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Paraíso bem pertinho das estrelas
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
27/10/2011 | 07:52
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Heloísa Cestari


Se você já fez mapa astral, respeita a natureza, pratica ioga, ouve músicas new age, gosta dos livros de Osho, sente a energia cósmica do kundalini vibrar na planta de seus pés, acredita que haja vida em outros planetas, recorre à medicina alternativa quando tem problemas de saúde, teme as previsões maias para 2012 e vê o relógio como um dos grandes males da sociedade, seu lugar é Veadeiros. Afinal, nenhuma outra chapada brasileira fica tão perto do céu. Com platôs a até 1.700 metros de altitude, a região gaba-se de ser um dos lugares mais estrelados do mundo - só perde para o Deserto do Atacama, no Chile. Em uma noite de poucas nuvens, dá para avistar até 5.000 pontos brilhantes no firmamento. Tudo a olho nu. Talvez por isso, muita gente por lá se sinta tão próxima de outras galáxias...

Relatos de discos voadores são tão numerosos quanto a quantidade de místicos que trocaram suas vidas na cidade grande para morar ali, mais próximo à ‘mãe natureza'. Cada um com sua filosofia própria. Sob o democrático guarda-chuva da geração paz e amor cabem hippies, xamãs, astrólogos, ufologistas, gurus, pais de santo, curandeiros, reptilianos, espíritas, budistas, wiccas e até gente sem crença.

Mas é possível encontrar alguns pontos comuns em meio a esta babel da Era de Aquário. O número de vegetarianos, macrobióticos e vegans, por exemplo, é grande, o que significa que a maioria dos restaurantes conta com menus fartos em verduras, porpetas de soja, cogumelos, queijos, quirches de alho-poró, saborosos refogados de legumes e um amplo bufê de saladas.

A explicação estaria na aura mágica que envolve a chapada. Além de ser ponto de passagem do chamado Paralelo 14 (o mesmo que atravessa a lendária Machu Picchu, no Peru, e a mineira São Tomé das Letras), a região esconde no subsolo uma enorme reserva de cristais de quartzito, pedra considerada por muitos como precioso catalisador de energias eletrostáticas.

"A Nasa fez uma pesquisa e descobriu que uma das maiores placas de cristal do mundo fica aqui, começa no Morro da Baleia. É comum o pessoal ir lá para fazer rituais, meditação, enfim, entrar em outra dimensão", explica o guia Veri Viana do Nascimento, o Junior, 27 anos.

Por abrigar a maior jazida do minério no Brasil, alguns místicos chegam a profetizar que a região - tida como o chakra cardíaco da Terra - será a única a não sofrer uma possível devastação, tamanha seria a vibração positiva transmitida pelas rochas. E não é preciso ser nenhum guru para sentir o clima de misticismo que impera em Alto Paraíso. Basta observar as construções ao redor, com arquitetura em formato de pirâmide ou arredondadas como cúpulas, e os diversos centros de estudos e de terapias alternativas que fundaram núcleos no local.

Histórias de catarse e fenômenos sobrenaturais, aliás, não faltam na boca dos moradores. Waldomiro da Silva Filho, 68 anos, que o diga. Nativo da chapada, ele fala de Ovnis com a sabedoria de um filósofo e a simplicidade de um homem da roça: "Muita gente me pergunta sobre disco voador... Não tenho conhecimento para falar a verdade porque não tenho estudo, sou semianalfabeto, e pelo o que penso que seja, ele tem de ser um objeto, mas o que vejo são luzes no espaço. Elas são vermelhas, amarelas, azuis, e desaparecem rápido", conta, com os olhos distantes, como se estivesse assistindo às cenas do passado desenrolarem-se à sua frente.

Para um cético, as luzes que Seu Waldomiro vê poderiam soar como ilusão de ótica. Mas o que dizer do objeto estranho que adentrou sua sala? "Eu tinha 17 anos, estava na casa da minha mãe, havia uma cantoneira na sala, com potes, copos, e eu estava deitado, por volta das nove da noite, quando uma luz azul clareou a casa toda, mais do que se tivesse dez lâmpadas ligadas. Olhei à minha frente e vi um objeto redondo, tipo uma bolinha de gude, de cor azul, na cantoneira. Ela ficou parada, demorou um tempo e eu dormi. Quando acordei, a bolinha tinha sumido... Em outra ocasião, passou uma bola, do tamanho da de futebol, a uns três metros do chão, que iluminou todo o terreno."

Do rancho, vislumbra-se o Morro da Baleia, segundo ponto mais alto da chapada e, na opinião dos entendidos, o lugar ideal para ver naves. A paisagem que mais instiga a imaginação de místicos a ateus, no entanto, é o Vale da Lua, no distrito de São Jorge. Trata-se de um conjunto de rochas coloridas, semelhantes às crateras lunares, esculpidas pela força das águas do Rio São Miguel ao longo dos séculos.

Outro local muito procurado por místicos ávidos por avistar as mesmas luzes de Seu Waldomiro é o Jardim de Maytrea, nome dado por um grupo de seguidores do Conde de Saint-German (o Cristo deste milênio) chamado Cavaleiros de Maytrea. "Eles meditam e entram na quinta dimensão. Iam lá com mais frequência entre 1999 e 2000, porque achavam que o mundo ia acabar, mas até hoje sobem no morro em datas especiais", diz Junior.

O próprio guia vivenciou experiências que fogem à razão. "Há uns quatro anos, estava fazendo trekking no Vale do Macaco e começou uma tempestade forte, com muitos relâmpagos, seguida de uma tromba d'água. Acampamos para nos proteger e, à noite, ouvi um barulho alto, tipo uma batucada, no meio do rio. Passamos a madrugada inteira ouvindo esse som de tambor juntos, com medo, dentro da barraca, e não dava para indentificar de onde vinha, até porque não existe nada ali além do rio e do cerrado. O pessoal ficou tão amedrontado que não quis continuar o passeio no dia seguinte", lembra Junior, que já enfrentou cascavéis e até uma pantera com filhotes em meio às trilhas da chapada.




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