Essa explicação é reforçada por uma carta revelada à polícia pela psicóloga Luciana Moreira Leme, que tratava de Mirian havia oito anos. Em tom de desabafo, o autor do texto reclamava da obrigação de cuidar da mãe, que sofria do Mal de Alzheimer (doença degenerativa que afeta a memória e outras funções do cérebro humano, atingindo principalmente idosos). No documento, de quatro páginas, a pessoa ainda mostrava a intenção de matar a mãe e se matar em seguida. A polícia não descarta a hipótese de Maria, por estar muito doente, ter pedido à filha para ser morta.
A psicóloga relatou que recebeu a carta atribuída a Mirian na quarta-feira – véspera do incêndio na casa da rua França. Horas antes de o documento chegar ao consultório, entregue por um motoboy, Mirian passou no local para deixar a cadela de estimação e um bilhete, pedindo que cuidassem do animal, pois ela estaria "fora da cidade por alguns dias".
Luciana procurou a polícia na manhã de quinta-feira e registrou boletim de ocorrência, alertando sobre o risco de alguma tragédia. Investigadores chegaram a visitar a casa de Mirian e Maria na mesma noite, horas antes do incêndio. Os policiais foram recebidos no portão por Mirian, que teria dito que estava tudo bem.
Fogo - O incêndio começou no quarto do andar de cima da residência. Os bombeiros agiram rápido e conseguiram evitar que as chamas tomassem proporções ainda maiores, pois cerca de 60 latas com querosene estavam espalhadas pela casa. O imóvel foi parcialmente destruído pelo fogo – fato que pode ter apagado muitas pistas.
Os dois corpos estavam no quarto. O cadáver de Maria Smith foi encontrado sobre a cama, junto a pedaços de fios – um indício de que a idosa teria sido amarrada nas mãos e nos pés. Além das queimaduras, ela tinha vários projéteis na região toráxica-abdominal. O corpo de Mirian, que estava próximo ao da mãe, apresentava quatro tiros no peito. Projéteis de revólver 635 foram encontrados no quarto. Mas a arma está desaparecida – a polícia acredita que ela pode ter sido queimada no incêndio.
Apesar de arma estar sumida, os policiais encontraram na casa uma nota fiscal do revólver 635 e um documento de posse da arma em nome de Mirian Smith.
O delegado Mauro Guimarães Soares, titular do 15º Distrito Policial (Itaim-Bibi), explicou que o fato de a arma ser de baixo calibre permitiria que Mirian desse quatro tiros no próprio peito antes de morrer. "Se o primeiro tiro não atingiu um ponto vital, ela poderia disparar mais duas, três ou até quatro vezes", explicou, em entrevista à TV Record.
Legistas do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo constaram na necropsia que Maria estava morta há pelo menos cinco dias, pois o corpo estava em adiantado estado de putrefação. Os especialistas constataram ainda que Mirian morreu algumas horas antes de o corpo ter sido encontrado pelos bombeiros. Isso reforça a hipótese de Mirian ter ocultado o cadáver da mãe por vários dias.
Os médicos colheram material para exames complementares. Não há prazo para a conclusão do laudo, mas o IML espera concluir os trabalhos em até 30 dias.
Apesar de a hipótese de latrocínio (assalto seguido de morte) não ser descartada, a casa não apresenta sinais de arrombamento. A polícia pediu uma nova perícia na residência.
Outro indício a ser investigado pela polícia é a existência de uma mancha de sangue na calçada em frente à casa das duas vítimas.
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