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Samcil ensaia expansão e retorno à Bolsa
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
30/04/2008 | 07:07
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Primeira empresa de planos de saúde do País - criada em 1960 -, a Samcil ensaia a maior guinada comercial na história da rede. Em uma ação conjunta, a operadora pretende fortalecer sua atuação no Grande ABC e reabrir capital na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), assim como nos anos 70. A intenção é captar recursos no mercado acionário para turbinar a marca frente ao acirramento da concorrência no segmento de saúde no Brasil. A consultoria norte-americana Ernst Young já realiza uma auditoria interna para sugerir prazos e cifras, conforme exigência da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Estima-se que o patrimônio do grupo esteja na casa dos R$ 300 milhões.

A estratégia de expansão da Samcil terá o Grande ABC como ponto de partida. O prédio do antigo Hospital Jardim, em Santo André, será demolido nos próximos três meses para dar lugar a um novo conceito de empreendimento médico. Trata-se de um modelo que reúne, em um único espaço, lojas voltadas à área de saúde, laboratórios e clínicas médicas. O investimento total na região chega a cerca de R$ 16 milhões, incluídas reformas ou aparelhamento dos hospitais Baeta Neves e do Pronto Atendimento, em São Bernardo, além dos valores reservados para publicidade - a Samcil é uma das patrocinadoras das equipes do Santo André e do São Bernardo. "É um modo de agradecer à região que nos projetou há quase 50 anos. Um retorno às origens", justifica o presidente da empresa, Luiz Roberto Silveira Pinto.

Em entrevista ao Diário, o executivo, de 72 anos, detalha os planos de expansão da empresa, o fortalecimento da rede e o aprimoramento dos serviços voltados ao público-alvo: os trabalhadores das classes C e D. Atualmente, a Samcil possui dez hospitais próprios, 51 centros especializados, 17 unidades de Pronto Atendimento, 2.500 médicos credenciados e carteira de 750 mil segurados. Muito? Não. O presidente do grupo afirma que o mercado tem espaço para muito mais.

DIÁRIO - O Grande ABC será o pivô da estratégia de fortalecimento da Samcil na Região Metropolitana da Capital. Por que?

LUZ ROBERTO SILVEIRA PINTO - Temos um compromisso antigo na região. Nascemos (a empresa) em São Bernardo, crescemos muito com o apoio das indústrias automotivas. Por isso, nada mais justo do que iniciar o processo de fortalecimento a partir do Grande ABC, estendendo para as demais cidades, como Osasco.

DIÁRIO - Atualmente, a Samcil mira os consumidores das classes C e D. Esse foco será alterado?

PINTO - Não. Sempre buscamos fortalecer os serviços a esse público. O foco será mantido, mas queremos também abrir o leque e atrair segurados de maior renda. Para esse público, criamos a empresa Lumina, que dá ao segurado a liberdade na escolha do hospital e do médico, além, é claro, de toda nossa rede própria.

DIÁRIO - Como o Grande ABC ainda possui grande concentração de empresas, a Samcil pretende reforçar os planos corporativos?

PINTO - A nossa carteira de clientes (cerca de 750 mil segurados) é composta de 50% de planos empresariais e 50% de pessoas físicas. Queremos, sim, nos aproximar das grandes e médias empresas, inclusive já estamos em negociação com várias delas na região, mas também vamos trabalhar para captar clientes individuais.

DIÁRIO - ‘Gigantes' da região já foram clientes da Samcil? 

PINTO - Quando manter um plano de saúde ainda não era uma prioridade no orçamento das famílias, já tínhamos como clientes empresas importantes como Volkswagen, Mercedes-Benz, Philips e Coop. Em algumas, tínhamos contratos exclusivos.

  

DIÁRIO - Além dos cerca de R$ 16 milhões previstos na construção do centro médico em Santo André, a Samcil pretende investir outros recursos nas sete cidades?

PINTO - Sim. Estamos cobrando na Justiça uma dívida de R$ 100 milhões que a Avimed tem conosco em pagamento de royalties sobre a carteira. Essa dívida foi contraída pela Saúde ABC, mas passou à Avimed quando a empresa assumiu o controle da extinta marca. Por isso, os investimentos dependerão também do andamento do processo.

DIÁRIO - E a Bolsa?

PINTO - Estamos em fase de estudos, mas devemos voltar ao mercado de ações ainda este ano. No mais tardar, em 2009. Não temos pressa, mas queremos aproveitar o bom momento das Bolsas, mesmo com as turbulências causadas pela recente crise de crédito nos Estados Unidos.

DIÁRIO - O setor de ações não será uma novidade à Samcil, não é?

PINTO - Não. Em 1971, decidi lançar a Samcil na Bovespa. Fomos a primeira empresa da área a ingressar no setor de ações, um negócio extremamente arriscado na visão de especialistas naquela época. Mas, no início, deu tudo certo. Graças aos recursos captados na Bolsa, a Samcil ganhou o maior impulso na história da empresa. Aquele dinheiro permitiu que estruturássemos toda a empresa, expandíssemos a rede própria e posicionássemos a marca em uma fase de grandes transformações ocorridas no País.

DIÁRIO - Então, por que saiu?

PINTO - Entre o final de 1974 e o início de 1975, a Bolsa despencou. As ações já não valiam quase nada e ninguém se interessava em investir. Como aparentemente não valia a pena insistir, decidi recomprar as ações e pedi fechamento de capital, em 1983.

 DIÁRIO - Não ficou o trauma?

PINTO - Trauma, não. Era outra época, havia um cenário diferente. O ambiente atual sugere o retorno ao mercado de ações. Queremos repetir, com mais força desta vez, o sucesso obtido nos anos 70. Sem dúvida, temos tudo para conseguir isso.

DIÁRIO - A Samcil é patrocinadora das equipes do Santo André e do São Bernardo. Investir em futebol é uma estratégia para fortalecer a presença no Grande ABC ou faz parte de uma vontade própria?

PINTO - As duas coisas. Particularmente, gosto de futebol, embora não acompanhe como torcedor assíduo. Sabemos - e apostamos - que a nossa marca estampada nos dois importantes clubes da região fará da Samcil um sinônimo de símbolo forte no Grande ABC. Além disso, queremos nos aproximar das duas torcidas, vinculando a nossa bandeira à evolução de ambos os times.

DIÁRIO - A Samcil tem um vínculo histórico no esporte?

PINTO - Não diria vínculo, mas uma grande afinidade. Um dos responsáveis pelo surgimento da Samcil, o primeiro cliente da empresa, foi o empresário, advogado e jornalista Paulo Machado de Carvalho, que hoje dá nome ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Ele foi dirigente do São Paulo e chefe da delegação brasileira na conquista do Mundial na Suécia-58.

DIÁRIO - De que maneira ele ajudou a Samcil?

PINTO - Paulo apostou em mim, um jovem recém-formado em medicina que propunha algo inédito no País: planos de saúde. Ele assinou um contrato para oferecer convênio médico aos funcionários do grupo, que incluía TV e Rádio Record, rádios Excelsior, São Paulo, Panamericana (Jovem Pan) AM e Panamericana (Jovem Pan) FM. Que ajuda!




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