A postura do herói imaginário popular inglês Robin Hood, que teria vivido na floresta de Sherwood no século XIII tirando riquezas de nobres para entregar aos camponeses, tem inspirado decisões do Palácio da Cerâmica. Se no passado os saqueados eram os nobres da coroa inglesa, hoje o prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro (PMDB), está interessado em repatriar benefícios entregues a pessoas da classe média, que não precisam, para distribuir a quem realmente se encontra em situação de vulnerabilidade social.

A expressão “efeito Robin Hood” é de autoria do próprio secretário de Assistência e Inclusão Social, Mário Chekin, a quem o chefe do Executivo atribuiu a missão de reorganizar o sistema. O recadastramento de beneficiados das 17 vertentes do Profamília – programa social implantado em 2007 –, que está em andamento, foi o primeiro passo tomado.

Para complementar a ação, o setor criou o Disque Justiça Social – canal para denúncias de irregularidades nos programas – e desenvolve um software, em parceria do setor de Tecnologia da Informação, que visa cruzar todos os dados do cidadão disponíveis em serviços públicos, com ênfase na Saúde.

“Não é possível ter 1.112 pessoas inscritas no Bolsa Família (do governo federal), 714 no Renda Cidadã (do governo estadual) e na cesta básica o número pule para 7.000. Os cadastros eram feitos de maneira arcaica, só em papel, com cópia de holerite e conta de luz”, relatou. O principal requisito para aquisição da maioria dos auxílios é não ultrapassar a renda familiar em um salário-mínimo – fixado em R$ 678 para 2013.

Diante dos dados, Chekin disse ter ido casa a casa averiguar a situação das famílias. “O número de mulheres separadas em São Caetano é o maior do planeta, assim como é a maior mentira do planeta. Uma beneficiada é separada, tem dois filhos e um baita carro novo na garagem. Fui à casa dela às 7h30 e quem me atendeu foi o maridão. A mulher me viu e disse: ‘Doutor, ele não mora aqui, ele dorme no carro’. Eu virei para o cara e disse: Parceiro, por R$ 100 (mensais), como é que você paga esse mico?”, exemplificou Chekin.

Para evitar situações como a relatada, os agentes do PSF (Programa Saúde da Família) foram incluídos como colaboradores da Pasta. Os servidores atuam por regiões onde, geralmente, são residentes e conhecem de perto a realidade da população local. “Um agente me contou sobre uma senhora de 86 anos que mora com a filha de 70 anos e que está acamada, sem mobilidade. Quando abriu o recadastramento dos benefícios, a filha não o fez, porque não podia sair de perto e deixar de cuidar da mãe. Eles não recebem o benefício”, ressaltou, ao observar que a ajuda serve tanto para tirar o auxílioo de quem não precisa receber quanto para dar a quem tem necessidade, mas não tem sido atendido.

Para o secretário, aplicando a justiça social em casos como os citados haverá economia e otimização dos recursos. O software em desenvolvimento, por exemplo, vai monitorar a situação social de várias famílias. “Têm pessoas de 70 anos que não estão acamadas, mas sentimos que vão ficar. Marca-se uma tarja para acompanhar essas pessoas nos próximos seis meses. O mesmo pode ocorrer para uma casa que tem uma menina de 17 anos que não trabalha. Será que nesse período ela vai fazer 18 anos, começar a trabalhar e aumentar a renda da família?”

Terminado o processo, o Paço promete lançar um cartão único que ofereça 12 linhas de assistência social. O investimento previsto para 2014 no setor é de R$ 34,55 milhões, o que representa 4,43% do Orçamento de 1,022 bilhão.