Economia Titulo Emprego
Cresce a presença de
negros na indústria

Na região, eles respondem por 27,2% dos trabalhadores do
setor; só 9% são empregados domésticos, segundo pesquisa

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
20/11/2012 | 07:27
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Orlando Filho/DGABC


Em busca de melhores condições de salário, há dois anos a auxiliar de produção Maria do Socorro Silva dos Santos, 47 anos, moradora da Vila Carlina, em Mauá, passou a integrar o quadro de funcionários da Metalmech, fábrica de molas, artefatos e arames do bairro Sertãozinho, a 20 minutos de sua casa. Foi quando ela abandonou o trabalho de empregada doméstica. "Geralmente se ganha um salário-mínimo, e o esforço é muito maior", conta. Maria, que tem Ensino Médio completo, entrou na metalúrgica como ajudante geral e recebia R$ 660, mas foi promovida e agora embolsa, por mês, R$ 726,40. "Quero aprender a programar e a operar as máquinas, vou ver se consigo fazer um curso", diz esperançosa. Seu trabalho atual consiste em medir o tamanho dos para-sóis de veículos produzidos pelos tais equipamentos.

Maria do Socorro integra a estatística da região, onde 27,2% dos profissionais negros ou pardos estão alocados na indústria. No início da década, eram 26,6%. O percentual de trabalhadores negros no serviço doméstico, que segue na direção oposta do crescimento, diminuiu de 11% para 9%. Os dados integram recorte da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), levantamento mensal do Seade/Dieese com base em entrevistas feitas em 600 domicílios com 2.400 pessoas. Desse total, 20% não trabalham na região.

Na Metalmech, 40% dos 50 trabalhadores são negros - e todos trabalham no chão de fábrica. Segundo o proprietário Emanuel Teixeira, a linha de produção exige escolaridade menor - é possível conseguir o emprego com apenas o 1º grau. O treinamento para execução do serviço básico, de ajudante, é oferecido na própria empresa. "A maioria dos trabalhadores do chão de fábrica é negra ou parda por conta da escolaridade. São pessoas que estudaram pouco e que moram em regiões periféricas", explica. Segundo Teixeira, existe grande rotatividade de profissionais nas funções de menor complexidade. Porém, quem continua e se qualifica conquista cargos melhores.

Isso é o que espera o jovem Paulo Alves, 23 anos, morador do Condomínio Maracanã, em Santo André que, apesar da pouca idade, é formado em auxiliar de enfermagem e trabalha há oito meses na indústria. "Mudei de área porque o trabalho aqui é melhor. Estou ganhando muita experiência", afirma o auxiliar de calibragem de processos, que hoje recebe R$ 1.032 conferindo o tamanho dos para-sóis. Na antiga profissão sua renda era de R$ 900. Dentre os pontos positivos, ele destaca horário para entrar e sair, além de não ter que trabalhar aos fins de semana. "Quero fazer curso de solda para operar máquinas, assim posso aumentar meu salário para R$ 1.200."

Na indústria, a exceção da escolaridade se dá quando o profissional possui habilidade em determinada função. É o caso do oficial moleiro da manutenção Celso Ferreira Leão, 57 anos, que há 35 desempenha a mesma atividade e tem apenas o 1º grau. O morador do Sítio dos Viana, em Santo André, confecciona molas para carros à mão e, por conta disso, conquistou salário melhor. Ele já se aposentou, mas segue trabalhando e soma ao benefício previdenciário o rendimento mensal de R$ 1.600.

Outro segmento que registrou aumento da presença de negros de 2001 até agora é o de serviços. Nas sete cidades, 41,7% são negros - no início da década a parcela era de 40,5%. O estudo não foi dividido por subsetores, porém, com base nos dados da Região Metropolitana, é possível constatar que a maioria trabalha com Educação, Saúde, limpeza, alojamentos e hotéis, alimentação e cultura.

 

Salário é 58% do valor pago aos brancos

A indústria é o setor que melhor remunera os negros, com rendimento médio por hora de R$ 7,42 (a média é de R$ 6,35), mas é onde está a maior defasagem na comparação com os salários pagos aos brancos que exercem a mesma função, porém embolsam R$ 12,80 por hora. Se um branco recebe R$ 2.000 por mês, o negro ganha R$ 1.160 - 58% da renda. Em serviços a diferença é alta também; o salário do negro equivale a 66,4% do pago a um branco. No emprego doméstico, por outro lado, é onde quase não há defasagens, já que essa proporção é de 94,7%.

Apesar do cenário, que ainda persiste em pleno século 21, a indústria tem salários melhores porque "requer mão de obra mais preparada", aponta o coordenador de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian. Ele ressalta, porém, que os rendimentos poderiam ser melhores não fosse a falta de investimento do setor e a perda de competitividade gerada pela invasão chinesa. "Os novos empregos estão menos qualificados porque o empresariado prefere importar a investir. No Brasil, os aportes chegam a 18% do PIB (Produto Interno Bruto) e, na China, a 28%."

 




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