Política Titulo Entrevista
Pio Mielo inclui PT na
base de Paulo Pinheiro

O único vereador petista de S.Caetano quer
apagar o estigma de sigla opositora na cidade

Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
16/06/2013 | 07:15
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Andre Henriques/DGABC


Único vereador petista de São Caetano, Pio Mielo se inclui na base governista do prefeito Paulo Pinheiro (PMDB) e tenta afastar o estigma de sigla opositora na cidade. O parlamentar acredita que o peemedebista tem sinalizado a inclusão da legenda no governo ao acolher propostas e reivindicações do PT. Ele arrisca, inclusive, sugerir uma vaga no primeiro escalão do Palácio da Cerâmica. “O PT tem quadros técnicos para indicar.” A postura petista se consolidou como contraponto aos 30 anos ininterruptos de administrações petebistas na cidade. E, até então, o nome do partido era tratado como tabu por governantes, por conta do índice de rejeição do PT. Certo de que a parceria entre os partidos em nível nacional se repetirá no município, Pio já traça planos eleitorais em conjunto com a cúpula petista da cidade. O vereador almeja trabalhar no pleito do ano que vem alinhado com os peemedebistas na coordenação da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) em São Caetano e mira participar da coligação governista em 2016, quando Pinheiro tentará reeleição, para ampliar a atual bancada na Câmara para três cadeiras. Como parlamentar solitário, o petista admite ser a principal liderança no processo de reconstrução do partido na cidade, depois de seguidos escândalos que prejudicaram o desempenho eleitoral do PT nos últimos pleitos. Além de construir o consenso interno, a agremiação tenta se amparar na força de seus correligionários vizinhos que comandam as prefeituras de Santo André, São Bernardo e Mauá, demonstrando organização e boa articulação política.

DIÁRIO – Qual é a sua avaliação dos cinco meses de governo do prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro (PMDB)?
PIO MIELO – Acredito que o Paulo Pinheiro está passando por um teste de aprovação enquanto gestor público. Pegou uma cidade com mais de R$ 260 milhões de dívida (R$ 264,5 milhões), onde ele tem que consertar o barco e continuar navegando. Na pesquisa do Diário (feita pelo DGABC Pesquisas) e ele teve nota 6, mas, enquanto educador, avalio que ele passou raspando. Em julho, o governo precisa e deve fazer alguns ajustes para deslanchar nesse mandato. Pinheiro tem condições de melhorar muito a partir do segundo semestre. Principalmente a partir de 2014, quando ele irá governar com um Orçamento produzido por ele. Outro detalhe é que a Câmara gastou algumas sessões para aprovar projetos de readequações de leis que a gestão passada não havia mandado. Foi a questão do Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica), o Fundo Municipal do Idoso... Ainda estamos colocando a casa em ordem, pagando as contas e tentando resolver o problema da CND (Certidão negativa de Débitos).


DIÁRIO – O PT está querendo compor com o governo. Como está essa questão?
PIO – Acho que o PT amadureceu nos últimos anos depois de tanto sofrimento. Nós temos um respeito muito grande pelo PMDB. É o principal partido aliado de um governo federal que vem ajudando a mudar ainda mais o País. Hoje o Michel Temer (PMDB) é vice da presidente Dilma e, ao que tudo indica, vai repetir essa dobrada. Aliado a isso, o PT de São Caetano tem companheiros técnicos com suas mais devidas formações superiores com condições de contribuir com a cidade. O PT está preparado e com vontade, de braços abertos, mente aberta, para ajudar na gestão do Paulo Pinheiro. Enquanto vereador, faço parte da base aliada, faço minhas cobranças na tribuna, como a questão da Zona Azul e a alta tarifa de ônibus. Mas também defendo o governo e aposto que ele dará muita alegria para a cidade. Não quero que seja um ato isolado do vereador, quero que seja um ato partidário. Há dois meses, o prefeito teve um gesto nobre de receber a cúpula petista em seu gabinete. Nunca nenhum outro prefeito tinha feito isso. Apresentamos sete reivindicações importantes para a cidade, não fomos pedir cargos.

DIÁRIO – O PT, então, está no projeto do governo?
PIO – Hoje o governo vem sinalizando, é uma mudança de postura. O PT durante anos foi aposição (nunca governou a cidade), então é natural que haja uma resistência, porque a nossa vocação natural é ser oposição. Defendo que o governo tenha um núcleo suprapartidário para captação de recursos externos e o prefeito já disse ter interesse. Estamos, inclusive, discutindo nomes de técnicos para fazer a indicação. Acredito que a gente caminha para uma unidade. Até porque, em 2014, estaremos no mesmo palanque. Em nível federal caminharemos juntos.

DIÁRIO – O que o sr. pensa para o PT em 2016?
PIO – Em 2013 eu defendo ampliar a participação do PT no governo de maneira transparente e ética. Em 2014, devemos ter papel de protagonista nas eleições com candidatos a deputados federal e estadual que a gente venha a apoiar. Estamos dialogando com os prefeitos da região para defender candidaturas da região e junto com o PMDB, dividir a coordenação da campanha da Dilma na cidade. Em 2015, montar uma nova chapa, construção de agenda política e o PT já no arco de reeleição do Paulo Pinheiro para ampliarmos nossa bancada. Podemos fazer até três vereadores. Seria um equívoco lançarmos um candidato ao Paço. Em 2014, o PSDB de São Caetano vai ter de explicar a contratação de um ex-prefeito que saiu com rejeição alta para ser secretário estadual de Esporte (José Auricchio Júnior, PTB).

DIÁRIO – Caberia ao partido indicar um secretário?
PIO – Cabe, mas a decisão é do prefeito. A cultura política da cidade não faz discussões com partidos, mas sim acordos com pessoas, ao contrário das outras cidades da região. Se o prefeito convidasse o partido a indicar um secretário para qualquer uma das Pastas, estaríamos preparados para assumir esse desafio. Temos relação para pleitear verbas do governo federal. Seria uma baita vitrine.

DIÁRIO – O sr. se reconhece como principal liderança na condução desse processo?
PIO – Sem soberba, reconheço. Há outras lideranças que reconhecemos, mas o fato de termos um mandato acaba nos colocando como um dos capitães. O Márcio Della Bella, atual presidente, conduziu o partido em uma das piores crises que tivemos em 2012, construiu uma unidade em torno do seu nome e é um interlocutor presente em São Bernardo. Mas eu não me furto à responsabilidade. Tenho feito uma agenda regional com sindicatos e personalidades da cidade. Um exemplo é que a Câmara nunca teve comissões permanentes e nós aprovamos a de Renovação, Ciências e Tecnologia. É uma vitória.

DIÁRIO – O que pode fazer de diferente das outras reestruturações que foram frustradas?
PIO – Hoje defendemos a participação no governo de maneira aberta, sem acordos paralelos, é uma nova postura. Não temos mais o rótulo de oposição, nossa bandeira é de contribuição. O PT teve excelentes vereadores que ajudaram o partido a chegar aonde chegou com postura de oposição. O PT falava que era oposição construtiva, eu sou de uma situação crítica. Não é uma situação míope.

DIÁRIO – Como o PT pode apagar os erros passados?
PIO – Não se apaga erros, se aprende. Em 2004 tivemos uma grande campanha eleitoral ao Executivo (com Hamilton Lacerda). Tivemos dois deputados federais pela cidade, o Jair Meneguelli e o Ivan Valente (hoje no Psol). O PT precisa olhar o passado para decidir o presente e buscar resultado positivo. Tive 1.400 votos na minha primeira candidatura, estou na corrente Construindo um Novo Brasil, junto aos prefeitos do PT do Grande ABC. Podemos ser o principal partido da cidade junto do PMDB.

DIÁRIO – O sr. está em uma linha tênue de não poder errar e mostrar resultado.
PIO – É uma pressão muito grande. Sou colocado à prova todos os dias. Sou cobrado a mostrar que sou um vereador petista, bem aceito e que tem projetos.

DIÁRIO – Hoje o PT não conseguiria ampliar a bancada na Câmara. O que deve ser feito?
PIO – Três vereadores não daria, mas dois sim, estamos no caminho. Na eleição passada, por conta de 600 votos não elegemos o segundo. Se o Ricardo Rios tivesse sido eleito, teríamos um grande aliado para contribuir com esse projeto. Queremos fortalecer lideranças, investir em outras e abrir espaço para trazer novos nomes. Não faremos acordos pragmáticos apenas para crescer.


DIÁRIO – Não há barreira no PT para trazer outros políticos?
PIO – Sim, o partido foi sectário durante muitos anos. Mas também há atores políticos que precisam enxergar que o PT é o maior partido do País, tem políticas públicas e é atrativo na eleição. Devemos tratar a cidade com responsabilidade e ela deve retribuir isso. É uma equação difícil. Defendo junto ao meu grupo pedir licença para o primeiro suplente, o Ricardo, assumir. A saída do Jayme Tortorello do PT foi um equívoco. Também temos que fortalecer a ex-vereadora Vera Severiano dando condições políticas. O PT de São Caetano não pode tratar a política com o PT de Diadema e São Bernardo, temos que respeitar as peculiaridades.

DIÁRIO – Então o PT teria que se desvincular da esquerda em São Caetano?
PIO – Acho que não. O PT tem de ter um compromisso com a cidade, com bons projetos para a cidade como o Bilhete Único e o Minha Casa, Minha Vida. A cidade abraçaria essas bandeiras. O PT hoje olharia os bairros Fundação, Prosperidade e Nova Gerty com mais carinho, porque governamos para a classe mais baixa sem esquecer das outras.

DIÁRIO – O sr. teve uma relação forte com o ex-vereador Edgar Nóbrega, foi chefe de gabinete dele. Qual é o papel dele no partido e no mandato?
PIO – Houve um acordo e o Edgar está afastado (é investigado por suposto mensalinho) de todas as ações partidárias do PT para refletir sobre o ocorrido. Ele não participa da vida política hoje. Reconheço que o Edgar teve um mandato rico em conteúdo parlamentar, me espelho nele no quesito de promover debates ricos. Eu conquistei um espaço, tenho o meu mandato, seguindo meu caminho e construindo minhas bandeiras.
 




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