Economia Titulo Defesa
Governo anuncia
compra de 36 caças suecos

Com investimento de US$ 4,5 bi, Dilma opta pelo
Gripen NG, da Saab, para renovar a frota da FAB

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
19/12/2013 | 07:10
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Divulgação


A disputa entre a francesa Dassault, com o avião caça Rafale, a sueca Saab, com o Gripen NG, e a norte-americana Boeing, com o Super Hornet F-18, chegou ao fim. Ontem, após cinco anos de intensa competição pela renovação da frota de 36 aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira), e 19 anos de discussão sobre o assunto, a presidente Dilma Rousseff bateu o martelo e optou pelo Gripen NG. Serão investidos US$ 4,5 bilhões (R$ 10,4 bilhões), a serem pagos até 2023.

O contrato prevê transferência de tecnologia e cooperação industrial. O Gripem NG substituirá os Mirage 2000, que serão aposentados amanhã.

A FAB informou que a aeronave permitirá ao Brasil enfrentar ameaças em qualquer ponto do território nacional com carga plena de armas, além de contribuir para que a indústria nacional se capacite para a produção de caças de última geração em médio e longo prazos. “Somos de fato um país pacífico, mas não vamos ser indefesos. E aí a importância de todo esse processo de industrialização de defesa”, afirmou Dilma.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Jefferson José da Conceição, pela proposta em discussão, metade da aeronave será produzida no Brasil e, a outra, na Suécia. “O País produzirá até 80% da estrutura mecânica e 40% da engenharia de projetos.”

Ao optar pela fabricação do caça em território nacional, o projeto estabelece, de acordo com Conceição, que são necessários 2.090 empregos por ano na fase de desenvolvimento, 2.770 no processo de fabricação e 1.000 na montagem, totalizando 5.860 postos. “Número que pode ser multiplicado quando se considera também o impacto indireto. A maioria dos empregos terá elevada capacitação.”

Em julho, a secretaria anunciou que a Saab poderia construir fábrica de aeroestruturas em São Bernardo caso o Gripen NG fosse o escolhido. Questionada, no entanto, a Saab não se manifestou sobre o assunto.

Na avaliação do vice-diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo Mauro Miaguti, é imprescindível que no contrato dos caça esteja explícita a transferência de tecnologia e de contratação de mão de obra local. “O que tem acontecido muito por conta da crise na Europa é a contratação de profissionais de fora para os melhores cargos, deixando apenas a montagem por conta dos brasileiros. Precisamos garantir emprego de qualidade e trazer esses investimentos para São Bernardo.”

Para o professor de Economia do Instituto Mauá de Tecnologia Francisco Funcia, a escolha pelos suecos e a possibilidade de construção de fábrica em São Bernardo trazem oportunidade interessante para o Grande ABC. “Trata-se de uma indústria de alta tecnologia que incentiva a inovação. Isso certamente deve frear o processo de esvaziamento de indústrias da região”, diz, referindo-se ao fato de muitas empresas, especialmente as do ramo automotivo, mudarem-se para o Interior ou fecharem as portas por conta da concorrência desleal com itens importados.

HISTÓRICO - Em 1994, o governo brasileiro começou a procurar interessados para substituir as aeronaves da FAB. No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi lançado o programa FX, que previa a compra de 12 aviões. A decisão, porém, foi postergada para a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que lançou o programa FX-2 e ampliou o volume para 36 caças.

Em 2009, Lula havia declarado seu favoritismo e anunciado a opção pelo Rafale, da Dassault, mas voltou atrás porque a FAB não havia sido consultada e preferia o Gripen NG. Dilma assumiu o governo em 2011 e congelou a decisão durante os primeiros anos de seu governo. No início de 2013, o governo assinou com a Boeing contrato para vender avião de cargas da Embraer, e começou a ganhar espaço. Após as revelações de espionagem norte-americana contra a presidente e autoridades brasileiras, entretanto, perdeu terreno.

NA REGIÃO - De 2010 para cá, ao identificar possíveis aliados, as montadoras de aviões começaram a ‘mexer os pauzinhos’ e a oferecer benefícios caso fossem escolhidas. No Grande ABC, devido à proximidade do prefeito petista Luiz Marinho com o governo federal, São Bernardo tornou-se o alvo predileto das investidas no País.

A Saab, que saiu na frente, anunciou no fim daquele ano investimento de US$ 50 milhões em cinco anos para a constituição do Cisb (Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileira), que completou dois anos em maio com o objetivo de desenvolver pesquisa para os setores de Defesa e Segurança e transferir tecnologia sueca. O centro é o embrião do parque tecnológico são-bernardense, que está em fase de desenvolvimento.

A Boeing detectou na região, por intermédio da Prefeitura de São Bernardo, a possibilidade de encontrar subfornecedores. Pelo menos duas empresas, a MSM Powertrain (de serviços de logística, equipamento de apoio em solo e em engenharia) e a Pan Metal (faz montagem, instalação de subsistemas, peças usinadas, processamento e tratamento térmico) conseguiram contrato.

A Dassault havia condicionado a transferência de tecnologia à escolha do governo. A Omnisys, fabricante de radares de São Bernardo pertencente ao grupo francês Thales, que integra o Consórcio Rafale (do qual a Dassault faz parte), pretendia expandir de 250 para 1.000 funcionários se a francesa ganhasse a concorrência.
 




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