Economia Titulo Crédito
Governo e bancos querem conter avanço do crédito
24/07/2008 | 07:28
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Representantes do governo e de instituições financeiras têm se reunido e discutido informalmente, há pelo menos dois meses, o que fazer para que o avanço do crédito não se torne 'explosivo' e insustentável, do ponto de vista da pressão inflacionária.

Os encontros, segundo fontes que participaram de alguns desses eventos, têm ocorrido em São Paulo, algumas vezes com técnicos da Fazenda ou representantes do Banco Central, com funcionários de tesourarias e de instituições que provêem funding (capital) para o crédito.

Embora medidas específicas ainda não tenham sido definidas, o governo está preocupado principalmente com o número de instituições pequenas e médias atuando na área de crédito nos últimos anos, sem tanto rigor em relação à comprovação de capacidade de pagamento dos tomadores.

Se houver algum enxugamento adicional no setor - como aumento de exigências para concessão de crédito -, essas instituições provavelmente serão as primeiras a sofrer, dizem as fontes. O fato de o crédito não dar sinais de queda tornou-se motivo de preocupação para o governo e também um alerta para os bancos.

Pelo governo, pesa o receio com a inflação, já que a disponibilidade de recursos alimenta a demanda interna, já bastante aquecida, pressionando os preços - o ciclo de alta de juros da Selic é uma das respostas neste sentido.

As autoridades financeiras estão observando também o risco a que essas instituições ficaram expostas, ao reduzir as exigências de garantias de contrapartida, para ampliar os empréstimos e, por decorrência, os lucros.

Os bancos, embora estejam ganhando com a expansão do crédito, acenderam o sinal amarelo diante da possibilidade de que novas medidas sejam adotadas para provocar uma desaceleração nesse ritmo e de como isso os afetaria.

NÚMEROS - Os números da forte velocidade de crescimento do crédito justificam as preocupações, ainda que o risco de inadimplência não tenha aumentado: em 12 meses (até maio), o crédito teve expansão de 32,5% e superou R$ 1 trilhão, com o estoque de empréstimos chegando a 36,5% do PIB, a maior relação desde janeiro de 1995.

A projeção do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, é de que o crescimento chegará a 40% do PIB ao final do ano, mesmo com expectativa de queda no crédito para pessoa física.

"Hoje, buscamos reduzir um pouco esta taxa", comentou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, há cerca de 15 dias, em evento em São Paulo. Ele explicou que o intuito do governo é o de continuar promovendo a expansão, mas não em nível "explosivo" e que não se sustente.

Compra parcelada equivale a 51,8% das operações

A Itaucard prevê que as compras parceladas com cartão de crédito representem. Neste ano, 51,8% do faturamento dessa indústria. Ao final do primeiro semestre, os parcelamentos representavam 50,1%, um avanço de dez pontos percentuais nos últimos cinco anos.

Segundo o estudo ‘A Evolução do Cartão no Acesso ao Crédito', divulgado na última quarta-feira, essa expansão é justificada pela maior segurança nessas operações, aumento do número de estabelecimentos credenciados e prazos de pagamento.

"Esse percentual indica que o aumento do consumo veio acompanhado de maior planejamento financeiro. A possibilidade de compra parcelada sem juros permite o consumo de bens de maior valor, contribuindo para manter o mercado e a produção aquecidos, e mantendo as contas pessoais mais equilibradas", afirma Fernando Chacon, diretor de Marketing do Banco Itaú.

O crescimento do uso do cartão de crédito, conforme Chacon, é explicado também pela substituição do cheque. Em 1994, as transações com cartões representavam 0,5% do volume de cheques compensados. Em 2008, a expectativa é que a inversão ocorrida em 2006 seja intensificada e, ao final do ano, a indústria contabilize 2,9 bilhões de transações com cartão contra 1,4 bilhão de cheques compensados.

A Itaucard acredita que o faturamento dos cartões de crédito em julho chegará a R$ 18,5 bilhões, um crescimento de 23,5% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado. Ao todo, serão 235 milhões de transações com o tíquete médio de R$ 78,80, valor 5,9% maior que o registrado em julho de 2007.

"O aumento do volume de compras parceladas, cujos tíquetes médios são consideravelmente maiores do que nas compras à vista, pode ser apontado como um dos responsáveis por essa diferença na curva histórica de queda do índice", afirmou Chacon.

No acumulado do ano, o faturamento da indústria de cartões é de R$ 120,7 bilhões, o que indica o crescimento de 23,2% em relação a igual período de 2007.




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