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Ocupaçao de terras gera conflito no Zimbabue
Do Diário do Grande ABC
10/04/2000 | 14:43
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O promotor-geral do Zimbabue, Patrick Chimamasa, reconheceu nesta segunda-feira que a situaçao se deteriorava nas centenas de fazendas de proprietários brancos ocupadas por ex-combatentes, estimulados pelas autoridades, fazendo a situaçao parecer ``um barril de pólvora a ponto de explodir'.

Vários fazendeiros ou administradores brancos dessas propriedades começaram a abandonar as terras que exploravam devido ao aumento da tensao e da violência, disse uma fazendeira.

Novas fazendas serao ocupadas a partir de terça-feira, anunciou Agripah Gava, um dos principais responsáveis pela associaçao de ex-combatentes da guerra de libertaçao.

Chimamasa reconheceu na Corte Suprema que a situaçao havia piorado nas fazendas ocupadas, depois da decisao desta jurisdiçao de divulgar uma ordem, em 24 de março, para que a polícia proceda à retirada dos 60 mil ocupantes ilegais. Em sua opiniao, a polícia (20 mil homens) é impotente e nao pode controlar a situaçao.

``O promotor-geral veio à Corte para comunicar que a situaçao se deteriora, que é incapaz de remediá-la e que, como é evidente, necessita de uma soluçao política', explicou o juiz Moses Hungwe Chinhengo.

A polícia nao quer se ver obrigada a expulsar os ocupantes devido à gravidade da situaçao, à mescla de consideraçoes raciais e políticas, que se converteu em um verdadeiro ``barril de pólvora a ponto de explodir', segundo Chimamasa.

Por sua vez, o advogado dos fazendeiros brancos, Adrian de Bourbon, disse que a polícia deveria estar acima das questoes políticas e nao interpretar politicamente a lei.

Como resultado da tensao crescente, os fazendeiros brancos saem de suas terras ou retiram suas famílias. Dave Naisbitt, responsável por uma fazenda situada no oeste de Harare, saiu neste domingo da propriedade dizendo que regressaria quando a situaçao se acalmasse, indicou uma fazendeira que pediu o anonimato.

Os ocupantes ilegais roubaram todos os pertences de Naisbitt salvo a mesa da sala e as camas, depois foram à fazenda de um vizinho, Jeff White, para tentar em vao encontrar armas.

``Ameaçaram os trabalhadores agrícolas assinalando: mataremos vocês se nao saírem da fazenda'.

``Muitos fazendeiros retiram mulheres e filhos. Retiram os objetos de valor e os colocam em segurança nas cidades', acrescentou a mesma fonte.

A 7 de abril, em seu primeiro discurso eleitoral para as legislativas de maio, o presidente do Zimbabue, Robert Mugabe, no poder desde 1980, incitou os ex-combatentes a ocuparem as fazendas. O parlamento adotou semana passada uma lei que permite a expropriaçao das terras de proprietários brancos sem nenhum tipo de indenizaçao.

Em Luxemburgo, a Uniao Européia (UE) manifestou nesta segunda-feira sua preocupaçao com o Zimbabue e pediu que as eleiçoes sejam ``democráticas e livres'.

Enfim, os bispos católicos da Africa Austral denunciaram nesta segunda-feira a ilegalidade reinante no Zimbabue e acusaram o governo de Mugabe de fomentar esta situaçao.

Desde fevereiro, grupos de ex-combatentes ocuparam mil fazendas pertencentes a brancos, de um total de 4 mil, que correspondem a 30% das terras férteis do Zimbabue.




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