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Ecumênica por natureza

Atendendo a todos os tipos de interesse, a cidade capricha na comemoração de seu centenário

Andréa Ciaffone
12/06/2014 | 07:07
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Viajado e sofisticado, Santos Dumont (1873-1932) era o que hoje chamamos de formador de opinião. Por isso, quando deu uma entrevista em 1916 falando sobre seu encantamento com as paisagens que viu nos arredores da Vila Iguaçu, que havia se tornado município dois anos antes, imediatamente o destino entrou no radar dos mais abastados, a classe social que tinha acesso e costume de fazer turismo. O que nem o visionário pai da aviação poderia imaginar é que, na altura do 100º aniversário, a cidade receberia anualmente mais de 1,5 milhão de turistas e seria considerada um dos três lugares mais visitados do País.
O interesse pela cidade se justifica tanto pela beleza natural que a cerca quanto pelo fato de ser cosmopolita e por oferecer opções para todos os perfis de turista, até os mais díspares e opostos. Ao mesmo tempo em que é um dos mais fantásticos pontos para fazer ecoturismo no planeta, Foz é, também, a cidade para onde rumam os que estão em busca de pechinchas no comércio popular da tríplice fronteira. Se por um lado há resorts de altíssimo padrão, por outro sobram opções de hospedagem acessíveis. Oferece passeios de aventura, mas também dispõe de salas de conferência que não devem nada às das grandes capitais. Recebe desde gente jovem e sarada, que quer explorar trilhas, até idosos loucos para curtir os cassinos do outro lado da fronteira. Enfim, há programação para todos os gostos. Talvez tenha sido toda essa diversidade que levou a seleção da Coreia do Sul a escolher Foz como sua sede no Brasil durante a Copa do Mundo.
Essa vocação cosmopolita da cidade – que convive com as irmãs Puerto Iguazú, na Argentina, e Ciudad del Este, no Paraguai – faz sua população fixa, de apenas 250 mil pessoas, registrar a presença de mais de 70 etnias. Por isso, tornou-se território livre para a espiritualidade. Representações religiosas de todos os matizes convivem ali em harmonia. Alguns dos templos estão, inclusive, no roteiro dos turistas. A matriz e a nova catedral católica, a mesquita sunita, a husseiniie xiita e o templo budista destacam-se entre as mais visitadas. Para os cristãos, além de conhecer a matriz São João Batista, vale visitar a catedral diocesana Nossa Senhora de Guadalupe, que, embora ainda inacabada, chama atenção pelas dimensões e pela originalidade da sua arquitetura, com teto em ondas.
A mesquita Omar Ibn Al-Khattab recebe anualmente mais de 5.000 visitantes, que só podem entrar nos horários em que não há reza. A arquitetura característica, com minaretes de 31 metros, e o interior decorado com arabescos enchem os olhos. A visita é uma experiência transcultural que aproxima o turista da segunda maior comunidade de língua árabe no Brasil que escolheu Foz para viver.
Já budistas e simpatizantes aproveitam a paz do imenso espaço que celebra a religião oriental às margens do Rio Paraná. Como que convidando à meditação, mais de uma centena de estátuas de Buda e uma gigante de sete metros se espalham pelo jardim. Muitas são doações feitas por budistas de várias partes do mundo como forma de gratidão e louvor.
Para quem ama a natureza, a experiência de visitar o Parque das Aves tem seu quê de sagrada. Simpáticos papagaios, araras coloridas e várias outras espécies formam um caleidoscópio visual que fica na memória.
Tudo isso ajuda bastante a desconstruir a imagem de destino de massa, sem charme, que muita gente passou a ter de Foz por conta do fluxo de sacoleiros que passavam pela cidade em busca das pechinchas no Paraguai. Quem esteve por lá nos anos 1980 lembra do quão esculhambadas eram as lojas, da tosquidão do atendimento e do clima de clandestinidade que pairava sobre todas as transações. Ciudad del Este evoluiu em muitos sentidos. Em alguns, entretanto, ainda tem suas peculiaridades. Por exemplo, nas compras feitas com cartão de crédito, há acréscimo de 17%. Por isso, a recomendação é levar dinheiro vivo para negociar.
Mas, para o barato não sair caro, é bom prestar atenção e guardar bem a carteira, porque os batedores têm habilidades de ninja do lado de lá da fronteira. Os conhecedores recomendam ir direto para o Shopping del Este, para a Galeria Monalisa ou ao Shopping Americana. Outro conselho que frequentemente se ouve é que é perigoso atravessar a Ponte da Amizade com carro próprio por causa de assaltos e que o turista deve preferir ir de táxi.
Na hora de comprar bebidas e perfumes ou artigos em que se queira maior segurança em termos de procedência, a melhor opção é atravessar para o lado argentino e ir comprar no Duty Free, onde há franquia de US$ 300 sem cobrança de impostos. Pertinho fica o Casino Iguazú, endereço certo para quem quer testar a sorte no jogo, seja nas máquinas de caça-níqueis – as preferidas das senhoras de terceira idade –, seja nas mesas de jogo. O cassino também mantém áreas reservadas para quem arrisca altos valores e para seus habitués. No Paraguai, o jogo também é permitido e há cassinos, mas por alguma razão eles costumam ser desaconselhados por brasileiros e argentinos. Outro motivo para atravessar a fronteira para Puerto Iguazú é que os restaurantes pilotados pelos hermanos costumam ter boa fama, especialmente os especializados em carnes.

Aos 40 anos, Itaipu ainda reina cheia de energia


O gigantismo de Itaipu Binacional já seria suficiente para despertar a vontade de colocar os pés na maior usina hidrelétrica do mundo, mas há mais razões. A principal delas é a organização das visitas e a beleza de alguns dos ambientes criados na usina. Leigos e engenheiros vibram com os detalhes desta obra que, embora carregue no nome a parceria com o Paraguai, representa o Brasil do século 20 de forma grandiosa e eloquente.
A melhor maneira de entender mais a história de Itaipu, que em maio celebrou seu 40º aniversário, é percorrer o Ecomuseu. Lá é possível ver uma enorme maquete da região – são 76 metros quadrados – sob um céu artificial eternamente estrelado graças a fios de fibra ótica.
Uma homenagem aos mais de 100 mil homens que trabalharam em sua construções, conhecidos como barrageiros, por meio de um painel com 4.500 fotos de funcionários, enriquece a narrativa e faz o visitante lembrar do aspecto humano desta grande obra.
Sintonizado com esse sentimento de valorização das pessoas durante a comemoração das quatro décadas da usina, o Ecomuseu apresenta até dia 7 de setembro a exposição Trabalhadores, do mudialmente famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que traz 132 imagens realizadas em várias partes do mundo entre 1986 e 1992. A série de reportagens tem como tema o trabalho manual em processo de extinção por causa da tecnologia industrial. As fotos, que não são exibidas em mostras há quase uma década, fazem parte do livro Trabalhadores, publicado em 1993 e atualmente esgotado.
Mas as atrações da usina não terminam quando o sol se põe. Duas precisam da noite para brilhar: o espetáculo da iluminação da barragem, em que 747 refletores e 112 luminárias são combinados a uma trilha sonora poderosa para gerar emoção, e o Polo Astronômico, que integra planetário, observatório e plataforma de observações a olho nu. Dá para entender que a grandiosidade que envolve Foz do Iguaçu é algo escrito nas estrelas.  




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