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Jornada pessoal
cheia de desabafos

Baterista do Rush, Neil Peart relata drama
familiar e retomada da vida em ‘A Estrada da Cura’

Gustavo Cipriano
08/07/2014 | 07:20
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Divulgação


Como fica a mente de uma pessoa após passar por duas tragédias seguidas? Esse sentimento tem cura? Foi o que Neil Peart tentou buscar. O baterista do trio canadense Rush teve na noite de 10 de agosto de 1997 o início de um período longo e árduo.

Carros de polícia foram a sua casa aquele dia para informar a ele que sua filha Selena tinha morrido em acidente de carro. Menos de um ano depois, sua mulher Jackie passa por série de derrames e não resiste às complicações de saúde, no que o músico chama de “fim misericordioso” após todo o sofrimento pelo qual ela havia passado. “Eu não tinha um motivo de verdade para continuar, não tinha interesse algum na vida, no trabalho ou no mundo lá fora”, escreve ele no livro A Estrada da Cura (Editora Belas Letras, 511 páginas, R$ 39,90 em média), sobre o que sentia após todo o ocorrido.

A publicação lançada neste ano no Brasil conta com tradução de Candice Soldatelli. O total de 18 capítulos é dividido em duas partes: Na Estrada da Cura e De Volta Para a Casa.

Após um tempo sem saber o que fazer, Neil resolve pegar a estrada, como sua esposa havia lhe sugerido momentos depois da morte de Selena. O baterista sempre foi apaixonado por viajar, pegou a sua BMW R1100GS e caiu no mundo.

O resultado dessa experiência foi uma jornada pessoal de 90.000 quilômetros em 14 meses na qual o compositor usou paisagens, adrenalina e tudo o que ocorria para tentar cuidar da sua “alma de bebê”. Esse é o nome que o senhor de 61 anos deu ao que ele chama de certa essência frágil que há dentro de si. Essa “força vital” é denominada assim porque ela tinha muito do que se queixar por tudo o que tinha passado e, assim como qualquer pai aprende para tranquilizar a sua criança, Neil tinha a esperança de que ela se acalmasse se fosse levada para passear.

Ao longo dos capítulos, todos iniciados e finalizados por parte de letras de canções do Rush, o compositor mostra detalhamento incrível do que via e passava na estrada. O formato das coisas, nomes de pássaros (alguns até científicos), diálogos com pessoas e até o que se passava em sua cabeça aparecem no livro, graças às anotações e cartas escritas pelo roqueiro canadense. “Ao longe, na margem mais afastada do lago brilhante, meus olhos se fixaram em duas rochas escarpadas de formato triangular que rompiam a superfície da água perto de uma das ilhas. Para mim, aquelas duas rochas sempre se parecem com dois patos olhando um para o outro, e de alguma forma minha alma de bebê decidiu imbuí-las naquele dia de significado”, relata ele após sua chegada à província canadense de Quebec.

As cartas, aliás, são grandes responsáveis por contar o trajeto de Neil pelo continente americano ao longo da saga pessoal. Principalmente as direcionadas para seu amigo Brutus, com quem, costumava viajar. Em todas, o letrista assina como GR (Ghost Rider, o Viajante Fantasma). Naquele período fatídico, porém, o companheiro de estrada estava na cadeia – fora acusado de levar cargas ilegais em navios.

Ao longo das histórias, o autor transparece as saudades do amigo o tempo todo e torce para se reencontrarem. “Estou sozinho e um tanto deprimido, e é tudo culpa sua!(...) Era para você estar aqui, fazendo com que eu me divertisse, em vez de ficar aí matando tempo com todos os seus novos amigos”, escreve em tom de brincadeira.

No último capítulo, Neil relata sua possível cura. Perto do fim do ano de 1999, ele conhece Carrie, apresentada pelo seu amigo Andrew. Após um tempo, com alguns momentos nos quais cancela suas viagens para rever a moça, ambos se apaixonam e acabam casando. “(Na cerimônia) Por um momento, pensei em tudo que tinha me levado até ali, e meu rosto começou a desmoronar. Mas foi só um instante, um pequeno momento decisivo de compreensão, e depois de paz, então eu sorri com orgulho e felicidade quando desci até o gramado e peguei a mão de Carrie.”

“Dedicado ao futuro com honra ao passado.” A frase que aparece logo no início do livro resume bem como começou e terminou esse período na vida do baterista.




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