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Antunes Filho estréia contra o ‘bobocol’
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
25/07/2001 | 20:21
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Com a ajuda de Medéia, a filha do rei da Cólquida, Jasão obtém o velocino de ouro, carneiro com fios de lã de ouro. Casam-se e têm dois filhos. Movido por uma ambição maior, porém, Jasão desdenha os sacrifícios de Medéia em nome do amor, abandona-a e se casa com a filha do rei de Corinto, Creonte. Medéia, então, prepara – e leva ao fim – uma cruel vingança. Essa é a matéria-prima que gerou uma das grandes obras do teatro grego.

Medéia, o grande texto de Eurípedes, estréia nesta quinta para convidados e domingo para o público no Sesc Belenzinho, em São Paulo, adaptado e dirigido por Antunes Filho. No elenco, 21 atores do Centro de Pesquisa Teatral, comandado por Antunes. Juliana Galdino interpreta Medéia e Kleber Caetano faz quatro personagens, entre eles Jasão.

Duas vertentes sustentam o espetáculo. A primeira: “Uma alegoria sobre a natureza revoltada contra o que seus filhos estão fazendo. Medéia é a mãe-terra, manda terremotos, enchentes”, diz Antunes. A outra: “Medéia, por assim dizer, é a primeira peça feminista”, afirma. “São temas moderníssimos, atuais. Mas não faço o óbvio, a peça tem elegância, é uma alusão. Não faço o impacto pelo impacto”, completa.

O diretor gastou seis meses na preparação do elenco. “Sem técnica não se consegue trabalhar, o ator fica esbaforido em cena”, afirma. “É importante restabelecer a palavra no teatro. Dizem que sou chato e rabugento, mas tento lutar por algo melhor para a sociedade. O que não quer dizer que acerto sempre, mas tento. Gosto de entretenimento, mas que seja algo espiritual. As pessoas querem se divertir, mas quem sabe decodificar as coisas?”, diz.

Antunes se declara ainda um adversário do que chama de “bobocol”, que se difere do besteirol, definido por ele como comédia de costumes. “O bobocol é uma má interpretação do pós-moderno, que tem uma atitude crítica”, diz. “O teatro hoje está vulgarizado. Eu luto contra.”

O diretor dedicou também atenção especial à adaptação. “Não fiz ao pé da letra, não sou museu. Detesto essas traduções de catedráticos que querem mostrar erudição. Quero fazer uma obra viva, a platéia tem de entender tudo. Não perco uma metáfora, só o blá-blá-blá”, afirma. Antunes frisa que se trata de uma tragédia. “Não se pode esfarelar o arquétipo. Se fizer um drama, banaliza”, explica.

Os quatro elementos da natureza (água, ar, fogo e terra) estão presentes na peça como signos: um canteiro de terra com velas e água escorrendo. Em busca de maneiras novas de fazer teatro, Antunes levou Medéia para um galpão no Sesc Belenzinho. “Estou cansado do palco italiano, quero experimentar espetáculos diferentes”, diz.




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