Política Titulo Mesmo sob pressão
Marinho passa por cima de educadores

Câmara de São Bernardo aprova Estatuto do Magistério, rejeitado três vezes pela categoria

Rogério Santos
Do Diário do Grande ABC
28/11/2013 | 07:29
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Em sessão tumultuada e com forte esquema de segurança, a Câmara de São Bernardo aprovou ontem o projeto de lei que institui o novo Estatuto do Magistério. O prefeito Luiz Marinho (PT) e aliados montaram verdadeiro esquema de guerra para avalizar a proposta, rejeitada três vezes pelos educadores em consultas. A oposição pretende levar o caso à Justiça.

O ponto mais polêmico da propositura é o fim do concurso público para diretor de escola, coordenador pedagógico e supervisor de ensino. Quando a lei entrar em vigor, esses profissionais serão contratados por meio de seleção interna e, depois, passarão por avaliação do comando da Secretaria de Educação. Na prática, favorecerá a indicação de profissionais ligados à titular da Pasta, Cleuza Repulho, que encontra resistência na rede municipal.

Como o plenário estava lotado, a Câmara foi fechada e um telão foi instalado no Teatro Cacilda Becker para quem não entrou acompanhar os trabalhos.

O clima tenso no interior da Câmara deu a tônica dos trabalhos. A oposição tentou de todas as maneiras evitar a votação do projeto. Na terça-feira, o vereador Julinho Fuzari (PPS) com pedido de liminar na Justiça solicitando que a matéria não fosse votada porque, segundo ele, não havia pareceres técnicos assinados pelas comissões permanentes.

A expectativa de postergar a votação da matéria naufragou na manhã de ontem, quando a juíza da 2° Vara da Fazenda Pública do município, Ida Inês Del Cid, acolheu ofício encaminhado pelo departamento jurídico da Prefeitura, alegando que os documentos tinham as rubricas.

A oposição continuou buscando meios de impedir a votação do projeto. Para isso, os oposicionistas pediam constantemente a suspensão dos trabalhos. Também apresentaram duas emendas ao texto da lei, rejeitadas pelos governistas.

A primeira versava sobre o novo processo de seleção para contratação dos profissionais, sugerindo que, além da Secretaria de Educação, as APMs (Associações de Pais e Mestres) também participasse do processo.

A outra solicitava a retirada do artigo 20 do projeto de lei, o qual institui vacância aos servidores de apoio técnico, como assistente social, psicólogo e fonoaudiólogo.

MANOBRA
O embate entre os vereadores governistas e de oposição foi acalorado, com críticas e elogios ao Estatuto do Magistério. No momento dos discursos, Ramon Ramos (PDT), um dos líderes do G-12 – grupo de 12 parlamentares insatisfeitos com a bancada do PT – pediu o fim das explanações com base no artigo 144 do regimento interno da Casa. O texto versa que a discussão pode ser encerrada se dois vereadores favoráveis e dois contrários discursarem sobre o mesmo tema.

Pela oposição, Pery Cartola (Solidariedade) e Osvaldo Camargo (PPS) haviam usado a tribuna. No campo governista, José Cloves e José Ferreira (ambos do PT).

Encerrada a discussão, o projeto foi a votação: 19 votos favoráveis (veja arte acima) e oito contrários, seguindo o que os educadores queriam, mas insuficientes.

Com prédio fechado, 100 GCMs foram acionados

Alegando medida de segurança, o presidente da Câmara de São Bernardo, Tião Mateus (PT), determinou que o prédio do Legislativo fosse fechado após a lotação dos 359 assentos destinados a quem acompanhou a sessão. “Tínhamos de pensar na segurança das pessoas e não extrapolar o limite do público presente”, justificou o comandante do Legislativo.

Tião também solicitou reforço no efetivo da GCM (Guarda Civil Municipal). Foram destacados 100 guardas, 10% do efetivo total que atua nas ruas da cidade.

A medida foi tomada para impedir outra invasão no plenário, como ocorreu na semana passada, impedindo a votação do projeto. A ação dos GCMs prejudicou, inclusive, o trabalho dos profissionais de imprensa no local, que tinham dificuldade para se locomover.

Logo cedo, o plenário da Câmara foi tomado por apoiadores do Estatuto do Magistério e manifestantes contrários ao projeto. Desta vez, o grupo favorável – uniformizado com a camiseta “vote sim” – era maioria dentro do Legislativo. Isso porque funcionários comissionados do governo Luiz Marinho (PT), que não atuam na Educação, e seguidores do PT fizeram coro à aprovação do projeto.

A coordenadora pedagógica Shirley de Souza declarou que as camisetas foram compradas pelos próprios servidores favoráveis à peça. Ela comemorou a aprovação do projeto. “Estávamos esperando essa modificação no Estatuto do Magistério, que trará melhorias à categoria.”

Militantes do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) também estiveram na Câmara. A presença deles no interior da Câmara e a circulação pelo local causou incômodo nos vereadores da oposição e no bloco que foi à Câmara protestar contra o projeto.

Principalmente porque a presença deles não é comum durante as sessões. “Sou militante do partido e sempre participo de atividades políticas”, disse um petista, que não quis se identificar.

Apesar do espanto geral, Tião Mateus disse que os apoiadores do governo Luiz Marinho sempre vão à Câmara quando há projetos polêmicos em pauta.

Oposição planeja protocolar três processos na Justiça

A polêmica que envolveu a aprovação do Estatuto do Magistério está longe de acabar. A oposição planeja pelo menos três ações na Justiça, questionando a legalidade do projeto e para anular a sessão de ontem.

Secretário de Educação em São Bernardo durante 12 anos, o ex-vereador Admir Ferro (PSDB) acompanhou parte da sessão e não poupou críticas ao projeto. “Esse é um ato ilegal e imoral, que decreta a decadência da Educação em São Bernardo”, disse o tucano.

Segundo ele, a direção municipal do PSDB entrará com ação de ilegalidade do estatuto na Justiça. Para o tucano, a norma fere a lei federal 9.324/96, que determina que os profissionais do magistério tenham plano de cargos e carreira. “Eles vão retirar diretor e coordenador pedagógico, substituindo por cabos eleitorais. Querem ter o domínio da comunidade escolar”, disse Ferro.

A atual bancada de oposição no Legislativo também vai se mobilizar contra aprovação do projeto. Julinho Fuzari (PPS) vai apresentar pedido de anulação da sessão no Ministério Público, alegando que a presença de servidores comissionados e militantes petistas na Câmara comprometeu o andamento da sessão.

Pery Cartola (Solidariedade) também levará a aprovação do Estatuto do Magistério ao MP, alegando que a extinção dos cargos de apoio técnico será um retrocesso para o sistema municipal de ensino.

Com 20 anos de atuação, professora chora no plenário

Com 20 anos de atuação na rede municipal de São Bernardo, a diretora de escola Gabriela Reis não conteve as lágrimas durante a votação do Estatuto do Magistério. Num misto de tristeza e revolta, ela foi amparada para não passar mal. “É triste ver o que estão fazendo com a Educação em São Bernardo. Lutamos tanto e no fim deu nisso”, disse.

Mas nem mesmo as lágrimas da educadora sensibilizaram os vereadores que votaram favoráveis ao projeto.

A revolta de Gabriela com os rumos da política educacional do governo petista foi compartilhada por outros educadores.

Na semana passada, a educadora Iara de Lima Santana de 62 anos se acorrentou numa cadeira dentro do plenário da Câmara para impedir a votação do projeto de lei.

Durante três horas ela ficou atracada na cadeira em “luta pela democracia e em defesa da Educação”. A ação de Iara motivou o protesto que postergou a votação da propositura, na ocasião.

Outros professores também não escondiam o descontentamento com o resultado final da votação. “Nossa luta não acabou. Vamos para a rua levar esse debate”, prometeu o diretor de escola Marcelo Gonçalves.

O presidente do Sindserv (Sindicato dos Servidores Municipais), Giovani Chagas, seguiu na linha de continuar a discutir o estatuto, mas adotou discurso mais ameno. “Não temos autonomia para questionar a decisão dos vereadores, mas agora não existe grupo favorável ou contrário, temos de nos unir em busca de melhorias na Educação”, disse.

Quando o projeto do Estatuto do Magistério foi aprovado, às 12h45, os educadores mostraram indignação empunhando cartazes contra a medida. Mas, depois disso, foram deixando calados as dependências da Câmara.
 




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