Turismo Titulo Serra fluminense
Visconde de Mauá e Penedo de olho no turismo

Vizinhas esbanjam romantismo, consciência ecológica e sofisticação à mesa

Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
23/05/2013 | 07:07
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Uma é famosa pelo clima romântico, ao mesmo tempo rústico e sofisticado, com várias pousadas exclusivas para casais, natureza intacta e restaurantes requintados que em nada lembram os tempos em que a região era reduto de hippies. A outra é perfeita para famílias com crianças e se esmera para manter as tradições da cultura finlandesa, seja na casa do Papai Noel, nos menus de comidas típicas ou nas animadas festas do clube criado especialmente para cultivar as raízes da terra do sol da meia-noite e dos pilotos de Fórmula 1 Mika HakkinenKimi Räikkönen. Apesar das diferenças, as vizinhas Visconde de Mauá e Penedo, localizadas na região serrana fluminense, perto da divisa com Minas e a pouco mais de 300 quilômetros do Grande ABC, têm em comum o dom de receber o turista com conforto sem roubar a cena das belíssimas paisagens naturais da Mantiqueira. E merecem capítulo à parte quando o assunto é gastronomia.

Se no passado a natureza isolada da região atraiu a turma do paz e amor, hoje o que se vê é uma profusão de restaurantes comandados por chefs renomados, que vislumbraram no clima ameno da serra o ambiente ideal para agraciar o estômago com receitas sofisticadas à base de ingredientes da terra, como o pinhão, cogumelos e a truta salmonada, que é alimentada com betacaroteno para ganhar tonalidade alaranjada, como o salmão.

Neste mês, o pinhão será a grande vedete dos menus. A partir de amanhã o fruto da araucária desafiará cozinheiros locais a elaborar pratos inéditos para o 21º Concurso Gastronômico de Visconde de Mauá. No time de jurados, nomes do quilate de Alex Atala (dos restaurantes D.O.M. e Dalva & Dito), Ana Luiza Trajano (Brasil a Gosto) e da carioca Flavia Quaresma, entre outros. Durante os três dias do concurso (veja programação abaixo), eles ministrarão aulas de culinária e terão a difícil missão de eleger, junto com o júri popular, os melhores pratos do ano, como a costelinha de porco com pesto de pimentão e pinhão desenvolvida pela chef Monica Rangel, do mineiríssimo Gosto com Gosto; o ravióli de queijo brie com pesto de pinhão e rúcula criado pelo andreense Julio Buschinelli, do elegante Rosmarinus Officinalis; o cuscuz de pinhão com lombo, mel e tahine assinado pela chef Maria José da Silva, da pousada Casa Bonita; e o ravióli com recheio de pinhão e pernil suíno ao molho de tomate pelado elaborado por Carlos Caniato, da Mauá Brasil.

Essas e outras delícias criadas especialmente para o evento poderão ser saboreadas na maior parte dos restaurantes da cidade até o dia 31. Diversas atividades envolvendo artes plásticas, música, literatura e fotografia também integram o 8º Salão do Pinhão, cuja exposição de obras prossegue até o dia 9, aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.

Especialidades à parte, quase todos os chefs de Visconde de Mauá trazem uma característica em comum: o apreço por ingredientes orgânicos, de preferência criados no quintal ou colhidos na própria horta. "Tudo vem da horta orgânica. Até a galinha é daqui da propriedade", diz a dona do restaurante da Leila, em Bocaina de Minas, que conta com a ajuda da família para preparar e servir delícias como a galinha à cabidela e a picanha à moda da Leila coberta com queijo e bacon (R$ 60).

Famílias inteiras com vocação para as panelas, aliás, não faltam em Visconde de Mauá. A andreense Camila Buschinelli, chef do Mamma Felice, em Maringá, segue os passos do pai, Julio Buschinelli, que estudou no Américo Braziliense, trabalhou com a implantação de projetos em várias fábricas da região e, num belo dia, decidiu jogar tudo para o alto no Grande ABC para dedicar-se ao maior de todos os seus hobbies: cozinhar.

"Adoro praia, até tinha barco no Guarujá, mas queria abrir um restaurante no mato. Quando fui chamado para criar a Temporada de Truta em Visconde de Mauá, percebi que aqui seria um lugar bom para ter algo mais sofisticado, porque fica entre Minas, São Paulo e Rio. Mauá é Brasil. A distância das grandes capitais faz com que não haja ‘tribos' por aqui, aqueles clientes fiéis que passam a querer adaptar o cardápio ao seu próprio gosto. E aqui, o dinheiro dava", diz Julio, que estudou no CIA (Culinary Institute of America) e integrou o seleto grupo de 16 brasileiros do primeiro curso de imersão no Senac de Águas de São Pedro.

O resultado o turista pode provar no seu restaurante, o Rosmarinus Officinalis, farto em peixes e massas de combinações tão inusitadas quanto impecáveis, que fazem jus à indignação do chef: definitivamente, seria uma heresia pedir para alterar um ou outro ingrediente.

Outra família que parece já ter nascido com o dom da culinária é a da chef Mônica Nery Faria Rangel, proprietária do premiado restaurante de comida mineira Gosto com Gosto.

Assim como os outros chefs, Mônica não nasceu na cidade. É natural de Juiz de Fora e moru por muito tempo em Niterói, onde trabalhava como secretária bilíngue de uma multinacional, até que resolveu botar o pé na cozinha. Para ela, o melhor elogio é quando dizem que sua comida lembra a da mãe ou avó. Mesmo assim, Mônica se permite algumas ousadias ao fogão - como a saborosa costelinha ao molho de laranja e a picanha de porco com molho de jabuticaba, sua maior especialidade - e há anos comanda o Cruzeiro Gourmet da Costa em mares brasileiros.

 

ESTRADA-PARQUE

Para melhorar o acesso que partia da Via Dutra por 27 intermináveis quilômetros em trecho de terra cheio de curvas e buracos, o poder público concluiu há cerca de um ano a pavimentação da estrada-parque, que deixou Visconde de Mauá ainda mais atraente ao turismo. A idéia, agora, é que o visitante passe a pagar um "pedágio" ambiental. A taxa faz parte de um ambicioso projeto de preservação que deverá controlar a entrada de carros e poderá culminar na ampliação da APA (Área de Proteção Ambiental).

"A gente deverá implantar em setembro um controle de acesso parecido com o que há em Fernando de Noronha (PE), com pedágio, por veículo e por indivíduo, com limite de ocupação estimado em 3.000 a 5.000 pessoas. Se não sair ninguém, não entra ninguém. Também haverá controle de ônibus, caminhões e veículos que, se não tiverem reserva em hotel, não poderão ficar, para que não se ultrapasse o limite máximo que a região comporta em cachoeiras, restaurantes e hotéis", diz o andreense Julio Buschinelli, presidente da MauáTur (Associação Turística e Comercial da Região de Visconde de Mauá). "Com isso, Visconde de Mauá vai se tornar nos próximos três, cinco ou sete anos um dos dez destinos de natureza mais preservados do País."

Para tanto, a MauáTur planeja implementar ônibus ecológicos na região, que deverão circular o dia inteiro, para que os visitantes não tenham de usar carro. "Haverá bolsões de estacionamento e, com um mesmo tíquete, a pessoa poderá andar o dia inteiro, como já é feito em Roma e outras cidades turísticas da Itália", explica Buschinelli.

Outra medida ponderada consiste em restringir a construção de novos empreendimentos hoteleiros por meio do plano diretor da cidade. E os entornos do Parque Nacional do Itatiaia deverão ter sua área de preservação ampliada.

"O Carlos Minc, que é secretário do Meio Ambiente no Rio de Janeiro, olha essa região com muito cuidado. Há um mês, ele discutiu conosco a possibilidade de fazer um novo levantamento de capacidade de carga das cachoeiras, rios e outros atrativos naturais, para definir quantas pessoas podem ir por dia àquele local, a fim de limitar o número de pessoas. Lembrando que não é um elitismo, porque não proíbe o acesso de ninguém, apenas uma forma de controle, assim como todo teatro tem um número determinado de ingressos", conclui Buschinelli.

 

NATUREZA

Nem só de romance vive Visconde de Mauá. Entre um brinde na lareira e um jantar à luz de velas, a cidade oferece farto leque de passeios para os aficionados por turismo de aventura.

A começar pela emblemática Cachoeira do Escorrega, fruto de um deslizamento na década de 1960 que matou 17 pessoas e levou uma avalanche de pedras a represar o curso original do Rio Preto, formando uma espécie de tobogã natural por onde os banhistas escorregam nos dias em que o fluxo de água mostra-se próprio a doses extras de adrenalina. Uma bandeira indica o nível de risco dia a dia.

A agência local Remorini Ecoaventuras oferece passeios off-road com direito a esportes radicais e guias especializados. Um dos roteiros, de aproximadamente três horas, contempla a Escorrega, o Poção da Maromba e as cachoeiras Véu de Noiva (já nas dependências do Parque Nacional do Itatiaia) e Santa Clara, onde é possível praticar cascading (rapel em cachoeira) de 40 metros com inclinação positiva, própria para iniciantes. O tour termina com visita ao Truta Rosa, trutário aberto para pesca e venda do peixe.

E os fãs de esportes radicais ainda podem praticar bóia-cross no Rio Preto, montanhismo na Pedra Selada ou trekking pelas trilhas ecológicas do Vale do Pavão, com direito a parada para descanso e banho de rio.

Quem não se intimida com a gelidez das águas da Mantiqueira, a propósito, não deve deixar o Alcantilado de fora do roteiro. Com nove cachoeiras e piscinas naturais, o local mais parece um parque aquático, e basta uma trilha para alcançar todas as cascatas. O percurso - cercado por ipês, perobas, samambaias e pinheiros - dura cerca de uma hora. E no final da caminhada, eis que surge ela: a cachoeira que dá nome ao vale, belíssima. Mas atenção: o trajeto é íngreme, indicado apenas a pessoas que praticam trekking com regularidade.

 

CACHOEIRAS GIGANTES

Outro passeio memorável é o de Santo Antônio e Cachoeiras Gigantes. O percurso é todo cumprido em veículo com tração nas quatro rodas e leva às maiores quedas d'água do lado mineiro da Mantiqueira, como as de Cinco Estrelas (de 200 metros), onde é possível tomar banho; Paiol (90 m) e Brumado (120 m). O ponto literalmente alto do passeio é o Mirante da Serra Verde, que oferece vista panorâmica da cadeia de montanhas a 1.850 metros de altitude, com direito a paradas em propriedades rurais e nos sossegados vilarejos de Mirantão e Santo Antônio. "Esse passeio é  indicado para carros 4x4, de preferência com alguém que conheça a região", alerta o guia turístico Careca, da Remorini Ecoaventuras.

Para agraciar o estômago ao longo das oito horas de passeio, também são feitos pit stops na Fazenda Poil e no Restaurante da Leila. Na primeira, é possível degustar o queijo parmesão produzido artesanalmente pela família de Afonso Mendes, 77 anos, e Teresa Diniz Mendes, 72. Casados há 56 anos, eles fabricam um queijo saboroso, mais macio que os parmesões encontrados no mercado, além de goiabada e doces de frutas. O segredo? "Amor pelo que se faz", revela Afonso. "Aprendi com meu pai, que morava em Alagoas de Minas. Vim para cá porque conheci a Teresinha durante a festa de Santo Antonio, em junho, me apaixonei por ela e me casei depois de um ano. Foi amor à primeira vista." O casal vive com os filhos no local há 50 anos e abre as portas do sítio aos turistas com a hospitalidade típica dos mineiros. O preço das iguarias é tão irresistível quanto o sabor: o quilo do queijo parmesão custa R$ 16; a peça de goiabada caseira - menos doce e mais saborosa do que as convencionais - sai a R$ 5 e o figo em calda é vendido em potes de R$ 6 a R$ 12. Impossível não degustar todas as iguarias. Mas reserve um espaço no estômago para o gran finale no restaurante da Leila, fazenda típica mineira, com comida feita no fogão a lenha, à beira de um riacho. Dá vontade de passar horas ali, curtindo a paisagem e, nos dias quentes, um banho de rio, enquanto se espera a simpática Dona Leila preparar o almoço. A galinha à cabidela, o tutu à mineira e a picanha à moda da casa são algumas de suas especialidades, servidas em quantidades colossais e com o inigualável tempero de mãe. "Inaugurei no ano passado. Antes eu cozinhava para outros restaurantes. E foi um sucesso desde o início", diz Leila, que utiliza produtos da horta orgânica (até a galinha caipira é de lá) e abre sua porteira aos turistas todos os dias (exceto às terças-feiras), das 10h até o último cliente.

 

SEM ESTRESSE

Os menos afeitos a adrenalina também encontram boas atrações para preencher o dia, seja  visitando lojinhas de artesanato, bebericando em algum barzinho da Vila de Maringá ou conversando com hippies na Maromba - a única das três vilas que mantém o clima Woodstock que tanto fez a fama de Mauá na década de 1970, com direito a barracas de artesanato em frente à igreja e fogueira ao som de violão.

Vizinho ao Vale do Alcantilado, o Museu 2 Rodas mantém interessantes modelos de motos e bicicletas. A história da colonização alemã na região também pode ser conferida no Museu da Família Bühler, que mantém ativa a tradição dos antepassados.

Quem gosta de trilhas em meio à natureza mas não quer gastar sola de sapato também pode recorrer às cavalgadas oferecidas pela Fazenda Santa Clara. Há percursos de uma hora e meia (inclusive para o Vale do Alcantilado) e outros mais longos, de até dois dias, que cruzam os municípios de Itatiaia, Resende e Bocaina.

E por falar em gastar sapato, nem pense em colocar os de salto na mala, pois Mauá não possui casas noturnas e badalação madrugada adentro, definitivamente, não é o forte da região. Um par de tênis e uma bota baixa e quentinha para as noites frias já são mais do que suficientes.

 

PASSEIOS

A Remorini Ecoaventuras - (0xx24) 3387-1521; www.remoriniaventuras.com.br - oferece diversos passeios pelos principais pontos turísticos de Visconde de Mauá, Penedo e Parque Nacional de Itatiaia. Confira a seguir algumas opções:

 

Tradicional - Tour pelo Poção do Maromba e pelas cachoeiras Véu de Noiva, Escorrega e Santa Clara, além de visita ao trutário Truta Rosa. Duração: 3 horas e 30 minutos. Preço: R$ 50 por pessoa.

 

Alcantilado - São vários pontos de visitação: nove cachoeiras (oito delas próprias para banho), mirantes e trilhas em parque com boa infraestrutura. A caminhada é de três quilômetros no total. Duração: quatro horas e meia. Preço: R$ 45 por pessoa, mais R$ 10 de taxa para entrar em área particular.

 

Vale do Pavão - Situado a mais de 1.500 metros de altitude, o vale abriga o Poço das Esmeraldas e a Cachoeira do Marimbondo, com direito a visitas a um capril e a um produtor de cinco tipos de cogumelos comestíveis. Duração: 3 horas e 30 minutos. Preço: R$ 60 por pessoa.

 

Cachoeira da Fumaça - A maior corredeira do Estado do Rio de Janeiro, com quase dois quilômetros de extensão, é atravessada pela Ferrovia do Aço e deságua em uma cachoeira com 200 metros de altura. Duração: dia inteiro (cerca de oito horas). Preço: R$ 180 por pessoa.

 

Cachoeiras gigantes - O passeio é feito em carros com 4x4 até os pontos mais deslumbrantes do lado mineiro da Serra da Mantiqueira, parando em vilas sossegadas, cachoeiras de até 200 metros e mirantes a mais de 1.850 metros de altitude. Duração: dia inteiro (cerca de oito horas). Preço: R$ 120 por pessoa.

 

Parque Nacional de Itatiaia - Percorre a parte alta da reserva, com caminhada até o Pico das Agulhas Negras ou até as formações rochosas conhecidas como Prateleiras. Duração: dia inteiro (de 10 a 12 horas). Preço: R$ 250 por pessoa.

 

 




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