Economia Titulo Gás
Expansão da Quattor corre risco
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
04/07/2008 | 07:18
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A limitação no fornecimento do gás natural, pela Comgás, poderá criar impactos em cadeia, que vai refletir no projeto de ampliação da unidade da Quattor na região, localizada no Pólo Petroquímico do Grande ABC.

Isso porque a ampliação da empresa está baseada na obtenção de gás residual de refinaria, que será fornecido pela Petrobras e servirá para o uso no processo produtivo (para a produção, por exemplo, de eteno, carro-chefe da companhia petroquímica, com aplicações em diversos segmentos industriais).

Para esse fornecimento pela estatal do petróleo, a Quattor constrói linhas de dutos unindo a empresa a duas refinarias - a Recap, de Mauá, e a Revap, em São José dos Campos -, que vão deixar de queimar gás residual (que sobra no processo de refino) como combustível e passar a utilizar o gás natural para essa finalidade.

"Se faltar o gás natural, também faltará o de refinaria e aí teremos problemas", afirmou o diretor industrial da Quattor, Roger Kirst.

A questão é crítica, sobretudo porque o consumo de gás natural no País está em alta. Cresceu de janeiro a maio 28% em relação ao mesmo período de 2007, segundo dados da Abegás (Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Natural). Um dos principais responsáveis por esse impulso foi o setor industrial, que representa 54% de todo o consumo nacional.

Segundo o presidente-executivo da Abrace (cujas empresas associadas representam 40% do consumo industrial), Ricardo Lima, quando havia folga na oferta, há alguns anos, o governo federal incentivou a demanda pela indústria e pelos proprietários de veículos e chegou a congelar o preço do gás,

Estima-se que a normalização do abastecimento não virá antes de 2010, quando a Petrobras deverá iniciar a exploração de campos de gás na Bacia de Santos.

Comércio sofre com altas do insumo

O problema do abastecimento do gás natural, somado às altas de preços desse insumo neste ano, impacta não apenas indústrias, mas também o comércio dos sete municípios.

Muitas padarias da região, por exemplo, que após o período do apagão de energia elétrica (em 2001) - quando algumas regiões do País ficaram sem energia - foram estimuladas a adotar o gás natural, estão neste ano retornando ao uso de eletricidade e até mesmo voltando a adotar fornos a lenha, segundo o presidente do Sindipan ABC (Sindicato da Indústria da Panificação do Grande ABC), Antonio Carlos Henriques.

O dirigente estima que nos últimos meses há pelo menos 10% do total de 900 padarias na região fazendo reformas para "sair" do gás. "Há uma debandada geral", disse.

Henriques relata ainda que a decisão de adotar outra fonte energética não é só pela restrição na disponibilidade do insumo imposta pela Comgás, mas também devido aos reajustes praticados pela concessionária neste ano. "O gás aumentou muito, o que inviabiliza sua utilização", disse.

Segundo dados fornecidos pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), na média, o aumento neste ano para o setor empresarial chega a 35%. "As empresas têm dificuldade de repassar isso", afirmou o diretor-titular do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto.

Henriques relata ainda que, com os reajustes, o gás natural ficou com custo praticamente equivalente ao da energia elétrica, o que dá vantagem para essa última matriz.

"A energia elétrica permite melhores condições técnicos no processo de panificação", disse o dirigente do Sindipan.




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