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Protagonistas do ‘mensalinho’ saem de cena

Denúncia de suposto esquema de propina na Câmara de S.Caetano completou um ano em agosto

Gustavo Pinchiaro
do Diário do Grande ABC
16/09/2013 | 07:59
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Montagem/DGABC


 Depois de pouco mais de um ano da denúncia do suposto esquema de ‘mensalinho’ na Câmara de São Caetano, os dois protagonistas do vídeo que ilustrou a história – o ex-secretário de Governo Tite Campanella (DEM) e o ex-vereador Edgar Nóbrega (PT) – saíram do cenário político.

A atuação pública de Tite se encerrou no mesmo dia em que a gravação foi divulgada, com um pedido de exoneração. O democrata, que vinha participando ativamente da campanha da ex-prefeiturável governista Regina Maura Zetone (PTB), cortou relação com o meio político e desde então não é visto pela cidade. O DEM, que teve a última representação na Câmara com Moacyr Rodrigues até 2008, continuou sem eleger vereador.

Ex-vereador e irmão do ex-secretário de Governo, Adauto Campanella (PMDB) afirmou que o “erro lamentável” cometido por Tite não afeta o nome da família. “Eu não tinha relação com o Tite, ele se mudou e nem sei onde ele mora. Uns não podem pagar pelos erros dos outros”, considerou. Progenitor da família, Anacleto Campanella comandou São Caetano em dois mandatos (1953-1957 e 1961-1965).

Já Edgar retomou a profissão de professor e de assessor sindical, já que é especializado em relação à Economia. Ele continua afastado do PT, enquanto aguarda o desdobramento do caso. O petista estava em plena campanha ao Palácio da Cerâmica e foi pressionado a desistir da empreitada. Desde então, não comenta assuntos políticos e tem se postado como crítico cultural em redes sociais.

Para o vice-presidente do petismo paulista, Rafael Marques, quem administrou o período da crise e aconselhou Edgar a renunciar à candidatura a prefeito, a sigla conseguiu contornar o caso. “O Edgar voltou a prestar assessoria sindical, posição que o projetou dentro do PT. O diretório municipal conseguiu manter a unidade e o partido elegeu o vereador Pio Mielo, que vem fazendo um excelente mandato. O PT continua influenciando a política na cidade”, analisou.

Mandatário municipal, Márcio Della Bella, que substituiu o ex-vereador que também optou por se afastar do comando do PT, ressaltou o poder de reação do partido. “Passamos por uma eleição dura e conseguimos manter uma cadeira na Câmara. Isso mostra a força do PT, que passará por uma eleição tranquila no PED (Processo de Eleição Interna) em novembro (quando tenta se manter no cargo).”

Pio Mielo (PT), ex-chefe de gabinete de Edgar, conquistou uma cadeira no Legislativo com apoio particular do ex-vereador no pleito do ano passado e conseguiu alterar a relação do partido com o governo. Tradicionalmente opositora, a sigla aproveitou a boa relação com o PMDB e Pio se tornou um dos parlamentares da base governista do prefeito Paulo Pinheiro (PMDB), apesar de a gestão ainda não tê-lo oficialmente como apoiador.

“O Edgar está pagando o erro político, que a Justiça não identificou nenhum crime. O PT de São Caetano aprendeu com mais esse erro e conseguiu se reorganizar, eleger um vereador que hoje é primeiro secretário da Câmara e fez com que o partido amadurecesse a relação com a cidade”, afirmou Pio.

 

O CASO

Em 25 de agosto do ano passado, o então candidato a vereador Eder Xavier (PCdoB) divulgou na web um vídeo editado de 17 minutos, o estopim do caso. Na gravação, ocorrida em meados de 2009, Edgar e Tite teriam acertado bases financeiras para garantir apoio velado do PT ao governo do então prefeito e atual secretário paulista de Esporte, Lazer e Cultura, José Auricchio Júnior (PTB).

A negociação teria envolvido repasse de R$ 100 mil de Tite para que Edgar se organizasse para vencer a disputa pela presidência do PT em novembro de 2009, fato que se concretizou. Além disso, o diálogo dá conta de que o repasse mensal para evitar ataques ao governo seria de R$ 10 mil, além de outros R$ 2.000 que chegariam via o vereador Gérsio Sartori (PTB), que presidia a Câmara na época, e também R$ 5.000 que viriam por meio do parlamentar Paulo Bottura (PTB). Os envolvidos argumentaram ser uma conversa sobre empréstimos pessoais de Edgar, que estariam sendo cobrados.

O trecho mais comentado foi iniciado com a frase de Edgar de “quanto custa ter o PT?” e respondida por Tite com: “O que o govenro ganha?”. O petista afirmou que a Prefeitura teria um aliado ou um adversário leal.

O Paço abriu uma sindicância para apurar o caso. A conclusão foi de que Tite foi o responsável pela gravação e de maneira infantil conduziu o diálogo para provocar Edgar. O petista havia protocolado requerimento de informação sobre uma viagem ao Exterior do democrata ao lado do prefeito. A punição imposta pelo governo foi apenas a exoneração.

A Câmara relutou em abrir investigação sobre o caso, mas criou uma comissão para acompanhar o processo da Ouvidoria da Prefeitura quando as oitivas já estavam se encerrando. O relatório foi praticamente idêntico.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime organizado) e o Ministério Público ainda investigam o caso.




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