Economia Titulo Calotes
Desemprego é maior estímulo a
atrasos no pagamento de contas

Segundo pesquisa, 32,3% dos entrevistados afirmaram que a
situação de desempregado levou à não liquidação das dívidas

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
11/07/2012 | 07:30
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O desemprego é a maior causa para que os consumidores atrasem as suas contas por mais de 90 dias, período que configura inadimplência. Esta é a conclusão de pesquisa realizada pela Boa Vista Serviços, empresa que administra o SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). Segundo o levantamento, que teve como base entrevistas de 1.100 consumidores da Capital em estado de contas em haver, 32,3% dos afirmaram que a situação de desempregado levou à não liquidação de suas dívidas.

As famílias com renda mensal de até três salários-mínimos, R$ 1.866, foram as que mais apresentaram o desemprego como causa para o calote, com 39,7% dos entrevistados. Por outro lado, o descontrole financeiro é o principal inimigo das famílias com renda acima de dez salários-mínimos, R$ 6.220, tendo em vista que 45,2% delas apresentaram esta situação como causa para a inadimplência. Entre as duas faixas de renda o desemprego predomina.

No universo pesquisado, 29,8% afirmaram que o descontrole dos gastos é o principal motivo para a falta de pagamento.

O professor do Insper José Dutra Sobrinho, que também é vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, criticou a postura dos inadimplentes que se justificam com o descontrole financeiro. "Para mim, isso é modismo. Falar que ficou desempregado e deixou de pagar é mais realista. Não que se encaixe para todos, mas a pessoa perde o controle das contas porque foi irresponsável. Ela não fez orçamento (detalhar os gastos) antes de comprar ou emprestar."

Dutra exemplificou um caso que considera de irresponsabilidade. "O casal vai comprar uma geladeira. O marido não sabe se a prestação cabe mesmo no orçamento, mas diz que vai tentar. A mulher pede para que Deus a ajude a pagar as parcelas. E eles compram, mesmo sem saber se conseguirão pagar com os seus rendimentos."

Diretor de sustentabilidade da Boa Vista, Fernando Cosenza diz que a irresponsabilidade pode até ter ocorrido com pequena fatia dos entrevistados. "Mas o que realmente explica o descontrole é a falta de planejamento financeiro."

Para o especialista, o descontrole das finanças pode ser evitado antes da inadimplência. Para isso basta anotar todos os gastos da família, a chamada planilha orçamentária (veja exemplo ao lado), para saber exatamente quanto está sendo gasto e qual o valor da renda disponível. "Não precisa ser profissional, um caderninho e uma caneta resolvem", pontuou Dutra. Ele garantiu que desta maneira o consumidor vai estimular sua própria consciência financeira.

Emprestar o nome para outras pessoas realizarem suas operações não foi boa opção para parte do grupo de entrevistados pela Boa Vista. Segundo a pesquisa, 9,4% do total de participantes da pesquisa afirmaram que estão inadimplentes por terem emprestado os seus nomes a terceiros. Conforme publicou o Diário, esse é o terceiro motivo que leva o consumidor a ter o nome incluso no cadastro de mau pagador.

"Neste caso quem sofre mais são os aposentados. Os filhos e os netos sabem que eles podem pegar empréstimos e pedem isso. Mas esses parentes, provavelmente, pedem porque não têm mais acesso ao crédito", criticou Dutra, orientando que o consumidor não empreste o nome.

 

Cartão de crédito é vilão quando o assunto é restrição

A restrição cadastral é uma das piores situações que o consumidor pode enfrentar. Ela dificulta o seu acesso ao crédito. E, segundo pesquisa da Boa Vista Serviços, 41% dos entrevistados afirmam que foi por meio de compra com o cartão de crédito que eles tiveram algum tipo de restrição.

Conforme a Pesquisa de Juros da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os juros do rotativo do cartão de crédito são os mais altos entre as modalidades de empréstimos pesquisadas, com 10,69% ao mês. A taxa média de todas as operações ao consumidor, segundo a entidade, é de 6,18% ao mês.

O educador financeiro, Mauro Calil destacou que as facilidades que os consumidores têm com a modalidade, como pagar só 15% da fatura, elevam as chances de se enrolar financeiramente.

Ele cita duas regras para tirar o máximo de proveito consciente do plástico. "Use no máximo dois cartões e a soma dos limites não pode passar de 50% da renda líquida."

 

Carnê de loja e empréstimos pessoais estão no pódio

Os carnês de loja aparecem na segunda posição entre as modalidades de pagamento que mais provocam a inadimplência, aponta pesquisa da Boa Vista Serviços. A forma de liquidação foi citada por 29,9% dos entrevistados.

Os empréstimos pessoais, nos quais está incluído o crédito consignado dos aposentados e pensionistas, estão presentes em 21,3% das respostas. Em seguida aparecem as folhas de cheques sem fundos (20,1%), o cheque especial (11,2%) e os cartões de lojas (9,5%).

PERSPECTIVAS - O levantamento da Boa Vista captou que 10% dos inadimplentes disseram que não terão condições de quitar as suas dívidas que estão em atraso.

O restante afirmou que pretende pagar as contas parcialmente ou integralmente, no entanto, 32,1% deles vão liquidar essas faturas com pagamentos à vista. Por outro lado, 67,5% acreditam que só terão como pagar os atrasados por meio de parcelas entre 30 e 180 dias.




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