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BC decide manter
Selic em 11% ao ano

Determinação indica maior preocupação com
a inflação do que com o crescimento do Brasil

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
04/09/2014 | 07:17
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Divulgação


Pela quarta reunião consecutiva do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC (Banco Central) decidiu que a taxa básica de juros nacional, a Selic, ficará em 11% ao ano. Em encontro da diretoria que encerrou ontem, por volta das 19h40, as opiniões foram unânimes para que não houvesse alteração no percentual.

O mercado financeiro já previa essa decisão há algum tempo, conforme mostrou o boletim Focus. Este documento reúne as estimativas de economistas e analistas de várias instituições financeiras e empresas de pesquisas econômicas.

“Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11%”, informou ontem o BC.

A postura do Banco Central tem se mostrado, há algum tempo, como de preocupação com a inflação nacional. E, ao mesmo tempo, há uma aceitação de que o crescimento econômico do País não será acentuado, avaliou o diretor de estudos financeiros da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro de Oliveira.

“Talvez esse seja o caminho certo, tendo em vista que a inflação pode gerar problemas econômicos no futuro”, observou Oliveira.

Para a Fecomercio-SP, “a manutenção da Selic em 11% foi possível porque o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) está com crescimento tímido (0,01% em julho) e, agora, acumula alta de 6,50% em 12 meses, pouco abaixo dos 6,52% fechados em junho”. Isso, segundo a entidade, permite ao BC “trabalhar com menos pressão, e posterga, ao menos por enquanto, a necessidade de elevação dos juros”.

Na teoria, quanto mais o BC eleva a Selic, mais faz com que a demanda por crédito no País tenha uma desaceleração. Com esse resfriamento nos empréstimos, automaticamente o consumo também tende a diminuir. Se o interesse pelas compras é menor, não há espaço para que o mercado em geral amplie os seus preços. Portanto, tem-se um freio na inflação.

O IPCA já beira o limite aceitável, pois 6,50% é exatamente o teto da meta de inflação do governo federal. Acima disso, a interpretação é de que a inflação está em patamar prejudicial à economia.

O IPCA referente a agosto será publicado na sexta-feira. Mas a prévia, o IPCA-15, divulgado no mês passado, mostrou desaceleração em relação ao acumulado em 12 meses de julho, com 6,49%.

Em relação ao crescimento da economia, o boletim Focus mostrou que o mercado financeiro está mais pessimista. Há semanas tem apresentado reduções nas previsões, tanto que, na segunda-feira, o registro foi de que o PIB (Produto Interno Bruto) deverá aumentar, neste ano, 0,52%. Uma semana antes, a expectativa era de 0,70%.

A diminuição foi motivada pela divulgação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na semana passada, de que o PIB do segundo trimestre encolheu 0,6% em relação aos primeiros três meses do ano e 0,9% ante o mesmo período do ano anterior.

Entidades estão insatisfeitas com juros

Após a decisão do BC (Banco Central) em manter a taxa Selic em 11% ao ano – mesmo percentual desde abril – entidades se manifestam contrárias e afirmam que era necessário estimular a expansão da economia do País. “Manter os juros neste patamar é piorar ainda mais a crise, principalmente no setor produtivo. Não podemos ser competitivos nesse modelo, que tira qualquer possibilidade de crescimento, e que, agora, atinge os setores de serviço e comércio”, observou o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone.

O presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho, disse que “independentemente da manutenção ou das pequenas variações da Selic que têm sido anunciadas ao longo de 2014, o patamar atual é muito elevado”. Acrescentou ainda que “o alto preço do dinheiro é inimigo do aporte de capital em empreendimentos produtivos”.

O presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Carlos Cordeiro, afirmou que gostaria de ver a taxa básica de juros mais baixa. “Manter a Selic nesse patamar elevado, no momento em que a inflação está próxima de zero (0,01% na variação mensal de julho) e o PIB não sai do lugar, é frear o crescimento econômico e apostar na recessão, o que terá consequências desastrosas para o País e para os trabalhadores, trazendo de volta o fantasma do desemprego e de redução da massa salarial.”

Para a ACSP (Associação Comercial de São Paulo), era necessária alteração. “A decisão do Copom de manter inalterada a Selic não surpreendeu, mas acreditamos que haveria espaço para redução moderada da taxa, considerando o baixo nível das atividades econômicas”, opinou a entidade.
 




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