleo e mais três quilômetros de dura caminhada. O trecho exige boa resistência física, uma vez que passa por cima de duas montanhas - a trilha é considerada difícil, e de fato é. Mas o cenário compensa o esforço: ao chegar ao portal, andorinhas nos recepcionam, e a imensa cachoeira que adentra a caverna nos faz compreender por que o Petar é considerado patrimônio da humanidade. A travessia da caverna não é permitida há alguns anos - especialmente depois do último acidente fatal ocorrido por imprudência de um turista - e a aventura deve ser evitada em períodos de chuvas fortes, quando o terreno fica escorregadio, dificultando muito o acesso.

 

CABOCLOS

Este núcleo fica bem no centro do Petar, o que significa que o visitante terá de reservar  no mínimo dois dias no local para percorrer os 86 quilômetros de distância em relação ao centro da cidade e ainda realizar alguns passeios. Além disso, as trilhas exigem pulmões e músculos resistentes.

A infraestrutura conta com área de camping para até 40 barracas, banheiro, chuveiro gelado e estacionamento. Para acampar, cada pessoa deve pagar R$ 12 por pernoite.

O primeiro passeio pode ser a Trilha do Chapéu - com 900 metros - que leva às grutas do Chapéu Mirim I e II, do Chapéu e das Aranhas. O trajeto não exige nenhuma habilidade especial. Logo no início da trilha (bem próxima à área de camping) a natureza presenteia com as cavernas Chapéu Mirim I e II, as menores do roteiro turístico do Petar. Elas surgem como uma ‘amostra grátis' do pitoresco habitat que será encontrado dali em diante.

Cerca de 500 metros à frente, a atração é Aranhas, que tem este nome devido aos diversos opiliões ali residentes. A caminhada se estende por 210 metros com lindos ornamentos. Mais 300 metros e chega-se à Gruta do Chapéu, onde o explorador passará cerca de uma hora. Trata-se de uma das cavernas com mais espeleotemas da região, com destaque para a formação que se assemelha a um cogumelo gigante.

Há, entretanto, outra gruta, a oito quilômetros do acampamento, onde apenas os mais preparados fisicamente conseguem chegar devido à distância. Sorte deles. Temimina I é uma gruta deslumbrante. Apesar de curta (tem apenas 200 metros de comprimento), as dolinas - aberturas no teto - fazem desta uma das cavernas mais peculiares do parque. É cortada pelo Rio Temimina, e o esforço físico para os guerreiros é altamente recompensado.

Vale a pena também arriscar os seis quilômetros que levam às cachoeiras Sete Reis e Maximiniano, que além de serem uma agradável surpresa em meio à Mata Atlântica, têm uma trilha bastante tranquila e com rara beleza.

QUILOMBOS

No final do século 18, escravos fugitivos ou libertos fixaram-se na região. A agricultura passou a ser fonte de subsistência dos resistentes. Hoje, diversos remanescentes de quilombos podem ser visitados na companhia de guias turísticos. Bombas, Ivaporunduva, Pilões e Nhunguara são alguns deles.

Algumas comunidades abrigam até 200 famílias, majoritariamente formadas por descendentes de escravos. Parte da cultura permanece preservada, como o artesanato, as casas de pau a pique, utensílios de barro e equipamentos para produção de farinha de mandioca.

 

CURIOSIDADES

Gruta e caverna são cientificamente a mesma coisa. A nomenclatura varia de acordo com cada região do Brasil.

Espeleotemas: formações minerais formadas de aragonita, calcita, dolomita e raramente gipsita ou silicatos. Entre eles, os mais populares são as estalagmites (formações de baixo para cima) e estalactites (de cima para baixo).

COMO CHEGAR

De carro - O motorista que parte de São Paulo deve seguir pela Rodovia Régis Bittencourt (BR-116) até a cidade de Jacupiranga, acessar a SP-193 com destino a Eldorado e, então, pegar a rodovia SP-165 até Iporanga. Um carro 1.0 gasta, em média, um tanque de gasolina. Para quem está no Grande ABC, o melhor é ir pelo Litoral Sul.

De ônibus - A viação Intersul opera linhas de ônibus que vão de São Paulo até Eldorado. Os veículos partem do Terminal Rodoviário do Tietê às 06h30, 13h, 16h e  18h, com tempo de viagem estimado em seis horas. Em Eldorado, é necessário pegar outro ônibus para Iporanga, que sai às 06h, 12h30 e 16h40. A melhor opção é pegar a linha da Transpen, sentido Apiaí. É mais confortável e o tempo de espera é menor. Pode-se pegar o coletivo às 10h30, na Barra Funda, para chegar a Apiaí em torno das 16h. Às 16h30, sai o ônibus que leva para Iporanga.

ONDE FICAR

Pousada da Diva (Bairro da Serra) - Oferece guias turísticos, aluguel de equipamentos, refeições caseiras deliciosas e suítes muito confortáveis. Há também salão de jogos e wi-fi. Está localizada praticamente em frente ao Núcleo Outo Grosso. Tel.: (0xx15) 3556-1308. Site: www.pousadadiva.com.br.

Pousada Chalés Ouro Grosso - Tem chalés aconchegantes com frigobar, fogão, geladeira e capacidade para até oito pessoas. Os valores variam de R$ 25 a R$ 45 por pessoa. Há também área para camping, a R$ 15 por pessoa. Tel.: (0xx15) 3556-1157. Site: www.ourogrossochales.com.br.

 

EXCURSÕES

Núcleo Terra/Pousada Capitão Caverna - Excelente opção para grupos que visitam o local pela primeira vez.  A operadora organiza excursões aos fins de semana e feriados, incluindo hospedagem, alimentação, passeios, equipamentos de segurança, transporte e seguro-viagem. Tel.: 3628-2758. Site: www.capitaocavernapetar.com.br.

PASSEIOS

Parque Aventuras - A maior parte dos passeios exige a presença de monitores cadastrados. A dica é procurar o Parque Aventuras, que loca equipamentos de segurança. A diária de cada monitor é de R$ 150, com permissão para acompanhar grupos de até oito pessoas. Para fazer boiacross, o valor é de R$ 20 por pessoa. Site: parqueaventuras.com.

Petar - A entrada para cada núcleo do parque custa R$ 9 por dia. Crianças com menos de 5 anos e adultos com mais de 60 anos não pagam. Estudantes têm 50% de desconto.

Alambique Nhaguarandi - Jeremias de Oliveira Franco (o ex-prefeito de Iporanga que foi homenageado com seu nome na única estrada asfaltada que leva à cidade) tem 85 anos e herdou de seu pai o alambique mais tradicional da região. A bebida é curtida em barris de carvalho e muito apreciada por turistas, que podem visitar o sítio gratuitamente. As garrafas do destilado têm preços a partir de R$18. Para chegar lá, basta seguir as placas na entrada da cidade, que indicam o caminho a cerca de dois minutos de carro em estrada de terra. Não é necessário agendar visita nem acompanhamento de guia.

Passeio de Canoa - Navegar pelo Ribeira de Iguape em canoas artesanais é uma experiência inesquecível. Os passeios podem ser intermediados por agências de turismo local, que cobram de R$ 25 a R$ 50 por pessoa.

 

INFORMAÇÕES

Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) - Site: www.petaronline.com.br. E-mail: contato@petaronline.com.br

O QUE LEVAR

O uso de lanternas, calça (até o tornozelo) e camiseta são necessários em todas as cavernas do Petar. Prefira roupas que possam molhar e manchar de barro, preferencialmente calças de tactel, que secam rápido. Há, no entanto, peças específicas para a prática de espeleologia, facilmente encontradas em lojas de aventura. Os itens que não devem faltar na viagem são:

Agasalho, pois pode fazer frio à noite em qualquer época do ano;

Roupas de banho;

Calçados confortáveis, antiderrapante se que possam molhar;

Lanches para trilha;

Protetor solar e repelente;

Máquina fotográfica;

Cantil para água;

Capa de chuva;

Sacolas plásticas para armazenar itens que não possam molhar (há sacos-estanque específicos que podem ser adquiridos em lojas esportivas);

Mochila pequena para transportar todos esses itens;

Equipamentos de segurança, como capacetes, lanternas e salva-vidas (que podem ser alugados na cidade).

 

 




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