Ao transitar pelas principais vias comerciais de Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires, a população local pôde ontem se deparar no Feirão do Imposto com o preço real de cada produto consumido no dia-a-dia. As associações comerciais das cidades e os Núcleos de Jovens Empreendedores do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) deixaram os consumidores indignados ao revelar, por exemplo, que uma dona-de-casa paga 42,27% em impostos na compra de uma caixa de sabão em pó.

“Ai, o governo rouba demais e não ganho nada em troca”, lamentou a empregada doméstica Aila Maria Vieira Raphael, 41 anos, de São Bernardo. Ao constatar a gula do poder público na arrecadação dos tributos, ela manifestou sentimento de indignação. “Não tenho bons serviços na área da saúde lá no posto do meu bairro, nem limpeza das ruas nem segurança pública”, reclama Aila Maria.

O professor aposentado Hélio Giacomini, 62 anos, de Santo André, tentou conter a raiva. “Eu fico ‘p’ da vida com tantos impostos. É horrível e lastimável. Vivemos na Belíndia ou na Scandinafrica”, disparou ele, ao comparar a carga tributária brasileira elevada como na Europa, mas revertida em baixa prestação de serviços sociais à população como na Índia e na África.

As reações são de consumidores comuns que descobriram ontem o epicentro da dor provocada na mais sensível parte do corpo, o bolso. O foco de irradiação dos sintomas são as mordidas constantes das diversas esferas de poder na arrecadação de tributos.

E a carga de impostos não pára de crescer. Segundo levantamento recente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a carga tributária neste ano já chegou a patamar recorde de 39,79% do PIB (Produto Interno Bruto). Diante desse quadro, os feirões buscaram conscientizar a população local.

O Movimento Quero Mais Brasil, que mobiliza a sociedade para cobrar transparência na utilização dos recursos públicos arrecadados por meio de impostos, firmou parceria com as entidades da região e somente ontem assegurou a adesão de quase 1,5 mil pessoas ao abaixo-assinado da entidade. “Tivemos uma participação grande. Cerca de 800 assinaturas”, conta o empresário Lauro Akao Filho, de Ribeirão Pires, cidade que pela primeira vez participou do Feirão.