Mesmo com apoio do torcedor, Seleção repete
o desempenho fraco e se despede com derrota
Foram dois adversários difíceis, de verdade, entre as sete partidas disputadas. E foram duas derrotas vergonhosas. O Brasil despediu-se ontem de forma melancólica da competição ao perder, desta vez para a Holanda, por 3 a 0, na disputa pelo terceiro lugar, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. O vexame dos 7 a 1 contra a Alemanha, na terça-feira, parecia ainda incomodar os jogadores, que voltaram a cometer erros básicos e a permitir que o adverário dominasse a partida desde o início. Nem o surpreendente apoio da torcida conseguiu motivar os atletas em campo. Neymar, mesmo machucado, foi ovacionado ao entrar em campo com a equipe e ficar no banco. Felipão, no entanto, foi vaiado assim que sua imagem apareceu no telão.
O primeiro gol holandês ocorreu logo aos três minutos, após marcação de pênalti em falta cometida por Thiago Silva em Robben. O atacante Van Persie bateu e marcou seu quarto gol na competição.
A defesa, ponto fraco na humilhante derrota contra os alemães, voltou a falhar e, aos 17 minutos, Daley Blind anotou o segundo tento holandês, aproveitando bola rebatida de David Luiz na pequena área.
Apesar de o restante do primeiro tempo ter sido um pouco mais equilibrado, os jogadores brasileiros não acionaram nenhuma vez o goleiro Cillessen.
Mesmo com as alterações feitas pelo técnico brasileiro, colocando em campo Fernandinho, Hernanes e depois Paulinho, o time não se encontrou na segunda etapa. O terceiro gol da equipe holandesa foi marcado nos acréscimos, por Wijnaldum, que recebeu cruzamento na pequena área.
No fim, a Holanda recebeu a premiação de terceiro lugar da Copa do Mundo sem a presença do time brasileiro em campo, que já havia ido para o vestiário. O público no estádio de Brasília reconheceu a superioridade européia e aplaudiu os atletas. Para o Brasil, restou a saída à francesa. E melancólica, sob vaias dos torcedores.
Felipão diz que vai entregar o cargo ao presidente da CBF
Nem mesmo os dez gols sofridos em apenas dois jogos parecem ter feito o treinador da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari, mudar de ideia quanto ao desempenho da equipe na competição e o vexatório quarto lugar. Para ele, o saldo é totalmente positivo. “Tivemos momentos bons na Copa do Mundo e não tenho como criticar os jogadores. Esta geração não tem nada que ficar marcada. Ganhamos a Copa das Confederações no ano passado e ficamos entre os quatro melhores do mundo”, afirmou ele. “Teve o 7 a 1, mas eles vão começar essa preparação para 2018. Agora é continuar trabalhando, cada um no seu clube.”
Ainda assim, afirmou que entregará seu pedido de demissão e de toda a comissão técnica ao presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, “Já havia combinado com ele que entregaríamos os cargos assim que acabasse a Copa, independentemente do resultado. Vamos entregar o relatório e ele vai fazer a análise que achar que deve.”
No entanto, com a derrota, a chance de Marin aceitar o pedido de demissão de Felipão é enorme. Nos bastidores, ele esperava que uma vitória ontem pudesse segurá-lo no cargo. Com o novo vexame, a permanência ficou insustentável. O anúncio oficial da saída deve ocorrer nos próximos dias.
Ainda em tom otimista e enaltecendo o trabalho que resultou no quarto lugar no torneio, Felipão garantiu que não há motivos para que ele próprio faça uma reciclagem do trabalho. “Quando ganhei a Copa das Confederações alguém veio aqui fazer reciclagem comigo? Nas três vezes que disputei o Mundo, ganhei uma vez e nas outras duas cheguei entre os quatro melhores (uma comandando a equipe de Portugal). É preciso ver o lado positivo”, falou o técnico, que interrompeu a entrevista para abraçar Neymar, que deixou o estádio antes da delegação. Apesar de acompanharem Felipão na entrevista coletiva, Murtosa e Parreira não falaram.
Português José Mourinho teria sido sondado para assumir time
Antes mesmo do vergonhoso resultado contra a Holanda no jogo de ontem, em Brasília, já começavam a aumentar as especulações de que a CBF, apesar de demonstrar confiança em Felipão, já sondava outros nomes no mercado. Jornais estrangeiros diziam que o técnico do Chelsea, o português José Mourinho, já havia sido consultado. E que estaria disposto a assumir a Seleção, mas não agora, apenas mais próximo da Copa da Rússia, em 2018.
“Mourinho está relutante em quebrar seu contrato com o Chelsea, que ainda tem três anos de duração”, disse o jornal espanhol Marca, na edição de ontem. Com isso, ele estaria liberado apenas em 2017, quando acaba seu vínculo com o clube inglês.
O periódico ainda afirmou que nos próximos dias dirigentes da CBF devem embarcar para Londres para oficializar a conversa com o português. Assim, Alexandre Gallo, técnico das categorias de base da Seleção, teria um mandato tampão. Ninguém da entidade confirma.
Andreense compartilha paixão pela Seleção Brasileira com o Santo André
Sabe aquela história quando a gente fica bravo, mas bravo de verdade com um parente e depois que se acalma volta a fazer uma declaração de amor? Pois bem. Foi isso o que fez o torcedor ontem em relação à Seleção Brasileira. Veio ao estádio para dar uma segunda chance à equipe, que, no fim, não retribuiu.
Mas foi o que motivou o comerciante andreense José Eduardo Acencio, 27 anos e torcedor roxo do Santo André, a encarar, sozinho, 14 horas de viagem de ônibus para vir e mais 14 para voltar, só para realizar o sonho de ver o Brasil na Copa. E trouxe junto a bandeira do Ramalhão, para deixar claro suas duas paixões futebolísticas. “Consegui o ingresso ontem (anteontem), de um parente de minha namorada, que não iria poder vir. Aí tive que contar com a sorte para que abrissem ônibus extras.”
Ele saiu de São Paulo às 21h de sexta-feira e chegou em Brasília só cinco horas antes do jogo. “Onde o Santo André joga, eu vou. Não poderia deixar de ver o Brasil jogando em casa”, disse.
Ele conta que quase chorou ao entrar no estádio. “É algo inesquecível”, afirmou o torcedor, que semana que vem volta a acompanhar o Ramalhão, agora pela Copa Paulista. Mas volta a tempo de “secar” a Argentina, como ele disse, na final de hoje.
Torcida ‘esquece’ goleada na semi e se mostra disposta a apoiar equipe
O clima, evidentemente, era bem diferente da euforia do torcedor no jogo do Brasil contra o Camarões, também em Brasília, ainda na primeira fase da Copa, mas quem foi ao estádio ontem tentava esquecer o vexame diante da Alemanha, confiante por uma saída honrosa da competição. A animação era mais contida, de fato, mas a realidade é que o torcedor veio, sim, para apoiar o time de Felipão.
Acompanhado de familiares, o psicólogo Felipe Queiroz, de Brasília, dizia que o “luto já havia passado”. “O que importa é a competição. Continuamos torcendo para o Brasil. Aquele 7 a 1 já passou e agora é tentar garantir o terceiro lugar”, disse ele, que apostava em 3 a 1 para o Brasil. Para o torcedor, porém, o técnico deveria sair. “Agora é a vez de Muricy Ramalho”.
Otimismo compartilhado pela estudante Giovanna de Azevedo, que trouxe faixas de apoio a David Luiz. “Ele é meu ídolo. Gosto demais do jeito dele e acho que deu uma lição para todos os brasileiros”. Para ela, o jogador não teve culpa na derrota de terça-feira. “O problema foi mesmo que Neymar e Thiago Silva fizeram falta”. Pelo jeito, Neymar ainda fez ontem.
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