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Líbano inicia debate nacional sobre crise política
Da AFP
02/03/2006 | 20:51
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Um diálogo nacional, o primeiro do gênero desde a guerra do Líbano (1975-90), foi iniciado nesta quinta-feira em Beirute entre líderes cristãos e muçulmanos, anti e pró-sírios, para tentar contornar a crise política. A sessão foi iniciada na sede do Parlamento. Quatorze personalidades se reuniram em torno de uma mesa, a convite do presidente do Parlamento, Nabih Berri, e do chefe do movimento xiita Amal, próxima de Damasco, que dirige os debates.

Entre essas personalidades, figuram o druso Walid Joumblatt, o sunita Saad Hariri, os cristãos maronitas Michel Aoun e Samir Geagea e o chefe do Hezbollah, o xiita Hassan Nasrallah. O primeiro-ministro Fouad Siniora participa dos trabalhos, mas não o chefe de Estado Emile Lahoud, cuja demissão é exigida pela maioria anti-síria. Os trabalhos, que acontecem a portas fechadas e sob medidas de segurança draconianas que paralisaram o centro de Beirute, devem durar cerca de uma semana.

Três pontos estão na ordem do dia: os trabalhos da comissão de investigação internacional sobre o assassinato, no dia 14 de fevereiro de 2005, do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, que gerou dúvidas sobre os serviços de informação libaneses e sírios, as relações sírio-libanesas, degradadas desde a retirada das tropas sírias no dia 26 de abril, a chegada ao poder de uma maioria anti-síria e o problema da presidência.

Segundo Berri, todos os participantes aceitaram a constituição de um tribunal international sobre o assassinato de Rafic Hariri e a extensão da investigação da ONU a todos os atentados cometidos desde outubro de 2004 contra personalidades libanesas. A questão da demissão do presidente Lahoud, à qual o Hezbollah se opõe, deverá ser examinada à noite.

Lahoud disse num comunicado que espera "o sucesso do diálogo nacional entre os libaneses, único caminho para resolver os problemas interiores". É a primeira vez desde 1975 que um diálogo nacional ocorre sem tutela internacional ou árabe. Para encerrar a Guerra do Líbano, os líderes do país se reuniram em 1989 em Taëf (Arábia Saudita) sob a tutela de um triunvirato árabe apoiado pela comunidade internacional.

Embora o diálogo nacional tenha sido lançado após a retirada síria e o fim da tutela de Damasco, as relações entre Beirute e Damasco continuam a ser um ponto de discórdia entre os libaneses, divididos entre pró e anti-sírios.

Joumblatt e Hariri acusam Damasco de ingerência nos assuntos libaneses e exigem o estabelecimento de relações diplomáticas e a delimitação das fronteiras que ainda estão indefinidas, como prova do reconhecimento de um Líbano soberano. Joumblatt exige o desarmamento do Hezbollah, e a recuperação, por via diplomática, das fazendas de de Shebaa (sul), ocupadas por Israel. O partido de Deus, apoiado por Teerã e Damasco, quer "libertar" as fazendas pelas armas.

Nasrallah e Berri querem dissociar a investigação da ONU sobre a morte de Rafic Hariri da questão da retomada das relações sírio-libanesas. O Hezbollah, que recentemente se aliou ao líder cristão Michel Aoun, recusa-se a se desarmar. A abertura da reunião foi precedida na quarta-feira por um encontro entre Hassan Nasrallah e Saad Hariri, que permitiu atenuar as divergências entre os dois campos. "Estamos todos no mesmo barco e temos de conseguir realizar este diálogo porque isto interessa ao país e a todos os libaneses, sem exceção", disse Berri numa entrevista ao jornal As-Safir desta quinta-feira.




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