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Calhambeques 'adrenalinados'
Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
23/01/2013 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


"São verdadeiras cadeiras elétricas!" Assim, com um sorriso no rosto e satisfação no olhar, os pilotos de testes da equipe Clássicos Caslini definem os envenenados Ford Speedster, anos 1929 e 1931. Para conhecer de perto estas máquinas - e os ‘loucos' que as levam ao limite -, o Diário participou de uma sessão de testes, até a Vila de Paranapiacaba, de olho nos últimos detalhes para a corrida de calhambeques ‘Pé na Tábua', que acontece nos dias 25, 26 e 27, em Franca (SP).

Os dois bólidos estão sendo preparados há três meses. No entanto, muito pouco foi modificado em relação ao modelo original. "Mexemos apenas no motor e adotamos rodas interissas (mais resistentes) no lugar das raiadas", explica Paulo Mondoni, gerente de oficina da Clássico Caslini, e um dos pilotos oficiais. "Na última corrida, entrei em uma curva ‘de lado' e a roda quebrou, indo parar no meio do mato. Hoje ela está lá na oficina. Virou uma espécie de troféu", lembra.

O propulsor, que originalmente tem 45 cv, recebeu injeção extra de anabolizante. "Apenas bloco, virabrequim e biela foram mantidos. Importamos um kit e fizemos os ajustes finais. Acredito que o motor esteja com, pelo menos, 70 cv", explica Jaiminho, ‘mecânico-cardiologista' responsável pelo coração dos Speedsters. Em ambos os veículos, a transmissão é manual de três velocidades.

 

RUMO A PARANAPIACABA

Carros preparados. Hora de acelerar. Saímos da sede da Clássicos Caslini - recuperadora de veículos antigos -, em Ribeirão Pires, com destino à Vila de Paranapiacaba, em Santo André. No entanto, antes, pitstop no posto da esquina. Enquanto os possantes eram abastecidos - gasolina comum mesmo, nada de aditivada -, populares munidos de celulares e cheios de curiosidade cercavam os veículos, afinal, além dos Speedsters, outros três calhambeques davam apoio.

Depois de alguns litros, um refrigerante e maços de cigarro comprados, pé no fundo! Durante todo o trajeto, a comitiva era saudada pelas pessoas. Funcionários da Prefeitura de Ribeirão, que realizavam serviços à beira da rodovia, pararam para ver os inusitados sobre rodas. Um dos trabalhadores não se conteve: "Ai é só relíquia!"

Nas retas próximas à vila inglesa - infelizmente abandonada pela administração pública -, os Speedsters empurraram o carro da equipe do Diário. O ronco dos motores transmitia a sensação de que estávamos fugindo de um enxame de abelhas africanas raivosas, ao mesmo tempo em que o viciante cheiro de combustível queimado instigava os ‘loucos' ao volante a acelerar cada vez mais.

"Dirigir isso (calhambeques) é complicado", explica o mecânico Roberto Rodrigues de Oliveira, piloto de testes do modelo 1929. "A gente faz a curva do jeito que dá. Não existe técnica", completa Oliveira, enquanto fuça no motor em busca de mais potência.

 

VEZ DO DIÁRIO

A convite de Emílio Colonic Júnior, pintor da Clássicos e piloto de testes do Speedster 1931, o Diário rodou alguns quilômetros como copiloto, ou melhor, ‘comaluco'. E tem que ter alguns parafusos a menos para buscar o limite nestas máquinas fantásticas.

Sem cinto de segurança, o negócio é se agarrar na lateral do calhambeque. A poucos metros da primeira curva, um recado nem um pouco otimista: "O câmbio arranha, pois não é sincronizado, e o freio não funciona, olha?" A verdade é que, do jeito que deu - assim como Oliveira havia dito -, o bólido fez a curva. Sorte do gari que limpava o acostamento e, ao visualizar o calhambeque possuído se aproximando, quase pulou para trás do guard-rail.

Na volta, reclamando um pouco do rendimento, Colonic levantou o pé. O cabelo baixou, e a adrenalina também. Imagina em Franca, quando dezenas destes ‘loucos' e seus clássicos endiabrados vão se reunir para uma corrida. É caso de internação...




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