Para quem visita Visconde de Mauá, o grande dilema é: encarar a água fria e curtir as cachoeiras ou ficar só olhando, bem sequinho. Essa importante decisão pessoal é a única angústia que pode ocorrer na cidade, localizada na Serra da Mantiqueira, que tem talento especial para conciliar opostos. Por exemplo, embora pertença oficialmente ao Estado do Rio de Janeiro, tem jeito bem mineiro de receber os visitantes, que inclui mesa farta e muito capricho nos detalhes.

A habilidade de resolver contrastes de forma construtiva tem tudo a ver com o desenvolvimento do turismo por lá. Nos anos 1980, Visconde de Mauá era o destino favorito da moçada meio alternativa, que queria, nem que apenas por alguns dias, curtir o estilo de vida hippie que se instalou na região nos anos 1970. Ao longo dos anos 1990, muitos fãs do município resolveram mudar de vida, largar a gravata ou os saltos altos e abrir uma pousada ou começar a cultivar produtos orgânicos. Essa leva de ex-yuppies (young urban professionals) que adotaram a cidade e seu estilo de vida tranquilo como lar trouxe um elemento de eficiência e profissionalismo para a hotelaria e para os restaurantes de Visconde de Mauá, que é raramente alcançado no País.

A história do chef e restauranteur Julio Buschinelli é exemplar. Andreense que estudou no Américo Braziliense e trabalhou com a implantação de projetos em várias fábricas da região, ele resolveu seguir seu coração, que ouvia o chamado das panelas. E percebeu que a Mauá fluminense permitiria que ele desenvolvesse um restaurante com proposta mais ambiciosa em termos de sofisticação. Algo que combinaria bem com a sua formação no CIA (Culinary Institute of America). A partir dessa visão, Buschinelli desenvolveu o conceito do Rosmarinus Officinalis, com menu repleto de receitas criadas por ele em que peixes e massas recheadas são destaque. Aliás, os recheios das massas muitas vezes são propostas pouco usuais, e aí é que está a graça de comer por lá. Tudo é autoral e delicioso.

A conciliação entre o jeito de trabalhar dos ex-executivos com o ritmo hippie e a candura das cidades pequenas deu frutos interessantes e muito saborosos para os visitantes. A gastronomia local, por exemplo, combina influências da culinária mineira tradicional com pratos internacionais clássicos e também com traços gastronômicos da moda. Tudo sempre feito com produtos orgânicos produzidos na região. O resultado é que as indulgências à mesa não chegam a gerar culpa em quem as devora por se tratarem de alimentos 100% saudáveis e preparados com um nível de excelência que justifica cada caloria. No front do cultivo e criação, destacam-se especialidades como o pinhão, cogumelos e a truta salmonada, que é alimentada com betacaroteno para ganhar tonalidade alaranjada, como o salmão.

Além disso, coerentes com a vocação romântica do destino, muitas pousadas da região não aceitam crianças e capricham nos detalhes sedutores para os casais.

Semente da Araucária será festejada até o dia 31

Conforme o friozinho vem chegando, as araucárias começam a entregar seu presente: o pinhão. Abundante em cidades serranas e geralmente consumido simplesmente cozido, o fruto inspirou um concurso gastronômico em Visconde de Mauá que neste ano chega à sua 22ª edição.

O objetivo é desafiar os cozinheiros locais a elaborar pratos que tenham o pinhão como ingrediente para encantar o palato dos visitantes da cidade, que vão justamente em busca de lindas paisagens, tranquilidade, friozinho e boa comida.

A proposta de criar receitas que possam se beneficiar do sabor do pinhão anima os chefs de cozinha a irem além do trivial e surpreenderem. Todo esse clima de excelência gastronômica atrai grandes nomes da culinária para a competição de Visconde de Mauá, que neste ano será de 16 a 18 de maio. Nesses dias, 12 mestres-cucas do município e convidados darão aulas abertas ao público sobre temas variados.

A lista de chefs badalados que já confirmaram presença no júri inclui Ana Luiza Trajano, proprietária do restaurante paulistano Brasil à Gosto, que traz para a Capital paulista pratos da culinária regional com grande requinte.
Olivier Anquier é francês, adotou São Paulo como lar, mas já rodou muito o País em busca da brasilidade das receitas regionais. Atualmente, além da sua marca de pães, Anquier pilota o restaurante L’Entrecote D’ Olivier e também vai avaliar os pratos do concurso.

A banca de juízes é complementada pelo chef Ivan Achcar, do restaurante Alma, também paulistano, que trabalha na confluência na cozinha das várias influências étnicas que a Capital apresenta.
A originalidade da culinária amazônica é a credencial de Daniela Martins, do premiadíssimo restaurante Lá em Casa, de Belém, no Pará, para que ela julgue os concorrentes. Assim como o conhecimento dos ingredientes e a mão abençoada da baiana Tereza Paim, do restaurante Casa de Tereza, um dos mais queridos e bem avaliados de Salvador.

O público também poderá votar por meio do júri popular. Neste caso, o convite será uma camiseta no valor de R$ 60. Os vencedores do ano passado foram a entrada Delícias de Uma Noite de Inverno; o prato principal feito de coxa de frango recheada com farofa de pinhão e a sobremesa Delícia Gelada de Pinhão.

De 1º a 31 de maio a cidade celebra o fruto com o Mês do Pinhão e a maioria dos restaurantes da região estará servindo pratos que o incluem como ingrediente. Haverá também o 9º Salão do Pinhão, que tem foco nas artes visuais, e o Sabores da Montanha, onde produtores orgânicos da região são apresentados.

Também estão programadas visitas às áreas de produção de araucária, cogumelo, truta e a uma criação de cabras.