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‘Aumento no Bolsa Família é demagogia’, diz Zé Maria

Presidenciável pelo PSTU critica decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) em reajustar benefício em 10%

Rogério Santos
Do Diário do Grande ABC
12/05/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Pré-candidato do PSTU à Presidência da República, o sindicalista e mandatário nacional do partido, José Maria de Almeida, critica o reajuste de 10% no Bolsa Família anunciado recentemente pela presidente Dilma Rousseff (PT), em rede nacional de rádio e televisão. Para Zé Maria, a medida é demagoga e tem cunho eleitoreiro, já que a petista se prepara para angariar votos entre as camadas mais pobres, mas não resolve o problema da pobreza do País.

“O que as pessoas precisam é ter Saúde, Educação e salário digno para sobreviver. Essa é medida demagógica em relação aos pobres para se conquistar voto. Mas não resolve; pelo contrário, perpetua a miséria”, afirmou o político, em entrevista ao Diário.

Postulante ao cargo máximo da Nação em 1998, 2000 e 2010, Zé Maria defende metodologia de governo com ampla participação popular e critica o sistema eleitoral do País, que, em sua opinião, privilegia apenas algumas candidaturas. Ele utiliza como exemplo o tempo de horário eleitoral gratuito destinado às legendas em cadeia nacional, dizendo ter direito de 30 segundos na grade de TV, enquanto Dilma partirá para a reeleição com seis minutos disponíveis para fazer campanha.

Ex-petista, Zé Maria recorda que a sigla nasceu sob intensa disputa política, que culminou no distanciamento de suas origens. Ele alfineta também o PSOL, partido criado por dissidentes do PT. Para o presidente do PSTU, o PSOL segue os mesmos passos do PT ao querer adotar discurso moderado para causar menos rejeição ao eleitorado. Segundo Zé Maria, esse foi um dos motivos pelos quais ampla aliança de esquerda não se consolidou para o pleito de outubro. “O PSOL defende modelo que não adotamos.”

Como o sr. avalia os 11 anos do PT à frente do Brasil?
Havia expectativa grande quando o (ex-presidente) Lula venceu a eleição em 2002 e depois quando a (atual chefe da Nação) Dilma (Rousseff) também chegou lá. O que vemos hoje é que, apesar de algumas políticas compensatórias adotadas, como o Bolsa Família, os banqueiros são os grande beneficiados. O governo deve gastar cerca de R$ 22 bilhões por ano com o Bolsa Família, enquanto que as dívidas interna e externa consomem quase R$ 1 trilhão. Isso causou decepção grande no trabalhador que esperava melhorar sua qualidade de vida. Isso não aconteceu. Reflexo disso foram as manifestações populares que ocorrem ano passado. A população cansou de esperar por mudanças e foi às ruas.

Recentemente a presidente Dilma anunciou em rede nacional o reajuste de 10% no Bolsa Família. Isso é válido?
Foi medida de cunho eleitoral, mas que não resolve o problema, assim como a revisão de 4,5% na tabela do IR (Imposto de Renda). Se o governo quisesse, poderia resolver a situação econômica do País e não dando dinheiro para banqueiro. O que as pessoas precisam é ter Saúde, Educação, salário digno para sobreviver. Essa é medida demagógica em relação aos pobres para se conquistar voto, mas que não resolve. Pelo contrário, perpetua a miséria.

Qual a sua avaliação sobre o atual momento econômico do Brasil, com desaquecimento em alguns setores e expectativa de demissões?
Nos últimos 11 anos , o governo fez uso de vários programas para ajudar as empresas sob argumento de que era para preservar os empregos e de arrecadar ao menos R$ 27 bilhões em impostos. Esse dinheiro deveria ir para Saúde, Educação e moradia, mas foram parar na mão dessas empresas. Elas mandaram nos últimos anos de remessa de lucro para o Exterior mais de R$ 15 bilhões. (Porém) O crescimento da produção e de venda dessas empresas nos últimos cinco anos foi de 21%. No primeiro trimestre do ano, caiu para 2%. Já tem esse desastre todo anunciado para que o governo dê mais dinheiro. Mas se os programas anteriores eram para garantir emprego, por que os empregos estão ameaçados agora?

É possível reverter esse quadro na economia?
O governo precisa tomar vergonha na cara. Parar de assinar decreto para ajudar as empresas e baixar medida provisória para evitar demissões. Porque o governo pode fazer isso, porque politicamente é mais que justificável. Ele deu mais de R$ 27 bilhões para as empresas. Instrumentos políticos e jurídicos ele tem. Não tem a maioria no Congresso Nacional, porque não aprova medida provisória para favorecer o trabalhador. Quem é prejudicado nessa situação é o trabalhador, alguns já demitidos. Se a questão é garantir emprego precisa mudar a política porque a atual não está garantindo.

O PSTU discutia com o PSOL a possibilidade de aliança para a disputa eleitoral, mas a aliança não evoluiu, o que houve?
De fato discutimos a possibilidade de frente de esquerda com o PSOL e o PCB, mas não evoluímos, porque o PSOL defende modelo que não é o que nós acreditamos. O PSOL optou por caminho muito parecido com o escolhido pelo PT na década de 1980, de rebaixar o programa político e deixar o discurso mais palatável para chegar ao eleitorado. Nós não concordamos. Eles optaram por candidatura própria (com o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá). Nós decidimos lançar candidato próprio, no caso eu, e tendo como postulante a vice a Cláudia Durans, que é uma companheira do Maranhão, militante do movimento negro e da periferia.

O sr. avalia que o PSOL está se aproximando da direta?
Nós defendemos modelo de mudança para o País, defendendo os nossos ideais acima de tudo. Como eu disse anteriormente, o PSOL trilhou caminho que pode assegurar melhor resultado eleitoral, mas que não condiz com aquilo que defendemos como projeto de mudança para o Brasil.

Qual será o papel da oposição na eleição?
Os dois candidatos colocados que se dizem de oposição defendem praticamente o mesmo modelo do governo atual. O PSDB do (pré-candidato a presidente) Aécio Neves causou tragédia com os oito anos de governo do Fernando Henrique Cardoso (entre 1995 e 2002). E o (ex-governador de Pernambuco) Eduardo Campos (PSB) integrava a base do governo Dilma. Então é seis por meia dúzia.

O sr. participou da fundação do PT, mas deixou o partido. Houve mudança tão grande assim na ideologia petista, especialmente do Lula?
O PT foi fundado em meio a disputas políticas. Nas discussões que eram feitas no fim da década de 1970 já havia muito debate sobre a linha política do partido. Quando se discutia a primeira carta de princípios da sigla, se defendia série de princípios e máxima que dizia que era “PT sem patrões”. Essa parte final da frase foi retirada. Posteriormente, em 1982, quando o Lula disputou o governo do Estado (em São Paulo), alcançou 10% dos votos. Para nós, aquilo mostrava que parcela do eleitorado acreditava nas nossas ideias. Mas o Lula ficou insatisfeito, pois queria chegar ao poder. O discurso do partido foi sendo rebaixado até ele ser eleito presidente em 2002. Mas para isso se aliou ao grande empresariado, escolhendo o José Alencar (PR) como vice. Então o PT é partido que foi gerado em meio a intenso debate político, que culminou naquilo que vemos hoje, o partido que chegou ao poder da maneira que chegou.

Qual a sua avaliação sobre o governo Dilma?
A Dilma é tecnocrata, com estilo diferente do seu antecessor, o Lula. Mas o conteúdo é o mesmo. O Brasil vive momento em que se aproxima de crise na qual já vivenciou e não vemos medidas que olhem para o trabalhador.

O PSTU vai disputar a eleição presidencial mais uma vez. O partido possui quadros para governar o País numa eventual vitória nas urnas?
Defendemos a participação do trabalhador e suas organizações de classe. Defendemos modelo em que o cidadão possa discutir as demandas de interesse comum. Não podemos ter Congresso Nacional fazendo o que bem entende e não defendendo os interesses do cidadão. Governo do PSTU não seria de partido, mas com participação plena dos trabalhadores.

Como está a organização para a disputa eleitoral?
O PSTU é partido que não recebe dinheiro de empresários justamente para não ficar com o rabo preso com ninguém. Esse é um dos grandes motivos da corrupção do País. As grandes empreiteiras despejam dinheiro em determinadas candidaturas para posteriormente ter retorno com a realização de obras. O nosso gasto com a eleição será pequeno em comparação com outros candidatos. Por isso acreditamos na nossa militância, nos jovens que acreditam nas nossas ideias. Não pagamos cabo eleitoral. Quem estiver na rua são aqueles que acreditam nas nossas propostas. Mas é claro que faremos uso da internet e das mídias sociais para propagar nossas propostas.

O sistema de disputa eleitoral no Brasil é justo?
Para ter ideia, eu deverei ter cerca de 30 segundos de tempo de televisão. A Dilma deve chegar a seis minutos. Isso é justo? Claro que não. Há distribuição desigual do tempo de televisão, sem falar no apoio midiático que determinados candidatos vão ter na eleição.

Como está a discussão de candidaturas do PSTU no Grande ABC?
Esse é debate que ainda iniciamos, mas a tendência é que vamos ter candidatos a deputado. Em 2012, tivemos candidatos a prefeito (Lígia Gomes em São Bernardo e Ivanci Vieira dos Santos em Diadema) então vamos conversar a respeito disso.




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