Economia Titulo Trabalho
Indústria encolhe e
serviços contratam 63 mil

Emprego com carteira no setor encolheu em 8.499
postos em cinco anos; previsão é de continuidade

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
20/03/2014 | 07:05
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Nario Barbosa/DGABC


O mercado de trabalho do Grande ABC vive tempos difíceis quando o assunto é a indústria. O setor perdeu 8.499 trabalhadores em cinco anos encerrados em fevereiro, período em que o estoque de empregados formais somou 239.921 posições. No mesmo intervalo, as empresas de serviços aumentaram o contingente em 63.486 profissionais registrados, o suficiente para totalizar 338.045 carteiras assinadas no mês passado.

Para se ter noção do tamanho do crescimento do mercado de trabalho de serviços na região, o segmento respondeu por 52% da expansão de empregos com registro em carteira, na comparação dos cinco anos. De 2009 para cá, quando o estoque era de 691.299 profissionais, houve acréscimo total de 121.809 vagas.

Com isso, as empresas instaladas no Grande ABC – considerando também os outros setores, como comércio e administrações públicas –, registraram 813.108 empregados até o fim de fevereiro. As informações são do Ministério do Trabalho e Emprego.

O período de comparação, de 2009 a 2014, abrange o início do impacto da crise financeira mundial no País, que começou em setembro de 2008 com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers e influenciou todos os mercados financeiros do mundo, posteriormente os governos e, consequentemente, as companhias. No Brasil, o governo trabalhou para fortalecer o escudo para esse cenário com a expansão do crédito pessoa física e do consumo. Por outro lado, segundo os empresários e especialistas, não houve incentivo suficiente para ampliar os investimentos.

Desta forma, as indústrias da região que atuam em mercados nacionais e internacionais sofreram, como todas as outras do território brasileiro. Ainda mais porque vêm enfrentando, nos últimos cinco anos, movimento de desaquecimento econômico, queda de competitividade, menor acesso ao crédito e carga tributária que eleva seus custos e preços finais. Por isso, e pelas incertezas dos empresários quanto ao futuro da economia do País e de suas próprias instalações, eles vêm reduzindo o quadro de funcionários como forma de manter as margens e, muitas vezes, as portas abertas.

O professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio afirma que o cenário para a indústria não é favorável para os próximos meses, principalmente porque não há aportes do governo suficientes e que, quando começarem a ser feitos, levarão alguns anos para gerar bons resultados para o setor. “Sem contar que outro fator é a tecnologia, que gera uma substituição. Caso a empresa amplie a produção com novas máquinas, pode haver a diminuição de postos de trabalho.”

Diretor do Ciesp (Centro da Indústria do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Hitoshi Hyodo se mostrou preocupado com a situação e diz ter consciência de que fevereiro foi o quarto mês consecutivo de demissões na indústria da região. Ele entende que a Copa do Mundo de futebol só prejudica a produção no País, tendo em vista que as atenções se voltam ao evento e são geradas incertezas sobre o futuro da economia. “A perspectiva não é boa. No mínimo, você tira o pé, não contrata em situação como essa. Deixa o empresário mais atento ao cenário econômico.”

Hyodo vai além, e destaca a dificuldade que as médias e pequenas indústrias enfrentam para conseguir crédito, com juros mais baixos, quando a situação está ruim. “Isso falando do pior tipo de dinheiro, aquele que você empresta para pagar dívidas (e não para investir e elevar a produção)”, avalia. Por esse motivo, como também pela baixa competitividade desencadeada pela alta carga tributária e a entrada massiva de produtos importados da China no País, Hitoshi acredita que o emprego na indústria caminhará “de mal a pior” em 2014 e, consequentemente, em 2015.

Para o diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, há uma interpretação errônea do governo federal em comemorar o aumento do emprego em geral, com base na elevação do contingente de serviços, tendo em vista que o segmento tem menor remuneração média em relação aos postos da indústria. “Nós temos uma quantidade de mão de obra extremamente desqualificada, fora do mercado de trabalho, sem capacidade para atender a indústria quando ela demandar, criando subempregos e comemorando por isso”, criticou. Sem contar que muitos dos que perdem sua vaga na indústria dificilmente conseguem se recolocar no setor, buscando, como alternativa, trabalho em serviços, e ganhando menos.

Maskio acrescenta que há a expectativa de continuidade de expansão do emprego no segmento, principalmente porque ele está totalmente ligado ao aumento da renda no País – mesmo que em menor proporção se comparado à indústria –, o que gera mais demanda. Também porque engloba empresas que não sofrem concorrência com importados.
 




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