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Tudo para realizar um sonho

Jovens que buscam carreira no futebol fazem sacrifícios, como deixar a família, para se profissionalizar

Caroline Ropero
Do Diário do Grande ABC
08/06/2014 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Faltam quatro dias para o início da Copa do Mundo. Mais do que torcer pela Seleção Brasileira, muitos adolescentes sonham em fazer parte dela e, assim, representar o País dentro de campo.

Jovens que investem na carreira de jogador de futebol sabem que é preciso esforço e sacrifício para obter sucesso. Em muitos casos, deixam o lar e a família bem novos. É o caso do lateral-esquerdo Cleivelton Santos, 16 anos. Há cerca de um ano, saiu de Ilhéus, Bahia, para jogar na categoria sub-17 do Esporte Clube Santo André. “A gente luta para ser grande jogador e, um dia, dar vida melhor aos nossos parentes.”

O atleta mora no alojamento do time, no Estádio Bruno Daniel, em Santo André, e divide o quarto com três colegas. “Tem comida boa, cobertor para dia frio, quarto limpo e guarda-roupa.” Cleivelton só não curte o tempero do Sudeste. “O da Bahia é mais gostoso.”

OPORTUNIDADES
Diretor das categorias sub-17 e sub-20 do Ramalhão, Ari Mantovani explica que o Estado de São Paulo é ideal para novatos. “Tem grandes clubes que investem no atleta que ainda não é profissional.”

Foi o que Alan Santos, 17, pensou ao sair de Itabuna, Bahia, para jogar no time andreense. “A estrutura aqui é melhor. Tem mais oportunidade de ser observado por olheiros.” Há quatro meses em Santo André, o volante sonha jogar no São Paulo. A inspiração, porém, é o argentino Lionel Messi. “Gosto do estilo de jogo dele.”

O zagueiro Marcos Antonio Oliveira, 17, precisou convencer a família para deixar sua cidade, Feira de Santana, Bahia. “Meu pai não queria. Tinha medo de ser pilantragem e acontecer algo comigo. Mas minha mãe o convenceu, disse que era meu sonho.” Os pais usaram as economias para comprar a passagem do filho, que levou dois dias na estrada até chegar à nova casa.

Já a passagem de Renan Silva Lima, 17, quem pagou foi o empresário. O goleiro começou a treinar em escolinha de futebol na infância e passou pelos times Bahia, Vitória, Portuguesa e Atlético Paranaense. “Jogava na posição de lateral-direito. Gostava, mas como fiquei alto, me colocaram no gol”, conta o garoto, que é fã de Rogério Ceni. “Me inspira pelo que conquistou e a idade que alcançou no futebol.”

MUITOS OBJETIVOS
No futuro, os amigos almejam jogar na Europa em times como Barcelona e Real Madrid. “O futebol é mais organizado lá”, diz Cleivelton. Mas o atleta também se espelha em craques brasileiros. “Gosto do Roberto Carlos pela força de vontade e habilidade.” Já Marcos Antonio prefere o capitão da Seleção, Thiago Silva. “É ‘raçudo’, tem vibração.”


Disciplina é fundamental

Regras e rotina fazem parte do dia a dia dos atletas do time sub-17 que moram no alojamento do Esporte Clube Santo André. Durante a semana, acordam às 6h para ir à escola, almoçam no estádio e saem para treinar por cerca de duas horas. A noite é livre para colocar o papo em ordem, concluir a lição de casa e ligar para a família. Às 22h, apagam as luzes e fazem silêncio.

Segundo o responsável pelo time, o diretor Ari Mantovani, disciplina é essencial. “O atleta precisa de boa alimentação, repouso e cuidado com a saúde. A carreira depende também do que ele faz fora de campo.”

A dedicação é necessária até para quem ainda não faz parte de um clube. Não dá, por exemplo, para ficar fora de forma. “Tem de trabalhar a parte física, nem que vá para um campo ou espaço qualquer sozinho. Quando passar por avaliação, pode não ter bom rendimento comparado ao do atleta que treina para competições.”

Também é preciso evitar excessos. Passear e descansar fazem bem. Mas deixar de dormir à noite para ir em festas ou baladas pode atrapalhar a saúde. Além disso, álcool, cigarro e drogas estão fora de questão. “Em qualquer situação o uso dessas substâncias é ruim, principalmente no esporte. O atleta precisa de corpo e mente saudáveis para ter alto rendimento”, diz Ari.


Morar longe dos pais ensina a se organizar e ter autonomia

A primeira sensação ao saber que vai morar longe dos pais é a liberdade. Dormir no mesmo quarto que os amigos parece superdivertido. Mas logo bate a saudade de casa. “Ficar longe da família é o mais difícil. Sentimos falta”, conta Alan Santos, 17 anos, que liga para a mãe toda semana. O escape costuma ser a companhia do time. “Fizemos dessas pessoas nossa outra família.”

APRENDIZADOS
Sair de casa na adolescência é experiência com muitos ensinamentos. “Aprende a conviver com outras pessoas, se organizar, cuidar da própria roupa, ter autonomia e ser solidário”, explica Miguel Perosa, professor de Psicologia da PUC-SP. “Também vai fazer grandes amigos”, completa.

Ao mesmo tempo, precisa lembrar que o principal dever dos jovens é estudar. “É importante para o desenvolvimento mental e profissional, além de abrir possibilidade para planos alternativos caso a carreira de jogador não dê certo”, diz o psicoterapeuta. Muitos atletas até escolhem fazer faculdade de Educação Física. “Tem tudo a ver com futebol.”

DIVERSÃO
Mas nem só de obrigações vivem os garotos. Os jovens atletas do Ramalhão adoram passear com amigos e conhecer novas garotas. “Pedimos autorização para sair à noite ou aos finais de semana. Vamos ao shopping”, revela Renan Silva Lima, 17, que costuma encontrar a namorada. “Nos conhecemos na escola.” Já os colegas preferem evitar compromisso sério. “Muito jogador se prejudica por causa de mulher”, acredita Marcos Antonio Oliveira, 17.

Eles também gostam de acessar as redes sociais. E, aos domingos, vão à Igreja Batista próxima ao alojamento.
 




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