Economia Titulo Seu bolso
Cheque especial sobe
cinco vezes mais que Selic

Modalidade não tem garantias de que o dinheiro
será pago e nem quando, o que aumenta seu risco

Soraia Abreu Pedrozo
02/02/2014 | 07:28
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Os nove principais bancos que atendem os consumidores da região ficaram longe de repassar apenas o aumento da Selic em seus juros do cheque especial. Eles aplicaram, em média, cinco vezes mais o encarecimento da taxa básica nacional em suas operações.

Entre a primeira semana de 2013 e o mesmo período deste ano, a Selic passou de 7,25% ao ano para 10%, incremento de 2,75 pontos percentuais.

Na mesma comparação, os juros médios do cheque especial do grupo de bancos subiu de 146,19% ao ano (7,79% ao mês) para 161,14% (8,32% ao mês). O acréscimo atingiu 14,9 pontos percentuais, o mesmo que 5,4 vezes a alta da Selic.

As informações são do BC (Banco Central). Segundo a autoridade monetária, estão incluídos “o custo efetivo médio das operações de crédito para os clientes, composto pelas taxas de juros efetivamente praticadas pelas instituições financeiras em suas operações de crédito, acrescido dos encargos fiscais e operacionais incidentes sobre as operações”.

Integram o grupo a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco Safra, Bradesco, Itaú Unibanco, Banco Mercantil do Brasil, HSBC, Santander e Citibank. As instituições fornecem ao BC essas informações, portanto, o órgão federal deixa claro que não é o responsável pelos percentuais.

“Todas as taxas de juros vão subir mais do que a Selic. E, quanto maior o risco para os bancos, mais juros estarão embutidos. É o modelo financeiro utilizado aqui no País”, diz o professor de Cálculo e Finanças da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica) e do Centro Universitário UNA, Leopoldo Garjeda Fernandes.

A grosso modo, a Selic é o preço que os bancos pagam para comprar o dinheiro. E, para emprestar esses recursos, eles fazem uma previsão sobre as chances de os clientes não honrarem as parcelas. Este é um dos fatores que influenciam o preço do crédito. No caso do cheque especial, no qual as instituições não têm garantias de que vão receber o dinheiro, menos ainda são avisadas sobre quanto emprestarão e quando irão pagar, o risco fica mais acentuado.

Pela facilidade de contratação e o alto risco de inadimplência para a instituição, os juros estão entre os mais caros para os consumidores. O empréstimo pessoal, por exemplo, tem juros médios de 45,93% ao ano (3,20% ao mês), segundo última pesquisa, de dezembro, da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

Por isso, orienta o professor do Laboratório de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração) e da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Keyler Carvalho Rocha, é necessário cuidado na utilização do cheque especial. “É uma espécie de guarda-chuva. É uma facilidade que você tem sem precisar avisar o banco, sem previsão de pagamento, e o risco aumenta muito para as instituições (que elevam os juros por isso).”
Mesmo sob estas condições, o vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia de São Paulo e professor de Matemática Financeira do Insper, José Dutra Sobrinho, critica que o custo do cheque especial é muito alto no Brasil. “Em Portugal, por exemplo, existe um limite no custo dos empréstimos de cinco vezes o custo de captação dos bancos. Aqui no Brasil não há limite.”

Para ele, os bancos podem até se defender que diminuíram a relatividade. Na primeira semana de 2013, o custo do cheque especial era 20 vezes maior do que a Selic, e no mesmo período para este ano, caiu para 16 vezes. “Mesmo assim, enquanto o banco paga R$ 110 para captar R$ 100, ele empresta a mesma quantia por R$ 261, ou seja, R$ 161 de juros. São R$ 151 de diferença, é muita coisa”, avalia Dutra Sobrinho.
 




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