Política Titulo Após sociedade civil
Comissão da Verdade vira moda no Grande ABC

Vereadores pegam onda nos projetos sindicais sobre a ditadura, que completa 50 anos em 2014

Cynthia Tavares
13/10/2013 | 07:30
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 A busca pela elucidação das ocorrências no Grande ABC durante o regime militar (1964-1985) virou moda na política regional. Após a sociedade civil se organizar e encabeçar projetos para revelar personagens dos anos de chumbo, os Legislativos resolveram ir na onda do tema e instalaram comissões da verdade municipais. Diadema, Mauá e Santo André aprovaram a iniciativa nos últimos meses. O trabalho será baseado no depoimentos de pessoas que sofreram perseguição no período da ditadura.

Diadema foi a primeira cidade que resolveu montar grupo de parlamentares para coletar depoimentos dos perseguidos na época. O trabalho será em parceria com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Defensoria Pública e Amaa (Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC). A comissão marcou para o dia 4 grande ato público de lançamento.

A intenção da presidente do grupo, vereadora Lilian Cabrera (PT), é começar ouvir as pessoas antes do evento. A comissão trabalha na relação dos depoentes. Por questão de segurança, algumas oitivas não serão públicas. Cida Ferreira (PMDB) será a relatora. Os outros integrantes são Reinaldo Meira (PR), Zé Dourado (PSDB) e o presidente da Casa, Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT).

Em Mauá, a Comissão da Verdade municipal foi aprovada na semana passada e aguarda a definição dos integrantes. O parlamentar Wagner Rubinelli (PT) explicou que o trabalho na cidade não vai anular a atuação da sociedade civil. “Nosso grupo pretende colaborar na coleta de depoimentos para atentar equiparar possíveis erros no passado. Mauá foi uma das cidades que mais sofreram no regime”, afirmou.

O município era acompanhado de perto pelos militares pela atuação da AP (Ação Popular) no Jardim Zaíra. O movimento nascido dentro da Igreja Católica em busca de melhorias na comunidade, rendeu diversas prisões e até mesmo morte de Olavo Hansen e Raimundo Eduardo da Silva. Mauá também serviu de abrigo para o ativista Herbert José de Souza, o Betinho.

Diferentemente do que ocorre em Diadema, a comissão em Mauá não prevê a participação direta da sociedade civil. A ideia de Rubinelli é realizar audiências públicas para obter a contribuição dos militantes mauaenses como o professor Olivier Negri e Maria Júlia de Oliveira Lobo, que ficaram três meses presos na sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

Santo André também iniciará os trabalhos de ouvir as pessoas nas próximas semanas. Assim como em Mauá, o vereador Montorinho (PT) aguarda definição dos integrantes. A Prefeitura planeja montar o Memorial da Resistência até o ano que vem.

 

PRIMEIROS

A iniciativa pioneira na região para elucidar os fatos da ditadura militar foi o Acorda ABC, ligado ao Centro de Memória do Grande ABC. O projeto é financiado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.

Cido Faria, coordenador do movimento, ressaltou a falta de interesse dos vereadores desde que o projeto foi lançado, no começo do ano. “Como nosso trabalho tomou corpo com ajuda da mídia criou-se um fato político sobre isso. Fizemos o seminário Brasil e Chile e nenhum parlamentar apareceu”, destacou.

 

Acorda ABC negocia seminário com José Mujica

O Acorda ABC volta seus olhos para 2014, ano em que o golpe completa 50 anos. Cido Faria negocia com a Prefeitura de Santo André a realização de um seminário que reúna todos os países da América Latina que enfrentaram a ditadura militar. A abertura do evento seria feita pelo presidente do Uruguai, José Mujica.

O líder da nação uruguaia virá para contar a todos sua experiência no combate ao regime no país (1973-1985). Guerrilheiro e ativista armado, ele ficou preso durante 14 anos e foi solto somente quando os militares foram depostos. “O processo está em negociação, mas a ideia é fazer o evento em São Bernardo, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC”, revelou Cido.

No mês passado, o primeiro seminário do projeto reuniu quatro chilenos em Santo André para debater a colaboração entre Brasil e Chile na década de 1970. O evento reuniu cerca de 250 pessoas.

Até dezembro, o projeto está focado na coleta de depoimentos para o documentário e o livro que serão lançados no ano que vem. Cerca de dez pessoas são ouvidas por semana. A meta é chegar a 35 depoentes até novembro. CT




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