Economia Titulo No exterior
Exportações da região enfrentam efeito cambial
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
08/06/2008 | 07:21
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Ao mesmo tempo em que há muitas empresas do Grande ABC deixando de vender ao Exterior, em conseqüência da queda do dólar - que reduz os ganhos em reais nas exportações -, há companhias da região que conseguem manter e até ampliar encomendas para outros países, com produtos diferenciados e atenção redobrada com os custos.

Os dados da balança comercial da região mostram que, apesar da desvalorização de 45% em cinco anos - em maio de 2004, a cotação do dólar estava em R$ 3,10 e em maio último alcançou 1,66 -, as exportações no Grande ABC se mantêm em alta. Neste ano, as vendas externas dos sete municípios cresceram 15% no primeiro quadrimestre.

"O impacto (do efeito cambial) varia, seja pelo peso do mercado externo nos resultados, seja pelo maior ou menor grau de concorrência no Exterior, e também pela estrutura de custos das empresas", avalia o coordenador do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade de São Caetano), Francisco Funcia.

A BridgestoneFirestone, com sede em Santo André, por exemplo, tem mantido o volume de exportação - 25% de seu faturamento, que foi de cerca de US$ 1 bilhão no ano passado - mesmo com o câmbio em queda. "Mantemos os contratos, que são intercompany (com outras subsidiárias do grupo mundial)", afirmou o diretor de Assuntos Corporativos, Raul Vianna.

Parte da perda cambial da companhia teria sido compensada com o aumento da importação de borracha. Números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, em Santo André, a aquisição, em outros países, desse insumo básico para a produção de pneus cresceu no início deste ano mais de 40% frente a igual período de 2007.

Outra fabricante da região, a TRW também tem mantido os contratos, embora com dificuldade. "Há todo um processo para recomposição de custos, o que não é fácil, em função do câmbio", admite o diretor de Supply Chain e Finanças, Luís Fernando Vieira.

As exportações da companhia, que tem fábrica em Santo André, já representaram um terço do faturamento total e atualmente são apenas 15%, já que não é possível manter a competitividade para o fechamento de novas encomendas.

"Temos contratos feitos há mais de três anos com o dólar a R$ 3,10, que mantemos. É o risco do negócio", afirmou.

Para compensar as perdas no Exterior, a fabricante de sistemas de freios e conjunto de direção, além de procurar reduzir despesas, tem ampliado a parcela de componentes importados.

Neste ano, chega a 12% das peças, alta de 20% frente ao ano passado. A ampliação poderia ter sido maior se não houvesse a necessidade de validar (certificar) as autopeças adquiridas de seus fornecedores.

Fabricante de móveis abre loja nos EUA

Um exemplo que ilustra a situação contrastante de desempenho das fabricantes do Grande ABC no Exterior é a da Segatto, indústria de móveis de Diadema.

A companhia, que faz mobiliário de alto padrão, está abrindo a primeira loja fora do Brasil, em Nova York, com a expectativa de obter um faturamento mensal da ordem de US$ 350 mil por mês. Depois da consolidação dessa unidade, a meta é estar presente em outras cidades dos EUA, como Miami, Los Angeles, Washington e Chicago.

Segundo o diretor João Segatto, a questão cambial evidentemente atrapalha. "Mas acredito que iniciar um negócio em um momento desses é uma oportunidade de se consolidar no futuro, pois a grande maioria abre mão de mercados conquistados numa hora como essa, que não é eterna", disse.

O objetivo da fabricante é que o mercado internacional em 2010 represente de 30% a 40% do volume de vendas da empresa.

Saída - A MGM Mecânica Geral e Máquinas, fabricante de máquinas para o corte de mármore com sede em São Bernardo, seguiu o movimento inverso, deixando de exportar há pouco tempo. "Estamos fora, o câmbio não permitiu que continuássemos", disse o presidente da empresa, Mário Bernardini.

Segundo o executivo, além de perder espaço no Exterior, a oscilação cambial também já provoca a perda de negócios no País, em função da concorrência com máquinas importadas. "As máquinas nacionais há dois anos tinham 55% do mercado doméstico e hoje têm 49%, apesar do aumento dos investimentos feitos pelas indústrias brasileiras", afirmou.

Alta do juro estimula ingresso de dólares e deprecia moeda

A segunda alta consecutiva da Selic (taxa básica de juros), que subiu a 12,25% na última semana, poderá trazer para o País mais recursos de especuladores estrangeiros, e provocar uma queda ainda maior do dólar frente ao real, segundo analistas.
A perspectiva é preocupante, na avaliação do coordenador do Observatório Econômico de Santo André, Antônio Carlos Schifino, já que pode ser ainda mais difícil executar os planos de exportação das companhias da região.

O secretário-executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Fausto Cestari, adverte que a situação preocupa especialmente as pequenas empresas, entre elas as de autopeças, que têm mais dificuldades para se proteger da variação cambial. "E o impacto (do câmbio) está sendo agravado pelo aumento substancial das commodities, como ferro gusa e aço, que em 90 dias tiveram aumento real de 20% a 25%", afirmou.

Apesar do cenário, muitos executivos procuram manter o otimismo. "Deve reverter em algum momento (a queda do dólar), e quem manteve os contratos (de encomendas ao Exterior) será recompensado", disse o diretor da TRW Luís Fernando Vieira.




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