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Confortável no passado

Na pele alva de Laura, em Ciranda de Pedra, da Globo, Ana Paula Arósio volta a fazer histórias de época

Mariana Trigo
Da TV Press
18/05/2008 | 08:00
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Na pele alva de Laura, em Ciranda de Pedra, da Globo, Ana Paula Arósio volta à sua posição mais confortável na dramaturgia: histórias de época em composição com prosódia e gestuais antigos. Numa fase profissional mais madura e prestes a completar 33 anos, a atriz, que começou a carreira estampando capas de revistas de moda, se orgulha de ter feito uma trajetória pontuada por diversas protagonistas na TV. “Sou apaixonada por história e isso se reflete nas minhas personagens. Gosto do rebuscamento e do cuidado que precisamos ter com esse tipo de composição”, afirma.

Na trama de Alcides Nogueira, Laura casou-se muito cedo com Natércio, papel de Daniel Dantas. Dessa união, nasceram Bruna e Otávia, de Anna Sophia Folch e Ariella Massoti, respectivamente. Mas Laura apaixonou-se pelo neurologista Daniel quando teve de começar um tratamento psiquiátrico. Deste caso extraconjugal, nasceu Virgínia, de Tammy Di Calafiori. A menina foi criada como filha legítima de Natércio e o personagem fez um pacto com a mulher e Daniel para que a traição não resultasse em escândalo. No entanto, com o tempo e a piora do estado psicológico de Laura, a personagem decidirá ir morar com o amante.

De todas as suas personagens de época, a Laura é a única que se comporta como uma mulher antiga. Como você avalia a personagem?

ANA PAULA ARÓSIO – Realmente ela é a única verdadeiramente de época entre as outras. Não é uma mulher à frente de seu tempo nem quer ser livre ou virar uma libertadora feminista. Seu único desejo é ficar com o homem que ama e as três filhas. Isso parece tão simples, mas é difícil para ela, que é presa aos grilhões da época. Minhas outras personagens eram mais fortes, questionavam os costumes e a moral da época em que viviam. A Laura não questiona nada, ela não é reativa.

A que você atribui ter feito dez personagens de época na TV e apenas uma contemporânea, em Páginas da Vida?

ANA PAULA – Gosto da obrigação de estudar história para esses personagens. Me divirto estudando os costumes de época. Aprecio o cuidado que a gente tem de ter nessas produções e até de não poder ficar relaxada em cena. Outro dia fiz uma cena em que sentei e cruzei as pernas. Tivemos de fazer de novo porque não se cruzava as pernas daquela forma. Esse gestual vem com o figurino também. Os trabalhos de época têm me favorecido, têm me destacado. Isso é estimulante.

Em Um Só Coração você interpretou a Yolanda Penteado, que também era uma personagem ligada à arte e que tinha São Paulo como pano de fundo. Essa composição teve semelhanças a este trabalho?

ANA PAULA ARÓSIO – Existem paralelos, como o amor de ambas pela arte. Não precisei me aprofundar em técnicas de pintura ou ler muito sobre artistas plásticos. Foi mais suave. Sinto que já sei como fazer uma personagem assim, então a pesquisa é mais sutil. Estudei um pouco o trabalho da artista plástica Ana Durães, que fez minha preparação para a novela porque a Laura gosta de pintar. Boa parte do subconsciente dela é impresso nas suas telas. Tive cuidado para não fazer uma louca, mas uma mulher que é levada à loucura por situações extremas, por torturas psicológicas.

Que pesquisas você fez para dar credibilidade à insanidade da personagem?

ANA PAULA – Esse é um caminho difícil porque naquela época a psiquiatria não era tão avançada. Acredito que a Laura tenha começado a ter um desequilíbrio emocional grande. Por ser incompreendida e não ter um tratamento adequado na época, isso vai se agravando. Tenho poucos dados do que ela realmente teria. Mas com certeza, se agravou com a possessividade do marido, por ela ficar encarcerada em sua própria casa. Também pesquisei sobre relações entre mães e filhas.

Como tem sido interpretar uma mãe de três moças?

ANA PAULA – Olha, por enquanto não consigo me imaginar com filhos. Nem penso nisso. É bom ser mãe assim, de filhas crescidas, vacinadas, que já entendem o que eu falo. Mas naquela época era normal uma mulher de 30 e poucos anos já ter filhas grandes. Ela deve ter casado com uns 15 anos. Seria plausível que tivesse uma filha de 20. O estranho, na verdade, é que essas três meninas ainda estão encalhadas (risos). Tem de botar esse povo para casar!

No livro Ciranda de Pedra, da Lygia Fagundes Telles, que inspirou a novela, a Laura morre na história. Já está prevista a morte da personagem na trama?

ANA PAULA – Pois é... O Alcides (Nogueira) me falou que está com dó de me matar. No começo, ficaria 50 capítulos. Agora já são 80. Se ela morrer, também é bem capaz de voltar. Virou moda fantasmas em novelas. Mas no livro da Lygia, Laura é morta por André, que pratica a eutanásia pelo estado avançado da doença da Laura. Em seguida, ele se mata. Não sei como o Alcides vai resolver. Acho que ele desistiu de me matar (risos).

É a primeira vez que você atua numa novela das seis, faixa que está numa curva declinante na audiência. Isso preocupa você?

ANA PAULA – Não. Acho que, hoje em dia, as pessoas ainda estão muito ocupadas nesse horário, nem chegaram em casa ainda para assistir TV. Acho natural que a audiência tenha diminuído. Também não faz diferença para mim estar numa novela das seis ou no horário nobre. Gosto mesmo é de viver essas mulheres bem dramáticas. Quanto piores elas são, mais eu adoro.

Você sempre viveu personagens muito fortes na TV, como a Hilda Furacão. Por que você costuma ser escalada para interpretar mulheres tão densas?

ANA PAULA – Tenho muita sorte na TV. Não só de pensarem em mim para as protagonistas, mas de também estar disponível nestes momentos. Consegui conquistar a confiança de muitos diretores e autores desde que cheguei na Globo, em Hilda Furacão, minha primeira trama na emissora.

Você nunca fez comédia na TV, a não ser em uma breve participação em Os Normais. Por quê?

ANA PAULA – Acho que me preferem no drama. Não querem arriscar um papel cômico comigo. Mas tenho vontade de fazer. Não sei se eu daria conta. Vai ver que é por isso que não arriscam em mim para personagens engraçadas. Devem pensar: ‘Deixa a fofa chorando que está bom!’ (risos).

Em 2009 você completa 15 anos de carreira na TV, desde que estreou no SBT como a Amanda, em Éramos Seis. Você tinha acabado de deixar a carreira de modelo para investir na atuação. O que você destaca nessa trajetória na TV?

ANA PAULA – Quinze anos? Daqui a pouco me aposento (risos). Na verdade, tenho 21 anos de carreira, desde que comecei a trabalhar como modelo. Tive trabalhos impactantes na TV. Mas foi na minha estréia, em Éramos Seis, que me senti acolhida nessa carreira. Toda a equipe sabia que eu tinha vindo da moda e me apoiou, sem preconceitos.

Ana Paula não dá sorte fora da TV

Ana Paula Arósio assume que nunca viveu em lua-de-mel com o teatro nem com o cinema. Apesar de ter feito peças como Fedra, dirigida por Antônio Abujamra, e Casa de Bonecas, com Aderbal Freire-Filho, a atriz assegura que há tempos tenta estrear trabalhos no teatro sem sucesso.

“Sempre que monto uma equipe e começo a leitura de uma peça, alguém aparece e faz primeiro a mesma montagem. Já estou até com medo de começar alguma coisa. Precisam largar do meu pé.”

No cinema, além de atuar como a divertida Prima Esmeraldina no longa O Coronel e o Lobisomem, produzido por Guel Arraes e dirigido por Maurício Farias, a atriz fez apenas duas outras participações na telona.

A primeira foi no início de sua carreira, quando viveu a Berenice no filme ítalo-brasileiro Per Sempre, de Whalter Hugo Khouri, em 1991. Seu outro longa, Celeste & Estrela, em que interpretava a recepcionista Salete, foi um fracasso de bilheteria. Mesmo assim, ganhou seis prêmios, dentre eles, Ana Paula conquistou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Cinema de Varginha.

“Não dou sorte com cinema. Quando faço projetos grandes, o diretor foge com o dinheiro ou os projetos desandam. Um dia eu consigo.”

De todas as mocinhas fortes e destemidas de Ana Paula Arósio na TV, foi sua estréia em uma novela na Globo que mais marcou a atriz. Em Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa, a atriz interpretou sua primeira protagonista em novelas: Giuliana.

A filha de imigrantes italianos, que trabalhavam nas fazendas de café do interior de São Paulo, comoveu a atriz pela semelhança com a história de seus antepassados. “E tive uma química ótima em cena com o Thiago Lacerda, que viveu o Matteo. Até hoje as pessoas lembram do casal", anima-se.




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