O governo iraquiano condenou nesta quinta-feira o suposto massacre de civis cometido pelos Marines em Haditha no final de 2005, qualificando-o como "crime hediondo", e pediu para o exército americano evitar essas bravatas.
No dia 19 de novembro de 2005, pelo menos 24 civis iraquianos foram mortos por Marines em represália à morte de um de seus colegas na cidade de Haditha, no oeste de Bagdá, segundo a imprensa americana. De acordo com a versão inicial dos Marines, as vítimas teriam morrido na explosão de uma bomba.
Na primeira reação ao caso, o primeiro-ministro Nouri al-Maliki denunciou o "crime" e afirmou que "este tipo de ação é inaceitável e não pode ser justificado".
Ele anunciou a criação de uma comissão de acompanhamento das "repercussões deste ato cometido pela Força Multinacional (FMN) em Haditha e que foi revelado pela mídia. A comissão terá de levantar este problema durante a discussão sobre a presença da Força Multinacional no Iraque", cujo mandato expira no fim de 2006.
"Essas forças não respeitam os cidadãos, alguns são esmagados pelos tanques, outros são mortos. É preciso falar disto e definir as regras que devem ser observadas pelas forças estrangeiras", acrescentou um comunicado de seu escritório.
O Conselho dos ministros sublinhou que "o que aconteceu em Haditha viola os direitos do Homem" e exigiu compensações e desculpas.
O general americano Thomas Coldwell, porta-voz da Força Multinacional, disse que "a coalizão não tolera e não tolerará comportamentos contrários à ética ou de natureza criminosa. Toda acusação será investigada e todo responsável terá de responder por seus atos".
Segundo ele, o general Peter Chiarelli, número dois do comando da Força Multinacional, iniciou uma investigação no dia 14 de fevereiro sobre Haditha e pediu para aprofundá-la no dia 9 de março, "o que está sendo feito atualmente".
"Este trágico incidente não é representativo da maneira como as forças da coalizão tratam os civis iraquianos e toda pessoa que tiver realmente cometido violações será punida", assegurou.
Na véspera, o presidente George W. Bush disse estar "preocupado" com o caso de Haditha, assegurando que os culpados seriam punidos se fatos potencialmente desastrosos para o exército americano fossem comprovados.
O general Coldwell referiu-se ao programa de treinamento dos soldados da FMN, que são orientados a respeitarem os valores morais: "Os soldados têm autorização de só recorrer à força em caso de ameaça real".
Um outro incidente envolvendo o exército americano ocorreu na quarta-feira em Samarra, norte de Bagdá, e custou a vida de dois iraquianos.
"O motorista ignorou os sinais visuais e sonoros para parar e, por isso, os soldados atiraram para imobilizar o veículo", conforme as regras em vigor, indicou o exército americano, acrescentando que o motorista tomou uma estrada proibida para ir ao hospital.
O mês de maio foi particularmente mortífero no Iraque, onde 1.055 pessoas, em grande parte civis, morreram e 1.423 ficaram feridas, segundo um balanço da AFP a partir de fontes oficiais. É preciso contar ainda com os 345 insurgentes mortos em maio. O número de mortos aumentou em 38% em relação a abril.
Maliki, que elegeu a segurança como prioridade, disse que apresentaria domingo ao Parlamento os nomes dos ministros do Interior e da Defesa, diante da ausência de um consenso sobre essas nomeações nos blocos políticos, quase duas semanas depois da posse do gabinete. Outras seis pessoas morreram em novos conflitos.