Turismo Titulo Gastronomia
Tempero regional
Eliane de Souza
Enviada a Pirenópolis
13/09/2012 | 07:24
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Para entender a essência do povo goiano, é indispensável visitar a Fazenda Babilônia. O lugar preserva edificações, utensílios, costumes e a gastronomia do fim do século 18. A fazenda, fundada em 1801, produzia cana-de-açúcar, algodão e mandioca. O auge da propriedade foi em 1860, quando exportava sua produção para a Europa.

A Fazenda Babilônia foi fundada pelo comendador Joaquim Alves de Oliveira, muito conhecido pela forma peculiar com que tratava seus escravos. Para começar, eles não ficavam em senzalas: contavam com alojamentos separados para famílias e outro para homens solteiros. Também não ficavam ociosos, eram mantidos bem alimentados, vestiam-se decentemente, recebiam cuidados quando doentes e eram alfabetizados para que fossem valorizados no mercado escravagista - cuidados mínimos, mas que, infelizmente, não eram comuns na maioria das propriedades.

A fazenda tinha algumas regras que o Brasil só conheceria na gestão de Getúlio Vargas, com a implantação das leis trabalhistas. As mães iam trabalhar nas plantações quando os filhos já podiam dispensar os seus cuidados. As crianças eram então confiadas a uma só mulher, que zelava por todas. Quando os escravos envelheciam, eles recebiam uma parte dos lucros que tinham ajudado a conquistar para o patrão e uma espécie de fundo de garantia, assim como uma carta de alforria. A história é a de que muitos preferiam continuar no sítio.

O tempo cumpriu seu papel e desfez senzala, oficinas, muros e estábulos, sobrando, por determinação da família, o belo casarão, sede da fazenda, com casa, capela, varanda e o pátio do antigo engenho. Devido à histórica importância, a casa e suas dependências foram tombadas em 1965.

Com a construção de Brasília e o incremento do turismo em Pirenópolis, a Fazenda Babilônia tornou-se, gradativamente, local de visitação. Foi aberta ao público em 1997 por iniciativa da atual proprietária, Dona Telma Lopes. Ela conta que a fazenda pertence à família há quase 150 anos.

O casarão é cerca de 80% original e serve de residência a Dona Telma. Ainda conta com uma capela e um pequeno museu de objetos antigos. O local é alvo de estudos para teses de graduação e mestrado, pesquisas na área de arqueologia e história, destino de grupos de estudantes nas áreas de arquitetura, história, cultura e gastronomia.

A atividade principal da fazenda é a pecuária, mas o resgate que a Fazenda Babilônia oferece não se resume somente à arquitetura ou história. É em volta da mesa, com um fartíssimo café colonial com mais de 40 itens, que se conhece os hábitos do povo goiano. A refeição é tão substanciosa que é servida até as 16h, ao preço de R$ 40 por pessoa.

As iguarias, que contam com forte influência indígena, eram preparadas com antecedência e de forma que fossem bem conservadas para serem consumidas por tropeiros em longas viagens sobre o lombo de mulas.

Uma das delícias apreciadas pela durabilidade é a matula, preparada com carne de galinha caipira moída, toucinho moído, açafrão, pimenta, ovos e farinha de milho caseira. A mistura é assada no borralho e envolvida com folha de bananeira.

Se ao fim da visita a balança denunciar o excesso na refeição, conforte-se com a desculpa de ter feito uma imersão na culinária goiana com fins nobremente antropológicos.

 

 




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