Economia Titulo Informalidade
Economia subterrânea movimenta R$ 730 bi
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
11/07/2013 | 07:09
Compartilhar notícia


Márcia Maria de Lima é cabeleireira desde a infância. Nasceu para o ofício. Aos 9 anos, cortava o cabelo dos quatro irmãos. E também dos amigos dos irmãos.

 Naquela época, em Garanhuns, no Pernambuco, ainda menina, não queria seguir o destino da maioria da família: o trabalho na roça. Cada mudança do visual dos clientes, atendidos na sala da casa de seus pais, rendia R$ 3, aproximadamente. Desde pequena, já pensava no seu negócio. “Queria ser cabeleireira. Então, busquei um curso”, contou Márcia, que atualmente mora em Santo André.

 Com a ajuda de um professor, aos 15 anos, depois de transformar o visual de vários garanhuenses, ela conseguiu o diploma técnico. Ajudou até nas aulas da escola, que ficava uma hora e meia distante da casa dos pais. “Eu pedalava meia hora e pegava mais dois ônibus, 40 minutos um e 20 minutos outro”, contou a cabeleireira.

 Credenciada profissionalmente, ela continuou a atividade na casa dos pais até que, com 17 anos, mudou-se para o lar da tia materna em Santo André. Casou-se, formou-se como monitora, deu aula, participou de eventos e, claro, cortou, alisou e enrolou muito cabelo.

 Com a renda gerada pela tesoura, junto ao marido, Márcia comprou uma casa aos 24 anos. O local seria apenas seu salão e, no andar superior, uma clínica de estética. Mas os filhos vieram. A vida ficou complicada. E algo teria que mudar. Um sonho não se deixa evaporar. Essa foi a sua opção. Com 26 anos, a cabeleireira decidiu seguir apenas com os cortes, no salão, e desistiu da estética. Saiu do aluguel e montou sua moradia no segundo andar do imóvel do seu negócio.

 Hoje, aos 33 anos, dois filhos e “muito bem casada”, como ela diz, Márcia mantém o mesmo salão no andar debaixo da sua casa, atende a comunidade ao seu redor, no Jardim Santa Cristina, e afirma ter tudo que deseja, mesmo como empreendedora informal.

 “Eu e meu marido, que também é informal, pois tem duas mini-padarias, não juntamos dinheiro. Nós reinvestimos nos negócios”, explicou. Além do objetivo constante de empreender e crescer, ela revela que contribui para a geração de renda de sua irmã e uma outra moça, que trabalham no seu salão. “E meu marido emprega mais nove pessoas.”

 Márcia é um dos vários trabalhadores informais da região. E faz parte de um grupo que movimentou, no País, R$ 730,4 bilhões em 2012, segundo ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial) em conjunto com o Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Este é o valor da economia subterrânea nacional. No ano passado, ela representou 16,6% do PIB, queda de 0,3 ponto percentual sobre 2011.

 Além da informalidade, o IES (Índice de Economia Subterrânea) mapeia toda a produção de bens e serviços não reportada aos governos, que também inclui os ilícitos. O pesquisador do Ibre/FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho observou que o recuo é reflexo de uma redução da informalidade entre os trabalhadores brasileiros.

REALIDADE

 Diretor executivo do Banco do Povo Crédito Solidário e presidente da Abcred (Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças), Almir da Costa Pereira garantiu que a informalidade é positiva. “Eles são formais na hora que compram os produtos com os fornecedores (como os grandes varejistas), mas informais na hora que vendem.” Citou ainda que proporcionam economia ao orçamento dos seus consumidores. “O informal faz com que os clientes não saiam do bairro para ir ao centro. Só aí são, no mínimo, duas passagens de ônibus.”

 Coordenador do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), Leandro Prearo destacou que a importância da informalidade na região é ilustrada pela sua representatividade: 33% dos trabalhadores ocupados. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;