Nascida em terra de muitas devoções, onde o profano e o religioso comungam em manifestações que tomam a rua, Fafá de Belém é da fé desde muito antes de nascer. Fátima por causa de uma promessa feita por seu pai quando ele tinha 7 anos - e esperança de se ver curado de tifo -, a cantora, que já avisa que o profano e o sagrado são "o material do qual sou formada", chega às lojas com mensagem de graças à vida e aos céus com 'Amor e Fé' (Universal Music, preço médio R$ 10).

O EP, com quatro faixas, traz 'Nossa Senhora' (Roberto e Erasmo Carlos), 'Ave Maria' (Schubert) - em versão bossa nova -, 'Gracias a La Vida' (Violeta Parra) e 'Eu Sou de Lá' (padre Fábio de Melo), em homenagem ao Círio de Nazaré.

Fafá, que já cantou especialmente para dois papas (João Paulo II, em 1997, e Bento XVI, em 2007), conta que da primeira vez em que foi convidada para homenagear um sumo pontífice, ficou emocionada, tentando entender o motivo da escolha. "Fiquei feliz quando soube que havia sido escolhida pela minha postura política, pela coerência entre o meu discurso e a ação na transição democrática que vivemos", diz ela. O que endossa que não há só religião nessa fé.

"Uma coisa são os dogmas da igreja, outra é a fé. A ilusão anda sendo vendida junto com o lugar no céu e uma passagem para Marte. Fé é também acreditar no seu papel, na sua importância para a sociedade. O que eu entendo é que ninguém criou esse bando de malucos para serem infelizes. Quem vai pelas punições e os pecados são os intermediários", conta, dando uma de suas estrondosas gargalhadas depois da última frase.

Além disso, Fafá revela que passou um tempo desiludida com as novidades do cancioneiro nacional. Depois de uma temporada em Pernambuco, voltou renovada. "Pernambuco me deu um novo olhar para autores contemporâneos. Tenho um projeto para ser gravado no outro semestre e penso em um disco de frevo. Mas antes veio Nossa Senhora, que me atropelou, me disse: ‘Primeiro eu e depois o que você quiser'", continua a cantora, com outra sonora risada.