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Após eleição, Lula terá de reconstruir base aliada
30/10/2004 | 23:37
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Depois da guerra, o armistício. Foi com esse recado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ao núcleo político do governo que, terminada a eleição municipal, será necessário reconstruir pontes destruídas no relacionamento com a base aliada e retomar a chamada “agenda positiva”.

Preocupado com o peso das armas que serão usadas pelos partidos – como exigências de cargos e ministérios no governo, em troca de apoio –, Lula já iniciou um trabalho para apaziguar os descontentes. Por enquanto, porém, são somente afagos.

O presidente sabe que será preciso fazer gestos mais concretos se quiser aprovar projetos, principalmente no Senado, sem depender de auxílios da oposição. Mas ainda não definiu como será o processo de “atração política” para engordar a base de apoio no Congresso Nacional. Uma das idéias é transformar o PTB, do deputado Roberto Jefferson (RJ), em escoadouro dos insatisfeitos.

Enquanto o PTB parece petista desde criancinha – e é cotado para substituir o PL como vice na dobradinha para reeleger Lula, em 2006 –, o PMDB lidera o time dos parceiros rebeldes: ameaça até romper com o governo e construir um “projeto próprio” para a Presidência. No Palácio do Planalto, a ameaça é vista como blefe político.

Blefe ou não, o fato é que o cenário ficará ainda mais difícil para o Planalto se a prefeita Marta Suplicy (PT) perder a eleição para o PSDB, de José Serra. Petistas e tucanos enfrentam-se no segundo turno em dez cidades, sendo quatro capitais (São Paulo, Curitiba, Vitória e Cuiabá). Mas as maiores expectativas concentram-se sobre São Paulo e Porto Alegre, capital que o PT administra há 16 anos e corre o risco de perder no duelo com o PPS.

“Terminada a eleição, a vida continua: nem vamos alimentar disputas nem partir para o confronto estéril”, afirmou o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Embora haja defensores da aproximação com o PSDB dentro do governo e do PT – caso do ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, e do governador do Acre, Jorge Viana –, na prática essa não é a visão predominante dentro do Planalto.

Guerra – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, é um dos que não pode nem ouvir falar nessa sugestão. Seu argumento: o PSDB tem projeto de poder e fará tudo para destruir os petistas. “O problema dos tucanos é que eles perderam o discurso econômico e programático, tanto que não abriram o bico para fazer um balanço do governo Lula na campanha”, ataca Dirceu. “O governo trata os divergentes como inimigos e confunde disposição para o diálogo com negociação de posições”, rebate o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos desafetos do ministro.

Na seara aliada, as queixas contra o governo vão de falta de espaço no primeiro escalão à atuação dos ministros nas eleições. “Os ministros foram a comícios e gravaram programas de TV contra candidatos nossos. É óbvio que isso cria um clima de animosidade. Por isso, teremos de trabalhar muito para amenizar esse clima”, diz o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).

Para o ministro da Educação, Tarso Genro, os confrontos do PT com partidos aliados são uma experiência que não deve ser repetida. “O sistema de alianças no Brasil, em função das diferenças políticas que os partidos têm regionalmente, está totalmente pervertido. As eleições municipais são tratadas a partir de impulsos políticos”, afirma.

Tarso faz outro reparo, sobre o qual o PT deverá se debruçar depois das eleições: a conveniência do casamento eleitoral com forças políticas que a esquerda sempre enfrentou. “Essas alianças causam perplexidade na base do PT e instabilidade nas relações políticas internas do governo”, diz. “O PT não pode mais se defrontar com o enigma de, em algumas disputas, estar dependendo de apoio de correntes políticas como a que representa o senhor Paulo Maluf e outros líderes que têm mais ou menos a mesma posição política e história ética.”




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