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Consórcio vira 'poupança programada'

Durante muito tempo, a modalidade serviu como forma de escapar das abusivas taxas do crédito parcelado

Marcelo de Paula
Do Diário do Grande ABC
19/05/2008 | 07:52
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Os consórcios de veículos recuperaram um antigo perfil de consumidor: os adeptos do consumo planejado. Durante muito tempo, a modalidade serviu como forma de escapar das abusivas taxas do crédito parcelado. Hoje, diante de um novo cenário econômico, de taxas de juros mais baixas e alongamento dos prazos, que favoreceu a venda financiada, os consórcios retornaram a sua missão original, de servir como um autofinanciamento para a aquisição do carro zero quilômetro - ou outros bens, como imóveis e eletroeletrônicos -, sem estourar o orçamento ou abrir mão da reserva financeira para emergências.

"Quando a pessoa começa a guardar dinheiro na poupança, tem a opção de depositar o valor que quiser a cada mês e também de sacar a qualquer momento. O consórcio, por sua vez, gera um compromisso que a obriga a pagar o carnê. Ou seja, é uma espécie de poupança programada com a finalidade de adquirir determinado bem", disse o presidente da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio), Luiz Fernando Savian.

Segundo levantamentos da Abac, 90% dos planos contratados estão concentrados em 60 meses (cinco anos). A entidade estima que 65% dos consumidores usam o consórcio para a compra de veículos populares. O restante vai para carros de valor médio.

O segmento cresceu 8% no ano passado em relação a 2006 e há expectativa de expansão em torno de 10% para este ano. O desempenho foi o menor que o obtido pelo segmento automotivo, mas é motivo de comemoração pelas empresas que atuam na área, por se tratar de um aumento sólido.

Com as facilidades do crédito, os demais segmentos cresceram mais que o consórcio. "Porém, temos clientes cativos e ainda conquistamos um pouco mais. Se compararmos com o crescimento do leasing, por exemplo, nossa expansão não é tão expressiva. Mas, há uma diferença importante: eles optaram pelo consórcio de forma consciente, planejada, ao contrário de outras formas de financiamento, nas quais o consumidor se move pela emoção", afirma Savian.

Sem juros - No consórcio não há juros. O ganho das empresas está na taxa administrativa, que atualmente equivale, em média, a 14% do valor total do veículo. Um carro de R$ 30 mil sairia por R$ 34,2 mil, com prestações de R$ 570 ao mês, para um plano de 60 parcelas (cinco anos).

Essa mensalidade pode ser acrescida de um valor conhecido como fundo de reserva, que varia conforme a administradora, mas pode corresponder à metade da taxa de administração.

O fundo é usado para garantir o funcionamento do grupo em determinadas situações, por exemplo, quando um ou mais participantes tiverem dificuldades para continuar pagando. Mas esse recurso, que deve estar devidamente estipulado no contrato, vem sendo substituído por um seguro, também diluído nas prestações.

O setor de consórcio como um todo - envolvendo imóveis, carros, motos e eletroeletrônicos - movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano no Brasil, de acordo com a Abac. São 3,5 milhões de consorciados ativos (entre contemplados e não-contemplados), sendo 2,8 milhões somente no segmento de veículos automotores (automóveis e comerciais leves e motocicletas).

Professora já comprou três carros pelo sistema

A professora de inglês e tradutora, Emília Mercaldi, é um exemplo de consumidora que adotou o consórcio para comprar carros de forma planejada. Residente na Vila Mariana, em São Paulo, ela se diz bastante satisfeita com a economia obtida e que já adquiriu três veículos com essa modalidade e financiamento.

"Minha primeira participação em consórcio foi em 1998. Ingressei no plano e fui tirar carta. Logo na primeira parcela, eu dei um lance e peguei o carro, um Corsa Hatch, mas fiquei pagando o consórcio até o final de 2001", conta Emília.

Assim que terminou de pagar, a professora entrou num novo plano e, em setembro de 2003, deu outro lance para pegar seu segundo zero quilômetro, desta vez um Corsa Classic. "Como o lance foi bom, em maio de 2004 eu já havia quitado tudo".

Na terceira vez, Emília até estudou a possibilidade de entrar em um financiamento, mas desistiu depois de fazer as contas. Segundo a professora, mesmo dando seu automóvel como entrada, ela ainda ficaria devendo R$ 15 mil, valor que, com os juros do financiamento, saltaria para cerca de R$ 21 mil.

"Era uma diferença muito grande, de R$ 6.000. Pelo consórcio, gastei apenas R$ 2.000 a mais. Não tive dúvidas, entrei no sistema pela terceira vez", contou, deixando claro que vai continuar a trocar de carro dessa forma.

Liderança feminina - Pesquisa encomendada pela Abac mostra que 53% dos consorciados brasileiros são do sexo feminino e têm idade entre 25 e 44 anos.

O levantamento aponta também que a maior parte dos consumidores é das classes B (30%) e C (45%) e cerca de 75% são economicamente ativos.




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