Economia Titulo Indústria
Setor automotivo dita queda no emprego

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego
mostram que segmento responde por 91% dos cortes

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
22/03/2014 | 07:17
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Arquivo/DGABC


A queda no emprego da indústria da cadeia automotiva no Grande ABC está provada por números no banco de dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Em cinco anos encerrados e fevereiro, o setor industrial da transformação perdeu 8.499 postos de trabalho e atingiu estoque de 239.921 profissionais. Dessa redução, 91% estão no subgrupo indústria de materiais relacionados ao segmento de transportes. Como a maioria na região atua no segmento para veículos rodoviários, os números apontam que o ramo de autopeças tem sido, de fato, muito prejudicado pelos produtos chineses, tanto que acabaram demitindo.

Por outro lado, o setor de serviços ampliou seu contingente em 63.486 trabalhadores, totalizando estoque de 338.045 pessoas. Deste número, 71% estão incluídos no segmento que inclui transportes (como companhias de ônibus, de táxis e logística), comunicação, serviços prestados às empresas (suporte de TI, contabilidade, advocacia, segurança, call center e limpeza) e às famílias (cabeleireiros, escolas e mecânicos) e atividades imobiliárias.

A situação do setor de serviços, ao contrário da indústria, indica melhores resultados. De 2009 para cá, desde que a crise financeira mundial começou a soltar faíscas no Brasil, o crescimento do emprego nessas empresas respondeu por 52% da alta do acréscimo de trabalhadores no Grande ABC.

Em fevereiro daquele ano, o estoque de postos de trabalho formais era de 691.299 profissionais. No decorrer desses cinco anos, até o fim do mês passado, o efetivo aumentou em 121.809 vagas.

COMBATE - Quando não suportam mais manter os seus gastos, as companhias têm como uma das últimas opções cortar o quadro de funcionários ou, conforme destacou o professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio, encerrar certo tipo de atividade dentro da fábrica, dispensar os funcionários que ali atuavam e contratar uma prestadora de serviço para suprir essa lacuna desembolsando menos.

De qualquer maneira, essas reduções de gastos têm ocorrido no Grande ABC, principalmente com as micro e pequenas empresas que fornecem aos sistemistas. Com volume menor de encomendas, elas demitem. Os sistemistas são firmas que montam conjuntos e sistemas para as montadoras de veículos. E, teoricamente, para não perder contratos comerciais, garantem preços menores importando peças chinesas para montar seus materiais.

Para Maskio, isso também é reflexo do processo de internacionalização das cadeias produtivas. “Sem contar que a indústria no País, de modo geral, tem problemas de capacidade de oferta, e isso é limitador de capacidade de gerar emprego”, destacou.

A capacidade de oferta, naturalmente, é prejudicada pela falta de estímulos ao investimento. Atualmente, observou o diretor do Ciesp de São Bernardo, Hitoshi Hyodo, os empresários enfrentam muitas dificuldades para adquirir crédito a um custo baixo – o que viabilizaria o aporte para modernizar as linhas de produção e atender a mercados que exigem maior tecnologia aplicada nos produtos. Dessa forma, naturalmente seria ampliado o combate à entrada de importados no País, a exemplo dos chineses, que têm preços bem menores.

O diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, destacou ainda que, infelizmente, a cultura do empresário brasileiro não é a de desenvolver, mas de produzir apenas utilizando tecnologias importadas. Desde que o parque industrial da região foi formado, citou ele, o costume já era este, de apenas montar, não de desenvolver tecnologia.

EM CRESCIMENTO - Enquanto a indústria reduz o quadro de funcionários no Grande ABC, o setor de serviços amplia. Maskio destaca que parte desta ascensão é reflexo do fim de alguns setores dentro das fábricas, por opção à contratação de serviços terceirizados. Com isso, foi propiciada a migração daqueles trabalhadores demitidos, que não conseguiram se recolocar mais no setor industrial, muitas vezes por falta de qualificação, e acabam ocupando vagas em companhias de serviços, ou até empreendendo no setor.

Na região, o segmento de teleatendimento ganha destaque, tendo em vista que emprega hoje, aproximadamente, 15 mil pessoas. Mas, segundo o diretor regional do Sintetel-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo), Mauro Cava de Britto, essas empresas não são responsáveis pelo aumento do contingente do segmento de serviços.

“Temos praticamente 96% de troca de funcionários por ano nas companhias. E, nos últimos cinco anos, houve estabilidade no número de trabalhadores, talvez um leve crescimento”, garantiu.

Ele acrescentou ainda que não há migração dos demitidos da indústria para esse tipo de companhia, principalmente pela remuneração, que não é compatível. “Normalmente, o rendimento é um pouco mais do que um salário-mínimo (R$ 724)”, diz.

No entanto, essa dispensa dos trabalhadores do setor industrial pode influenciar indiretamente no aumento do número de vagas em teleatendimento. “Cerca de 70% são mulheres, mães que contribuem com a renda da família ou jovens que estão no primeiro emprego.”
 




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