Cultura & Lazer Titulo
Oasis quer recuperar título com novo álbum
Do Diário do Grande ABC
25/02/2000 | 13:58
Compartilhar notícia


O físico Isaac Newton (1642-1727) escreveu em latim, em seu caderno de notas: "Platao é meu amigo Aristóteles é meu amigo, mas meu maior amigo é a verdade, e eu nao teria chegado aonde cheguei se nao tivesse me apoiado no ombro de gigantes". O grupo britânico Oasis sabe que chegou até aqui apoiado nos ombros de quatro gigantes nascidos em Liverpool mas em seu novo disco - sabiamente intitulado "Standing on the Shoulder of Giants", citaçao da frase de Newton - eles mostram que a influência nao os escravizou. Ao contrário do que parecera em seu disco anterior, "Be here now", de 1997.

"Standing on the Shoulder of Giants" é a prova de que eles merecem ter chegado onde chegaram, amparados ou nao. Em "Fucking' in the Bushes", a maravilhosa faixa instrumental de abertura, o som da guitarra de Noel Gallagher é amparado por samplers do filme "Message to Love", dirigido por Murray Lerner em 1970 e que mostra em açao, no festival da Ilha de Wight, gente como The Who, Doors, Hendrix, Joni Mitchell, Miles Davis e outras feras. É um rito de passagem: o passado impulsionando o futuro, ambos em galáxias distintas.

Esse início do disco insinua que os irmaos Gallagher estao enveredando agora pela psicodelia explícita. Mas nao é exatamente isso. Há até uma balada meio INXS, a gasosa "Sunday Morning Call". Tirando "Little James", a baladinha pastel-família de Liam Gallagher, o irmao menor encrenqueiro de Noel, que é piegas e igual, o disco é irrepreensível. "Gas Panic!" é o estilo Oasis em sua plenitude, com a farra de guitarras tomando conta dos espaços da cançao e uma adiçao inesperada de gaitas e flautas.

Em faixas como "I Can See a Liar", eles visitam o hardcore primitivo do início dos anos 70, apesar dos mesmos vocais sessentistas de Liam e Noel à frente. É uma levada um pouco à moda do "Ten Years After". "Roll It Over" volta à seara psicodélica, as cordas dedilhadas preguiçosamente, com sonoridade acústica e viajante. Em "Put Yer Money Where Mouth Is", o segredo da sonoridade está numa cítara eletrificada, que é tocada por Mark Coyle. Em "Go Let It Out", há um sampler do bluesman Johnny Jenkins, homenagem inusitada.

É o melhor trabalho da banda de Manchester desde 1995, quando lançaram o clássico (What's the History) "Morning Glory?" O Oasis, malgrado ter feito fama como um bando de garotos irascíveis, é uma banda de rock de fato. Explorando uma fórmula ultramelodiosa e arranjos sofisticados, eles fizeram ao longo dos anos 90 um punhado de hits inquestionáveis, como "Supersonic" e "Live Forever".

Eles criaram a banda em Manchester, em 1991. O nome do grupo inicialmente era Rain (chuva). Tinha Liam Gallagher (vocalista), Paul "Bonehead" Arthurs (guitarra), Paul "Guigs" McGuigan (baixo) e Tony McCaroll (bateria). Logo veio o irmao mais velho de Liam, Noel, e passou a mandar na trupe. Sua primeira demo os levou a assinar com a Creation Records. Em 1994, seu primeiro single já estourava nas paradas britânicas.

No outono de 1994, gravaram o primeiro disco, "Definitely Maybe". A fama foi instantânea, mas os problemas vieram a reboque. O baterista Tony McCaroll brigou com Liam Gallagher em um bar e deixou o grupo, sendo substituído por Alan White. Recentemente, outros dois membros da formaçao inicial, Bonehead e Guigs, deixaram a banda.

Mas, por incrível que pareça, a troca de músicos deu novo fôlego ao grupo. Entraram recentemente o guitarrista Gem Archer e o baixista Andy Bell.

O produtor do disco é Mark "Spike" Stent, o mesmo cujo trabalho pode ser medido em obras recentes de Massive Attack, Bjork, U2 e Madonna. A obsessao do Oasis por The Beatles e Paul McCartney, no entanto, chegara às raias do absurdo em "Be here now", em que a grande colagem já soava um pouco cafona, ultrapassada. Enquanto seus adversários na corrida do britpop aqueciam suas turbinas nas searas eletrônicas, eles insistiam em clonar, preguiçosamente.

Mas Noel - ex-roadie da banda Inspiral Carpets e líder absoluto do grupo - botou as maos à obra e foi buscar combustível novo para seu trabalho. Esqueceu por um momento que nao era o compositor de "I'm the Walrus" e escreveu outras pequenas pérolas do pop, como "Where Did It All Go Wrong?" e "Gas Panic!" O disco novo do Oasis foi gravado entre abril e agosto em quatro estúdios, um deles na França (no Chateau de la Colle Noire).

Lançado na quinta-feira em todo o mundo, foi saudado entusiasticamente por diversos críticos. Fred Shuster, do "The New York Times", escreveu: "Abra uma (cerveja) Guinness pelo Oasis, que enfrentou seus temores e engendrou o mais satisfatório e direto álbum de rock da atualidade".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;