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Aposentados são valorizados em setores que exigem especialização

Em vez de lidar com perda de renda, eles recebem ofertas de emprego com bons cargos e salários

Andréa Ciaffone
do Diário do Grande ABC
13/09/2013 | 07:07
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Não é raro ouvir que ‘trabalhar depois de se aposentar pode ser uma forma eficiente de combater as perdas na renda mensal e de combater a depressão de ficar à toa”. A afirmação ainda é verdadeira, mas o seu contexto vem mudando drasticamente. Hoje, cada vez mais empresas disputam o talento dos mais experientes e, para seduzi-los a deixar de lado os planos de ir pescar ou brincar com os netos em tempo integral, oferecem a eles cargos de prestígio e salários polpudos.

“Cerca de 40% dos meus funcionários de fábrica são aposentados e são deles os melhores salários. Para muitos, eu comecei a fazer proposta de emprego assim que soube que estavam para se aposentar”, diz Carlos Manuel Carvalho, sócio da Tribomat, indústria de componentes para moldes de Diadema. O empenho do empresário em contratar esses profissionais se explica pela dificuldade de se encontrar ferramenteiros. “Eles são artistas e a qualidade do seu trabalho tem a ver com os anos de treinamento. Leva 20 anos para formar um bom profissional. Por isso, seus salários nas grandes montadoras giram entre R$ 20 (mil) e R$ 25 mil", revela o empresário.

“Depois que se aposentam, como estão com os filhos criados e patrimônio formado, aceitam salários de cerca de R$ 10 mil”, completa o empresário, que oferece para seus funcionários desta atividade o sistema de ponto livre. “Eles são profundamente comprometidos com a qualidade do seu trabalho, não precisam de ninguém em cima. Se alguma coisa precisa ser feita eles se dedicam intensamente. Aí, compensam as horas extras com folgas. Essa flexibilidade existe por conta da ética que eles têm”, diz Carvalho.

Vale notar que, na região, os ferramenteiros são considerado uma elite. Carvalho lembra que as bases desse trabalho artesanal foram trazidas da Europa por alemães, poloneses e húngaros que vieram nos anos 1950 quando a indústria automobilística se instalou por aqui. “Como, infelizmente, os jovens têm pressa de alcançar seus objetivos, não está havendo renovação nessa profissão”, diz o empresário.

ESTUDO - Ao que parece, Carvalho não está sozinho na sua filosofia. Um levantamento realizado pela Vagas Tecnologia, empresa especializada em consultoria e informatização da gestão de processos seletivos que é a responsável pelo site vagas.com.br e faz a gestão de processos seletivos de 55 das 100 maiores companhias com atuação no mercado brasileiro, mostra que tem muita gente interessada nos talentos da maturidade.

O estudo revela que 36% dos aposentados inativos receberam pelo menos uma oferta para voltar ao trabalho nos últimos três meses. E mais: dos 47% de aposentados ativos declarados, 80% pretendem trocar de emprego.

“Esse é um fenômeno novo no País. A população da terceira idade continua sendo muito requisitada por sua experiência e qualificação. Com a escassez de profissionais, tem se tornado mais frequente a busca por um trabalhador com esse perfil", explica Fernanda Diez, gerente de relacionamento da Vagas Tecnologia.

“O preconceito contra o profissional de mais idade está fora de moda. Os gestores de recursos humanos querem gente capaz de atender as necessidades das empresas, sejam de que idade forem”, diz a editora do portal de carreiras do site, Fabíola Lago, que aposta que as tendências apuradas pela pesquisa devem se manter até o fim do ano.

O perfil identificado na amostra é de idade média de 68 anos, pertencente à classe média e com bacharelado completo. Dos 476 respondentes, 89% são homens e 11% mulheres. Entre os já aposentados, 73% dizem estar nessa condição há pelo menos três anos.

De acordo com os resultados da amostra, 48% indicaram que estão sem emprego, 5% não pretendem voltar mais ao mercado e 47% continuam trabalhando. Dos que estão sem trabalhar, 98% querem voltar ao batente.

SEMPRE MAIS - E não é só continuar a trabalhar, é buscar ascensão. Dentre aqueles que permanecem ativos, 80% querem trocar de emprego. “É um sinal de que esse público ainda quer continuar trabalhando por muito tempo. E de que o mercado continua apostando nele e procurando pessoas com esse perfil”, afirma Fernanda.

Outro dado revelado nesse estudo é que, dos 80% que pretendem conseguir uma nova oportunidade de trabalho, 84% buscam remuneração superior à atual. “Também há um percentual relevante, de 36%, que está de olho num salário 50% acima do que ganha hoje. É uma nova configuração no mercado de profissionais seniores”, explica a gerente.

Para os aposentados que estão fora do mercado de trabalho e pretendem voltar ao mercado (48%), o cenário também é positivo. O estudo mostra que 36% dos aposentados inativos receberam pelo menos uma oferta para voltar ao trabalho nos últimos três meses. Entre os motivos destacados para voltar ao trabalho, aparecem: porque gostam de trabalhar, sentirem-se mais ativos, ter uma renda extra para complementar orçamento e ajudar a família. Os profissionais ativos e inativos também informaram em qual área mais gostariam de atuar. Destacaram-se engenharia civil, mecânica e eletrotécnica; administração de empresas e vendas.

Os aposentados preferem trabalhar em áreas que acumularam experiência. Para 86%, há o desejo de permanecer na mesma área em que sempre trabalharam.

Há ainda 14% que querem ter a oportunidade de colaborar em nova área. Para esse público, os novos setores mais desejados para atuação são administração de empresas, direito e vendas. “Há vigor, disposição e muita motivação para esses profissionais. Eles são movidos a desafios, seja para colaborar com seu expertise ou até mesmo agregar experiência em novos projetos”, finaliza Diez.
 




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