Política Titulo Entrevista
Campanha do PSDB será
contra o modelo, diz Aécio

Em entrevista exclusiva, pré-candidato fez
críticas ao PT e mencionou propostas de governo

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
06/04/2014 | 07:35
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Celso Luiz/DGABC


Pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, o senador Aécio Neves sustentou ontem que a campanha tucana está preparada para “enfrentar e vencer” Dilma Rousseff (PT), provável postulante à reeleição ao Planalto em outubro, ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “A nossa disputa é contra um modelo. Os dois representam o mesmo modelo, de aparelhamento político, apadrinhamento e ineficiência”, alegou ele, ao falar sobre eventual substituição do nome petista nas urnas. O senador compareceu à sede do Diário e concedeu entrevista exclusiva, fazendo, principalmente, duras críticas à administração do PT e mencionando propostas de governo, caso seja eleito. “A primeira medida, além de cortar pela metade esse vergonhoso número de ministérios hoje existentes (são 39), é criação de uma secretaria extraordinária com prazo de seis meses para apresentar projeto de simplificação da carga tributária.” Aécio frisou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), juntamente com parlamentares governistas, adotou ações antidemocráticas para esvaziar a CPI da Petrobras, que a oposição pretende instaurar no Congresso Nacional. Diante do cenário desfavorável, Aécio adiantou que um grupo da Casa comparecerá terça-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) para garantir apoio às investigações de possíveis irregularidades cometidas na estatal. O tucano lamentou também a fórmula do programa Mais Médicos e a entrega de apenas 23% das obras prometidas de legado para a Copa do Mundo no Brasil. “É mais um retrato da incompetência desse governo.”

DIÁRIO – Qual é a expectativa dessa pré-campanha eleitoral, realizando ciclo de palestras?
AÉCIO NEVES – O PSDB não tem a opção, mas a obrigação de, ao lado dos nossos aliados, apresentar um proposta alternativa ao Brasil em relação ao tudo isso que está aí e cada vez fica mais clara a necessidade de nós iniciarmos um ciclo novo no País. De meritocracia na gestão pública, baseada na eficiência e em resultados. Estou muito confiante. Acho que o País clama por mudança e quem representa mudança efetiva, segura é o PSDB, que está construindo sua plataforma por meio de encontros, como esse em São Caetano. Estive em 14 regiões paulistas. São Paulo será absolutamente decisivo, não só pela pujança econômica, questão demográfica e contingente eleitoral, mas porque expressa o País, que depende muito do vigor do Estado. Por isso, tenho dado atenção especial a São Paulo nessa nossa caminhada. O País deve muito ao Grande ABC. Nós queremos a retomada do fortalecimento da indústria. Hoje há gravíssimo processo de desindustrialização, sem ação efetiva do governo.

DIÁRIO – O sr. fala em desindustrialização num momento de dificuldade do setor automobilístico: a GM decretando férias coletivas, a Mercedes-Benz fechando turno, com possibilidade de demissões. Como a União pode agir para que o setor industrial retome o crescimento?
AÉCIO – Uma política fiscal austera, centrada no centro da meta, reconexão das empresas brasileiras nas cadeias globais de produção, o que não tem ocorrido. Perdemos competitividade. A indústria participa hoje com 13% da construção do PIB (Produto Interno Bruto). Estamos perdendo mercado, não temos conexão. Esse isolamento que o governo do PT levou precisa ser corrigido rapidamente. Percebo que estamos vivendo final de ciclo de governo que desqualificou a máquina pública. O custo-Brasil é altíssimo. Não houve ação efetiva para reduzi-lo, seja investimento em infraestrutura ou da organização do próprio Estado, que possibilitaria, com diminuição dos gastos correntes, abrir espaço para queda da carga tributária. Tenho dito que a primeira medida do governo do PSDB, além de cortar pela metade esse vergonhoso número de ministérios hoje existentes (são 39 Pastas), é a criação de uma secretaria extraordinária com prazo de validade de seis meses para apresentar projeto de simplificação da carga tributária visando acabar com esse emaranhado de impostos diretos que temos hoje. Não podemos continuar crescendo 2%.

DIÁRIO – Qual a análise que o sr. faz diante da proposta de CPI do Fim do Mundo, com série de objetos para apuração?
AÉCIO – Essa CPI não surge por bravata da oposição e sim por conta de denúncias de extrema gravidade. O que temos hoje é a estrutura do Estado sendo usado a serviço de projeto de poder. Me lembro que antigamente em época de campanha de forma leviana diziam que o PSDB iria privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil. O que queremos é o contrário: reestatizar a Petrobras, tirar das garras de grupo político que se apoderou da empresa para fazer negócios, gerando prejuízos imensuráveis. Vamos na terça-feira ao STF (Supremo Tribunal Federal) para cobrar providências, porque a decisão do presidente (do Senado) Renan (Calheiros, PMDB) afronta a democracia. Queremos saber as orientações para que esse negócio da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, ocorresse. A participação de cada integrante da empresa. A presidente da República dirigia o conselho de administração da Petrobras e omitiu por oito anos esse mau negócio e que tinha sido, segundo nota do Planalto, enganada por parecer falho e incompleto. O Brasil tem direito de saber. Renan decide que pode ter a ela incorporado outros temas. Significa que se prevalecer essa decisão jamais teremos CPI para averiguar qualquer governo, pois bastaria a maioria governista colocar dez, 20 questões para não investigar nada. Não sou contra outros assuntos, mas cria outra CPI e não hajam para impedir a apuração. O PT tem medo e por isso quer nos emparedar.

DIÁRIO – Seria receio sobre quais fatores, senador?
AÉCIO – É medo de que isso alcance lideranças do partido. A mídia mostra relações perigosas de caciques do PT com criminosos. A Petrobras virou instrumento de arrecadação de dinheiro para campanha ou enriquecimento pessoal. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) era entidade de excelência, respeitada, fora de administrações. O PT aparelhou o Ipea, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado é esse: o País inteiro foi levado ao vexame de constatar algo que não existia na divulgação da pesquisa (que relata, agora, que 26% concordam que mulheres com roupa curta merecem ser atacadas, e não 65%). Isso mancha, macula. Essa, talvez, seja a maldita herança do PT: aparelhamento indiscriminado da máquina, que gera ineficiência e corrupção.

DIÁRIO – Esse retrato apresentado pelo Ipea, na sua concepção, foi por má-fé ou incompetência?
AÉCIO – Incompetência. Não acredito em má-fé, porque está emparelhado. Se olhar critérios para indicação de diretores dessas instituições é filiação partidária. Não é o mérito, currículo, história das pessoas. O PT está levando ao desmanche o Estado.

DIÁRIO – Mas falar em impeachment neste momento não é um exagero?
AÉCIO – Não tenho falado. A CPI é instrumento adequado. Disse ontem em Minas Gerais e repito: a presidente não é mulher desonesta, é proba, de bom, do ponto de vista pessoal, de caráter. Só não estava preparada para governar e não conseguiu se impor por pressão do seu partido e da base aliada. Hoje, ela é refém de armadilha do próprio PT, na qual cada cinco segundos na televisão vale um ministério, um diretoria de empresa e não importa quem vai para o cargo.

DIÁRIO – O sr. que acredita na hipótese do ‘Volta, Lula’ se a presidente Dilma começar a ter forte desgaste?
AÉCIO – É uma questão para o PT. Quero dizer que estou preparado para enfrentar e vencer seja Lula, seja Dilma, quem eles quiserem, pois a nossa disputa é contra um modelo. Os dois representam o mesmo modelo, de aparelhamento, apadrinhamento, ineficiência, alinhamento ideológico com países que não prezam a democracia. É contra isso que nos preparamos para enfrentar. Que eles definam quem será o candidato. A gente sabe e é claro que tem movimentos de dentro do partido pelo retorno do ex-presidente Lula.

DIÁRIO – O sr. usou o discurso do inchaço da máquina pública. Há um diagnóstico do que é a gordura que possa ser cortada de ministérios?
AÉCIO – O agora ex-governador (de Minas Gerais) Antônio Anastasia, um dos mais qualificados gestores do País, vai coordenar esse mapeamento da estrutura do Estado para funcionar. Resgatar as agências reguladores, que o PT se apropriou para colocar a ‘companheirada’ e fazer negócios, como a na de água, recentemente. Vamos fortalecer como instrumento de Estado, com gente qualificada e metas a serem cumpridas. Falo com autoridade de governador (de Minas), onde 100% dos servidores são avaliados por desempenho. Alcançada a meta ele recebe 14º salário. Isso nos levou a ter a melhor Educação do Brasil. Essa é a verdadeira revolução que queremos. Vivemos no País do desperdício.

DIÁRIO – Em relação a gastos públicos. O que dá para dizer sobre as obras para a Copa do Mundo?
AÉCIO – Infelizmente o legado prometido nós não teremos. Isso porque 23% apenas das propostas prometidas pelo governo serão entregues. As obras de mobilidade urbana, infraestrutura, aeroportos, ficou para frente. A Copa do Mundo é mais um retrato da incompetência do governo do PT, que demonizou por dez anos as parcerias com o setor privado, considerando como lesa pátria, e agora faz no final de forma atabalhoada, sem convicção e o legado virá no governo do PSDB.

DIÁRIO – O PT perdeu a moral de dizer que o PSDB seria partido privatista? Esse argumento não pode usar na campanha?
AÉCIO – Eles se curvaram diante da necessidade das privatizações e agora fazem de forma ineficiente. Os dez anos que perdemos no tempo enquanto eles demonizavam não volta mais. Não temos direito de perder mais quatro anos.

DIÁRIO – E sobre a vitrine do governo federal na Saúde, o Mais Médicos. Como o sr. enxerga a execução desse programa?
AÉCIO – Não sou contra o Mais Médicos. Sou a favor de mais Saúde. Não vamos acabar com o programa, mas aprimorá-lo. Não vamos permitir discriminação que se faz com médicos cubanos. Com o PSDB, os cubanos vão receber o mesmo que recebem os médicos de outros países e não 30%. É inaceitável a subserviência de uma democracia sólida como a do Brasil a uma ditadura cubana. Só isso justifica 70% ir para cofres do governo cubano.

Com discurso de mudança, evento de Aécio é marcado por críticas ao PT

Protagonizado pelo senador Aécio Neves, virtual candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o evento realizado ontem pelo tucanato regional, em São Caetano, se transformou em palanque contra o PT, originado no Grande ABC e principal adversário na eleição presidencial de outubro. O encontro político reuniu cerca de 1.000 pessoas em restaurante da cidade, entre elas, lideranças do partido e aliados, que usaram o momento para atacar as gestões e candidaturas petistas nas esferas estadual e nacional.

Representando o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, José Auricchio Júnior (PTB), fez discurso inflamado ao frisar que Aécio figura a “mudança efetiva” frente ao atual modelo. “Em qualquer pesquisa, quase 70% dos entrevistados querem alteração. Além de carisma, ele tem o perfil adequado para impulsionar essa mudança de rota, que o País necessita”, disse o ex-prefeito petebista. O senador é economista e ex-governador de Minas Gerais.

Aécio prometeu “ética e eficiência” à frente do governo federal, caso seja eleito ao posto máximo da República. O ato marcou a primeira visita do senador ao Grande ABC desde que foi formalizado como pré-candidato a presidente. Ele disse que sempre ouviu falar que o “Grande ABC era o curral eleitoral do PT”, mas que a proposta do PSDB vai desconfigurar essa imagem. “Eles vão provar do próprio veneno”, alegou. Antes de ir ao evento, o tucano foi recebido na sede do Diário pelo diretor-presidente do jornal, Ronan Maria Pinto.

O deputado federal William Dib (PSDB) argumentou que a região precisava contar com essa presença física de Aécio para “conhecer os problemas de perto”. “Foi importante por conta do objetivo traçado de nos aproximar da sociedade.”

Integrante do núcleo da iminente campanha de Aécio, o deputado estadual Orlando Morando (PSDB) sinalizou que o grupo enxerga o eixo da região como vital sob o aspecto econômico, de potencial tecnológico e de densidade política. Segundo o parlamentar, a ocasião é oportuna diante das denúncias de irregularidades na Petrobras. “O ex-presidente Lula (PT) apresentou a Dilma (Rousseff, PT) como grande gestora, mas agora o Brasil descobre que ela é uma gerente que não lê o que assina.”

As declarações do deputado referem-se à compra de metade da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A aquisição de 50% do local, pelo valor de US$ 360 milhões, em 2006, levantou suspeitas de superfaturamento. O caso obteve maior visibilidade quando constatado que, à época, quem presidia o Conselho de Administração da estatal e, consequentemente, deu aval à operação, era a atual presidente da República. “Mostra que não tem capacidade, sem firmeza nas decisões e quando de uma crise, acuada. É a Passadilma”, completou Morando.

MENSALÃO
Futuro aliado do PSDB, o deputado federal Paulinho da Força, mandatário nacional do Solidariedade, frisou que o caso na Petrobras deixa até mesmo envolvidos no escândalo do Mensalão como “ladrão de galinha”. “É tanta coisa errada que deixa esse pessoal no chinelo”, assinalou, criticando a atuação de Lula, padrinho político de Dilma. “Ele colocou um poste que não consegue fazer nada no comando.” Recentemente, Lula e Dilma se encontraram para tentar minimizar a crise que envolve a estatal.

O senador questionou a articulação do governo federal para barrar a CPI da Petrobras. “Não é instrumento condenatório. É investigação. O que me surpreende é que a presidente deveria ser a maior interessada em esclarecer os fatos.”
 




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