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TV Cultura exibe a saga do líder comunista Prestes
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
31/05/2002 | 17:13
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A saga de um intrigante super-herói vermelho toma o horário nobre da TV Cultura às 22h deste sábado no Festival Pic na TV. Não, não é o Homem-Aranha. O bravo em questão dispensa fantasia e máscara e tem no comunismo sua ascese política. O canal exibe O Velho – A História de Luiz Carlos Prestes (1997), documentário minucioso de Toni Venturi sobre a trajetória do maior comunista do Brasil.

O título do filme de Venturi saiu melhor que a profecia. O vermelho anda desbotado hoje em dia, Marx anda acanhado tal é o comprometimento dos líderes do maior partido de esquerda do país com o fair play da política globalizada. São velhos os ideais do marxismo e emboloradas as utopias da economia planificada.

Prestes teve seus lampejos de negociação, embora poucos. Soube contemporizar uma ou duas vezes. E só. De resto, teve peito para medir a República Velha, para desatinar com a austeridade tirânica de Getúlio Vargas e o regime militar que se seguiu depois de 31 de março de 1964. Começou a militância aos 25 anos, quando peregrinou na Coluna Prestes, maratona de cunho político com a qual percorreu mais de 20 mil km em todo o Brasil. A Coluna foi efeito colateral do movimento tenentista, que pretendia alvejar a República Velha. Pelos crimes políticos foi exilado na Bolívia, na Argentina e na ex-União Soviética, onde ofereceram o chocalho à cascavel: a partir de então, Prestes tomou contato com a foice e o martelo.

O Velho toma esse ponto como inicial. Venturi empreendeu uma pesquisa que recuperou imagens tidas como perdidas, uma vez que, durante boa parte do século XX, o comunista padecia do epíteto “comedor de criancinhas”. O material que o cineasta levantou resulta em um conciso trabalho de montagem documental clássica baseado em depoimentos de uma turma de juniores da Intentona de 1935. Leonel Brizola, Roberto Freire, Fernando Gabeira, Ferreira Gullar e Oscar Niemeyer falam para autenticar a importância de Prestes, secretário de quilate no Partido Comunista Brasileiro. Quando calam, Paulo José equilibra serenidade e severidade na narração dos fatos.

A ultra-direita estadista fez Prestes perder mais do que o mandato no Senado nos anos 40 e os direitos políticos cassados no regime pós-64. A sua mais famosa companheira, Olga Benário, sucumbiu à faxina étnica nazista ao morrer, em 1942, dentro de um campo de concentração. Ao contrário do que exige a depressão, Prestes continuou a luta contra os militares e chegou a ter visível participação na campanha das Diretas Já. Incomodou os situacionistas até a morrer vitimado por leucemia em 1990, ano em que a União Soviética agonizou de vez.




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