Política Titulo ENTREVISTA
‘A sociedade está em 2014 e o Estado em 1980’
Raphael Rocha
24/05/2014 | 07:11
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Presidente do sistema Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e pré-candidato ao governo do Estado pelo PMDB, Paulo Skaf não poupou críticas à gestão pública do Estado, que, para ele, demonstra estar em 1980. “Se você vai em qualquer instituição do Estado se sente em 1981, em 1976. Se você sai e vai a uma agência bancária, vai para 2014. A sociedade está 2014 e o Estado está em 1980. Tem de pegar o Estado de 1980 e trazer para 2014”, analisou o peemedebista, em entrevista exclusiva concedida na sede do Diário. “A gestão pública é vergonhosa”, adicionou.

Segundo colocado nas pesquisas de intenções de voto na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, atrás somente do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Skaf confirmou que mantém diálogos com o PSD, do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, e do PSB, partido que nutre desejo de indicar Márcio França como vice da chapa do PMDB. Segundo o presidente da Fiesp, agora é fase “em que todos falam com todos”, entretanto, definições ficarão apenas para fase final das convenções partidárias, marcadas para junho.

A única certeza de Skaf é que ele não aceitará ser vice de Alckmin ou do ex-ministro Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo do Estado pelo PT. “O PMDB tomou decisão irreversível de ter candidatura a governador. Não há alternativa que não seja essa.”

O peemedebista discorreu também não ter receio de ser bombardeado durante a campanha, numa repetição da estratégia de PSDB e PT na eleição à prefeitura de São Paulo de 2012, quando Celso Russomanno (PRB) ficou fora do segundo turno após série de ataques. “Ficarei feliz quando estiver sendo atacado. Significa que está indo tudo bem.”


O sistema Fiesp/Ciesp já estima investimentos de R$ 350 milhões em estruturas no Grande ABC. É possível falar que a região é prioridade para a entidade?

Serão altos investimentos em prédios moderníssimos. Estive em São Caetano e vi que prédio e instalações de São Caetano ficam prontos em setembro. Em outubro, novembro e dezembro serão colocados equipamentos e a escola inicia ano letivo em 2016 no bairro Boa Vista. Além de dobrar a capacidade de inscritos, a modernidade tem de ser destacada. Serão escolas das mais modernas do mundo. Quando o Senai decide fazer escola como essa, vai em todas as partes do mundo e escolhe o que tem de mais moderno. Professores são os melhores possíveis, capacitados e motivados. São escolas referências internacionais, não podem ser comparadas com as do Brasil. Têm de ser comparadas com escolas alemãs, japonesas, suíças.

Qual expectativa com a parceria firmada com a Prefeitura de Diadema para implementação do ensino Sesi?

Pensamos bastante como, além das escolas do Sesi, poderíamos contribuir com a Educação no Estado? Desenvolvemos o sistema Sesi de ensino para ser implantado. São mais de 100 mil alunos no Estado no sistema Sesi de ensino. Em Diadema tenho certeza que o resultado está sendo bom e cada dia será melhor. É a forma que encontramos para estender a metodologia e experiência para ajudar mais a qualidade da Educação no Estado.

Nas últimas semanas, cresceram boatos a respeito de parceria da sua pré-candidatura ao governo do Estado com o PSD do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab ou com o PSB, que indicaria o deputado federal Márcio França como seu vice. Há diálogo com essas siglas?

A prática da política é o diálogo. Há sempre diálogo. Estamos numa fase em que todos falam com todos. A realidade é essa. Não seria verdadeiro eu falar que não tem conversa com um ou outro. Todos falam com todos. As coligações ainda vão se definir. Primeiro anúncio de coligação de novidade foi a do Pros com o PMDB. Está bem no começo ainda. Logicamente muitas coisas vão acontecer. As conversas estão acontecendo e é imprevisível. Se você pudesse perguntar ao Kassab e ao Márcio França você me avisa, porque eu também não sei (risos). Estou curioso para saber também.

Recentemente o Kassab afirmou que não descartava ser vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Há no PSDB correntes que defendem aliança com o PMDB. O sr. aceitaria ser vice do Alckmin?

Não. No PMDB não tem essa questão de ser vice de A ou B. O PMDB tomou decisão irreversível de ter candidatura a governador. Com muita humildade, mas quero lembrar que as últimas pesquisas mostram a gente em segundo lugar consolidado (atrás de Alckmin) e o terceiro lugar (Alexandre Padilha, do PT) bastante longe. As pessoas querem ver visões diferentes e outros jeitos de tratar as coisas. O PMDB vai ter candidatura que se materializará com a convenção, no dia 14. Não há outra alternativa que não seja essa.

Como justificar ao eleitor que o PMDB representa essa novidade no Estado se o partido teve papel fundamental durante as gestões tucanas em São Paulo?

A participação foi pequena, nenhuma (do PMDB no governo tucano). Quem governou São Paulo foi o PSDB. O PMDB não governou São Paulo e, se teve, foi participação legislativa como base do governo. Isso está longe de ter poder decisório de governar São Paulo. Outro fator que precisa ser levado em consideração é que as pessoas fazem a diferença. A sigla só não é o que se representa. O PMDB procurou trazer novas visões, pessoas com novas ideias. Democracia precisa de política. Não tem dois caminhos. Se quer mudar e melhorar, precisa entrar na política e dar contribuição diferente. O José Alencar era muito meu amigo e dizia: ‘quanto há tanque com veneno, a solução é colocar água boa para dissolver esse veneno’. A melhor coisa é que pessoas de bem, em vez de virar as costas para a política, aceitem entrar na política para fazer de jeito diferente. A gestão pública é vergonhosa. Se você tiver problema de furto de automóvel, que são 200 mil por ano, e for a uma delegacia, você se sente em 1980, para ser bonzinho. Não estou falando mal da polícia. Mas o ambiente é malcuidado, as pessoas não são bem treinadas, não há modernidade, inovação, tecnologia. Se você vai em qualquer instituição do Estado se sente em 1981, em 1976. Se você sai e vai a uma agência bancária, vai para 2014. A sociedade está 2014 e o Estado está em 1980. Tem de pegar o Estado de 1980 e trazer para 2014. Isso significa gestão competente e retorno às pessoas. É ter controle, combate à corrupção. A oportunidade faz o ladrão. Quando não se tem controle e eficiente gestão é oportunidade para roubalheira. Quando tem coisas amarradas e gestão, combate naturalmente. Pode ser que não elimine, mas combate a corrupção.

Mas é possível implementar esse ritmo de iniciativa privada no poder público? O sistema político não atrapalha?

Tem que dar para implementar. Temos de quebrar paradigmas. Quebrar paradigmas é quebrar paradigmas. Quando entrei no Sesi e decidi implementar o ensino integral, tínhamos 175 escolas, sendo 127 sem estrutura para isso. Eram escolas conveniadas sem espaço para o ensino integral. Decidi substituir todas as escolas. Fizemos parcerias e as coisas aconteceram. Estou falando de entidade que depende de concorrência pública, tem fiscalização de TCU (Tribunal de Contas da União). É instituto privado com certa burocracia e obediência de lei. Temos de enfrentar, não dá para aceitar que as coisas não funcionem no Estado. Se gasta R$ 17 bilhões na Segurança pública. É mais ou menos 1% do PIB (Produto Interno Bruto) paulista. Esse índice é mais ou menos o que a Alemanha gasta. Na Alemanha se tem 0,8 homicídio a cada 100 mil habitantes. Em São Paulo se tem 12 homicídios a cada 100 mil habitantes. Isso sem contabilizar o latrocínio. Em 42 milhões de paulistas, você tem 5.000 mortes por ano. Em dez anos, 5.000 norte-americanos morreram na guerra do Vietnã. Do jeito que está não pode ficar.

Na eleição paulistana de 2012, Celso Russomanno (PRB) estava virtualmente no segundo turno, foi bombardeado e ficou fora da etapa final do pleito. O sr. está preparado para sofrer ataques caso continue protagonista nas pesquisas de intenções de voto?

Ficarei feliz quando estiver sendo atacado. Significa que está indo tudo bem. Quando estiverem me elogiando não é bom sinal, não. No momento em que estiverem me atacando saberei que o Skaf vai levar isso aí (risos). Estou esperando começar o ataque.

O sr. teme algo que possa ser utilizado contra sua campanha? É benéfico não ter passado político numa disputa como essa?

Tem de perguntar para eles (adversários). Acho que é benéfico, em certo ponto. Essas disputas têm de estar mais focadas em programas e ideias. Lógico que precisa criticar alguma coisa, elogiar outras. O Poupatempo por exemplo é programa fantástico, mas o princípio do Poupatempo precisa estar em tudo.

Quando o sr. se licencia da presidência do sistema Fiesp/Ciesp?

No dia 30 de maio, peço licença da Fiesp, Ciesp, Sesi e Senai. O primeiro-vice-presidente da Fiesp, Benjamim Steinbruch, fica no exercício da presidência. Preciso sair porque a Lei Eleitoral exige que eu me licencie quatro meses antes da eleição.




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