Economia Titulo Cenário
Renda cresce 3 vezes mais
do que as dívidas em 2011

Pesquisa da FecomércioSP divulgada ontem mostra que
famílias têm maiores condições de liquidar seus débitos

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
17/07/2012 | 07:30
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Aumentou o número de endividados. Em 2010, o País tinha 58,58% das famílias com algum tipo de débito. No ano passado, o percentual passou a 62,5%, o que representa 525 mil famílias com contas para pagar. O valor médio mensal dessas despesas saltou R$ 13,5 bilhões, mas as condições para que o consumidor liquide também subiram. O rendimento ao mês desses domicílios aumentou R$ 45,8 bilhões no mesmo período.

Esta é a conclusão da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), que divulgou ontem o estudo Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras. A pesquisa conta com informações apenas das capitais. "Algumas variáveis econômicas apontam para a continuidade deste cenário", avaliou o assessor econômico da entidade, Altamiro Carvalho.

Gesse Pereira Oliveira mora em Santo André e atua profissionalmente como advogado. Para ele, os resultados do levantamento são surpresa. "Minha renda e minhas dívidas não subiram. Mas também não caíram", brincou, salientando que espera aumento do seu endividamento e não do seu rendimento nos próximos meses.

ANÁLISE - Segundo Carvalho, os pontos positivos que sustentam a manutenção do crescimento do salário são a inflação acumulada em 12 meses menor do que no ano anterior. "Isso faz com que a renda real suba", disse. Citou ainda as reduções recentes nas taxas de juros para o consumidor, o empenho do governo em manter o consumo positivo e os resultados do comércio. "O setor vai crescer 9,8% neste ano (em número de vendas sobre o mesmo período do ano anterior)."

Economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), Marianne Hanson considerou o resultado positivo e também não acredita em mudanças drásticas para o sentido oposto. "Não sabemos se a renda continuará crescendo três vezes mais do que a expansão das dívidas, mas acreditamos em cenário futuro positivo ao mercado de trabalho."

No entanto, Carvalho destacou que os investimentos das empresas devem aumentar para que o cenário positivo continue de 2013 em diante. "Hoje gira em torno de 18% do PIB, quando deveria estar próximo dos 25%."

VALORES - Em valores corrigidos pela inflação oficial, as famílias deviam R$ 145,1 bilhões por mês em 2010. Esse montante saltou para R$ 161,9 bilhões após um ano, portanto acréscimo mensal de R$ 13,5 bilhões.

Mas a contrapartida ocorreu no salário que entrou nas casas dos brasileiros. Com crescimento de 11,7%, o volume de dinheiro mensal pulou de R$ 491,5 bilhões, em 2010, para R$ 549,2 bilhões em 2011, aumento de R$ 45,8 bilhões.

A FecomercioSP avalia que as evoluções mostram que o potencial de consumo das famílias subiu e que a consciência financeira também ficou mais nítida, tendo em vista que o montante de dívidas cresceu menos do que o rendimento. "E a inadimplência ainda está controlada no País", afirmou Carvalho.

ALERTA - O professor de Macroeconomia e Cenários Macroeconômicos Celso Grisi, que ministra aulas na Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e é diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, está preocupado com o resultado. Para ele, os números dos setores da indústria, serviços e agropecuária está mostrando sinais de desaquecimento.

Grisi analisou que o crescimento da renda das famílias não terá tanto vigor, nos próximos períodos, como nos últimos anos, e isso pode agravar a situação de inadimplência no País, que são os atrasos de dívidas por mais de 90 dias. "O rendimento deve crescer menos e o consumidor, que elevou a sua qualidade de vida, não voltará atrás", argumentou.

A assistente social andreense Paulina Viana Bastos afirmou que as dívidas só aumentam e a renda não acompanha. Recentemente, ela e o marido financiaram um carro, que trouxe comodidade à família. "Meu marido usa para ir ao trabalho e pegar os meus filhos em casa", contou.

Paulina está satisfeita com o benefício que o veículo tem proporcionado para a família, mas confessou que o orçamento familiar ficou mais apertado.

Grisi explicou que as famílias dificilmente deixarão de lado o padrão de consumo que atingiram até o momento. "E o problema é que elas acabam não sabendo administrar (o orçamento) com essa melhora. Dessa maneira há chance de elevar a inadimplência no País", pontuou.

Por outro lado, Carvalho, da FecomercioSP, argumentou que a inadimplência no País ainda está controlada. Segundo o Banco Central, os atrasos com estas características representam cerca de 8% do saldo de empréstimos às famílias no País. "São 8% de inadimplentes, mas 92% dos consumidores estão pagando suas dívidas", destacou.

Segundo o assessor, as instituições financeiras se protegem de inadimplência maior. "Dentro do spread (diferença entre o custo da capitação e o quanto cobram para emprestar), segundo nossos cálculos, os bancos já esperam inadimplência de 10%", disse.




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