Economia Titulo Finanças pessoais
Catador de S.Bernardo tem poupança para filhos

Com salário de R$ 900, ele organiza sua vida de acordo com a renda
e possui casa e carro quitados

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
11/02/2013 | 07:25
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O catador de papelão Edmilson Sousa de Oliveira tem marcado em sua história várias conquistas que o credenciam a mostrar como é possível administrar a vida financeira mesmo com renda baixa, tendo em vista que ele é o único que leva dinheiro para casa, cerca de R$ 900 por mês. Ele está incluído no Sistema Financeiro Nacional, tem uma casa e um carro financiado com facilidade, detalha.

Na avaliação do professor de Economia Sandro Maskio, da Universidade Metodista de São Paulo, Oliveira aplica os dois ingredientes que sustentam uma boa receita para viver sem enfrentar muitas dificuldades quando o assunto é dinheiro. "Ele tem muita disciplina, e a sua família também. Outro ponto é que ele consegue estabelecer um padrão de vida de acordo com o seu orçamento, sem contar que ele programa muito bem a renda", opina.

Entre as vitórias de Oliveira, como ele mesmo diz, estão seus dois filhos, um com 9 anos e outro com 11, que crescem "fortes, saudáveis e com estudo", tudo por causa da sua "mina de ouro", as calçadas do Centro de São Bernardo, nas quais ele encontra papelão.

Ele calcula que seu faturamento mensal atinge, em média, R$ 900. Dinheiro suficiente, segundo ele, para realizar todos os desejos até o momento. Além de ter uma casa, simples, como ele mesmo avalia, conseguiu realizar um dos sonhos de consumo da maioria das pessoas: comprou um carro. "Esse eu já paguei. Fiz um financiamento para comprar um carrinho usado. Foram 60 vezes. Mas não tive que me apertar, deu tudo certo", lembra Oliveira.

Além de ter alguns bens que muitas famílias ainda batalham para conseguir, o catador revela que sua administração financeira ultrapassa a média da população. Além do acesso ao crédito por meio de cartão, está pensando no futuro dos filhos. "Abri uma conta poupança para eles e deposito um dinheirinho todos os meses." E não para por aí. Oliveira diz que o seu próximo passo, caso os seus filhos não consigam ingressar no Ensino Superior público, é pagar boas faculdades para eles.

BATALHA - Todos os dias, Oliveira circula pela Rua Marechal Deodoro, e pelas vias próximas, após as lojas fecharem as portas. A grande movimentação das calçadas, bem conhecidas por quem passa por lá em horário comercial, dá lugar, em dias de chuva, a guias molhadas que refletem a iluminação dos postes. E é nesse momento em que Oliveira inicia sua batalha. Os estabelecimentos, normalmente, deixam várias caixas de papelão e outros resíduos, que antes embalavam os produtos expostos nas vitrines e prateleiras, ao lado dos postes das vias municipais.

Há 14 anos, Sousa coleta tudo o que é possível reciclar com características de papel e papelão. "É um ofício que aprendi com o meu pai. Não sei bem, mas ele faz a mesma coisa há 30 ou 40 anos", explica o catador. Carregar esse resíduo para casa parece fácil, tendo em vista que o peso de uma caixa deste material é normalmente bem leve. Mas para Oliveira, pode se tornar uma luta. Em média, ele coleta diariamente uma tonelada de papelão.

Atualmente, o catador não conta com parceria de cooperativa de reciclagem. Junto aos seus parentes, ele recicla o material. Só então que a matéria-prima é vendida para outras empresas, que pagam cerca de R$ 0,20 por quilo. Sem esconder a ironia, Oliveira revela que recebe a menor parte de todo o trabalho. "Eu sou o mais novo neste negócio. Meu pai e irmãos, que estão há mais tempo, ficam com a maior parte. Mas estou feliz com o que ganho", explica.

 

 




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