Por causa do preconceito, animal se torna vítima em
datas como hoje; superstição surgiu na Idade Média
Quem foi que disse que gato preto dá azar? Em plena sexta-feira 13, donos de bichanos de pelagem escura garantem que o bichinho só trouxe sorte para suas vidas. Mesmo assim, é preciso ficar de olho nos animais durante todo o dia de hoje, já que ainda há diversos casos registrados por ONGs de gatos que são utilizados em rituais nesta data.
A crença de que o gato preto dá azar é herança da Idade Média, quando bichanos eram acolhidos por pessoas solitárias, geralmente mulheres excluídas da sociedade. “Como essas mulheres moravam em lugares afastados das cidades, passaram a acolher gatos para poder se livrar dos ratos. Como não havia luz elétrica à noite e não se via a cor do animal, eles passaram a ser associados com o preto, assim como as mulheres eram associadas à bruxaria”, explica uma das fundadoras da ONG Adote um Gatinho, a jornalista Juliana Bussab, 37 anos. A ONG, inclusive, é responsável pela campanha Gato Preto Dá Sorte, que circula pela internet.
Deixamos a Idade Média há muito tempo, mas o preconceito com o gato preto persiste nos dias atuais. “Se colocamos um gatinho branco ou amarelo no site, em um dia ele recebe até 15 formulários de interessados em adotá-lo. Se divulgamos um preto com as mesmas características, ele recebe no máximo dois”, garante Juliana, que explica que a ONG não doa gatos na semana da sexta-feira 13. “Já fizemos resgates de animais em situações absurdas, com olhos furados ou costurados. É muita ignorância e crueldade.” Se o animal for preto e adulto, então, é ainda mais difícil doá-lo, segundo a jornalista.
Para quem deixou o preconceito de lado e adotou um pretinho básico, não há arrependimento. A aposentada Eugênia Pukinskas, 75 anos, tem como única companheira no apartamento que vive em São Bernardo a gata Gigi, 3, preta, magricela e de enormes olhos verdes. “A Gigi apareceu na minha casa quando eu ainda morava no Rudge Ramos e estava de mudança para o Baeta Neves. Sempre tive gatos e decidi que não teria mais nenhum. Mas ela me achou e me adotou, e hoje é minha maior alegria.”
A dona de casa de São Caetano Karina Rinaldi, 27 anos, também tem uma história de amor com seu pretinho Romeu. Ele foi encontrado muito machucado em um terreno perto da casa onde ela morava. “Quando levamos na veterinária, ela disse que ele tinha sido atropelado ou sofrido maus-tratos, porque estava muito machucado, até com a pleura do pulmão perfurada.” A veterinária achou que Romeu não sobreviveria, mas a família persistiu e o filhotinho se recuperou. Hoje, aos 8 anos, ele é a prova de que gato preto dá sorte sim. “Ele teve sorte de achar a gente e nós de acharmos ele.”
O advogado andreense Wilson Roberto Proieti Júnior, 35, também tem um gato preto como companheiro. O persa Amon, 6, dorme com ele e é muito dócil. “Ele foi o único da ninhada que nasceu preto. E o engraçado é que o macho e a fêmea não eram pretos.”
BRUXA DO BEM
A terapeuta holística e taróloga de Santo André Kellen Patricia Trevison Rehder, 45, é uma bruxa moderna e, como não poderia deixar de ser, ama gatos. Ela costumava pegar os bichanos na rua, cuidar deles e disponibilizar para adoção. Mas as pretinhas Night, 7, e Bessie Smith, 4, foram ficando porque não encontravam dono que as quisesse. “O gato preto é assim, as pessoas têm preconceito e não adotam. A coisa do azar é ignorância do ser humano.”
Portanto, siga o exemplo e, se cruzar com um gato preto hoje, deixe seu preconceito de lado e adote.
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