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Masp inaugura retrospectiva com 134 obras de Guignard
Alessandro Soares
Da Redaçao
12/06/2000 | 22:01
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  Lirismo poético na pintura e dramaticidade na vida sao as duas faces de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), um nome que, com Portinari e Di Cavalcanti, forma a santa trindade da arte brasileira. Ele ganha, a partir desta terça para convidados, e de quarta para o público em geral, a mostra O Humanismo Lírico de Guignard, no Masp (Museu de Arte de Sao Paulo Assis Chateaubriand), uma retrospectiva completa de sua obra personalíssima, que inclui 134 quadros. Completa em funçao das telas conhecidas, de museus ou colecionadores. No entanto, estao em locais ignorados cerca de 900 telas que Guignard deve ter produzido.

Quem faz esta estimativa é Jean Boghici, marchand, amigo do artista e curador da exposiçao, que de abril até o início deste mês esteve no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. "Guignard deu muitos quadros na juventude para amigos e namoradas. Certa vez, vi em seu cavalete uma tela onde ele retratava um garoto fazendo a primeira comunhao. Onde está esta tela? Ele é um dos pintores mais falsificados do Brasil", diz Boghici.

Guignard é também um dos mais valorizados artistas brasileiros. O seu quadro Vaso com Flores foi arrematado por US$ 759 mil pelo deputado federal carioca Ronaldo César Coelho, em um leilao realizado em Nova York. Para a mostra paulistana, Boghici teve auxílio do curador Luiz Marques. Boa parte dos quadros da exposiçao pertence a colecionadores.

O drama acompanhou a vida do mais mineiro dos pintores fluminenses, desapegado ao dinheiro, boêmio e alcoólatra. Na cabana de um hotel localizado nas montanhas de Itatiaia (RJ), para onde seguia a fim de se recuperar das bebedeiras levado por amigos, torrava todo o dinheiro que ganhava em tintas e balas para as crianças.

Tinha lábio leporino, visto nos auto-retratos, considerado o motivo de suas desilusoes amorosas (foi abandonado pela noiva em plena lua-de-mel). Nascido em Nova Friburgo (RJ), aprendeu a pintar na Alemanha, onde viveu desde os 11 anos com a mae e o padrasto, com quem nao se dava. Voltou ao Brasil em 1929 para ensinar belas artes (entre seus alunos estavam Iberê Camargo e Amílcar de Castro). A partir de 1944, mudou-se para Belo Horizonte, para dirigir a Escola Guignard, a convite de Juscelino Kubitschek.

A divisao da exposiçao é cronológica, obedecendo a produçao de Guignard nas décadas de 20 - quando pintou pouco -, 30, 40 e 50 - épocas que mais produziu -, e década de 60. Retratos, auto-retratos, os famosos vasos com flores e, principalmente, as paisagens montanhosas de Minas Gerais, com suas igrejas barrocas, e baloes de Sao Joao, algumas imaginárias, integram a exposiçao. Foi um pintor moderno que alinhavou o Renascentismo de Boticelli com o Impressionismo de Matisse, casando desenho ousado com imagens poéticas e cores feéricas. "Guignard tem um parentesco artístico com Van Gogh", conclui Boghici. n    O Humanismo Lírico de Guignard - Exposiçao. Abertura nesta terça, às 19h. No Masp - av. Paulista, 1.578, Sao Paulo. Tel.: 251-5644. De terça a domingo, das 11h às 18h. Ingr.: R$ 10 e R$ 5 (estudantes). Estacionamento Garagem Trianon - praça Alexandre Gusmao. Até 13 de agosto.




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