Última a entrar na internet, porém primeira a sair. Esta é a situação da rede varejista Carrefour. A empresa informou, ontem, que encerrou suas vendas on-line. Afirmou que a ação é continuidade ao plano de reestruturação iniciado há pouco mais de dois anos, quando também lançou e-commerce. E garantiu que vai honrar todas as encomendas dos clientes. Como uma forma de garantir o direito ao consumidor, o Procon de São Paulo notificou o Carrefour. Pediu que a empresa esclarecesse o fim das atividades na internet em até sete dias. Orientou ainda que os consumidores que não receberem os produtos adquiridos pelo site devem buscar a central de atendimento da varejista e, caso não resolva, buscar ajuda no órgão de defesa. Por meio de nota, o Carrefour descartou a hipótese de fechar lojas físicas nos próximos dias. Atualmente com 144 unidades no País, sendo nove delas no Grande ABC, a rede destacou que está "investindo em nova geração de hipermercados, para tornarmos nossas unidades ainda mais atrativas e adequadas ao novo mercado de consumo." Quem frequenta as lojas da empresa percebeu que as unidades passaram por mudanças na estrutura interna. Mas por outro lado, a rede fechou algumas delas no ano passado. Somando ao fim do site, que entrou no ar em 1º de março de 2010, e a crise da Europa, já que a matriz do Carrefour é francesa, surgem dúvidas sobre a saúde da empresa. CONTRA A MARÉ  Presidente do conselho do Provar/FIA/Ibevar, Claudio Felisoni de Angelo avaliou que o Carrefour segue contra a correnteza. "Não consigo enxergar uma razão para a posição da empresa." Felisoni explicou que a tendência é de as redes atuarem cada vez mais pela internet, não só como canal de vendas, mas também como meio de comunicação com o cliente. Lembrou ainda que considerando o varejo ampliado, as comercializações pela internet representam, em média, 5% do faturamento global do mercado varejistas. "Mas por outro lado, esse segmento cresce quatro vezes mais do que o físico no Brasil", destacou Felisoni. Para o consultor de varejo e coordenador dos cursos de pós-graduação da Fecap, Henrique Junior, o Carrefour passa por um reposicionamento para concentrar a atividade. "A tendência era que os resultados da internet fossem negativos. Mas é possível que tenham atingido patamares piores do que o esperado. Assim, eles deixam de lado o que não está indo bem, como também fecharam algumas lojas físicas, e pretendem concentrar as forças no que está dando melhor resultado." Na nota, a companhia afirmou que o modelo de hipermercado é a menina dos olhos para o Grupo Carrefour no mundo. E que o Brasil está enquadrado no grupo de países com maior potencial de crescimento para a companhia. MATRIZ  Porém, Junior destacou que a crise na Europa tem prejudicado muitas empresas. E é de se esperar que matrizes das companhias instaladas naquela região demandem contribuições para suas unidades espalhadas pelo mundo. "E o Carrefour pode estar passando por isso. Portanto, eles acabam concentrando as operações onde têm melhores resultados e deixam de investir nas menos interessantes." Por ser a última rede a entrar no mercado de vendas pela internet, o grupo francês enfrentou alguns concorrentes de peso, que já tinham se consolidado neste segmento. E este pode ter sido um dos fatores que estimularam a saída da rede mundial de computadores. "Além de disputar com players muito fortes, a empresa não soube explorar ao máximo a ferramenta que tinha nas mãos. Faltou um pouco mais de proximidade com o consumidor", avaliou o sócio-proprietário da consultoria de e-commerce eNext, Gabriel Lima. O Carrefour informou, ainda por nota, que atende mensalmente 25 milhões de clientes.