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Um sem juízo, outro sem razão
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
11/10/2006 | 21:02
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O filme Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’ Roll é uma animação e estréia (finalmente!) nesta quinta-feira, Dia das Crianças. Mas não se deixe enganar. Não passa nem perto de ser um filme infantil e os guris, tal qual diriam gaúchos como o diretor Otto Guerra, são malvindos às salas de cinema. A classificação etária do longa-metragem é de 16 anos. Adequada, principalmente se o leitor já folheou Chiclete com Banana, o gibi que contém os personagens criados pelo cartunista Angeli e que abastecem as ações e qüiproquós do novo longa animado brasileiro. Um filme que sai nos cinemas pelo menos seis anos depois de sua produção ter começado.

Uma coisa precisa ser entendida: Wood & Stock animado é uma transposição, e não uma adaptação, do Wood & Stock inanimado. Existe, intencionalmente ou não, certa horizontalização narrativa no longa de Otto Guerra que procura reproduzir na tela o humor-tirinha das criações do paulista e cinqüentão Angeli. É um filme alicerçado sobre breves momentos, sobre átimos cômicos, muitas vezes totalmente independentes entre si.

Não dá para falar, nesses termos, em roteiro coerente. Enredo, até existe: enquanto comemora um Réveillon nos anos 70, o hippie Wood se vê transportado 30 anos no futuro, com uma pança que torna obsoleta qualquer calça boca-de-sino, casado com a namorada Lady Jane e pai de Overall, um moleque mais careta que freira. Com a agonia dos ideais do flower power, hospeda em casa o amigo Stock, despejado do lar, e a ressuscitada Rê Bordosa, protagonista de uma das grandes sagas, senão a maior, dos quadrinhos brasileiros e agora revivida com a voz da cantora Rita Lee.

Na pindaíba, e aconselhados pelo profeta Raulzito (dublado por Tom Zé), Wood e Stock decidem retomar a malfadada banda que sustentavam quando jovens. Para complicar um bocado mais, encontram-se ameaçados pelos estupros em série cometidos por misterioso personagem.

Não se pode cobrar verticalização, unidade cronológica, com causas e efeitos, de um longa assim, tão comprometido com uma tradição de humor gráfico que trabalha com o impacto, com atos cômicos que duram segundos, às vezes nem isso. É a forma de Guerra incentivar no espectador simpatia e cumplicidade com os hábitos e as personalidades de seus personagens.

E são uns baita personagens, cheios de remetências e reminiscências. A contracultura da contracultura. Sujeitos que fumam cigarros inusitados (com o orégano à guisa de ingrediente alucinógeno), transam sem restrições e entoam psicodelismos sem nenhum contrato ideológico, sem nenhuma aliança moral. Guerra e Angeli conseguem, com um humor orgulhosamente porco, fazer do Wood & Stock animado a constatação de que o rock’n’ roll e as ideologias podem ter morrido. O bom humor, ainda não.


WOOD & STOCK – SEXO, ORÉGANO E ROCK’N’ ROLL (Brasil, 2006). Dir.: Otto Guerra. Estréia nesta quinta-feira no Espaço Unibanco 1 e Unibanco Arteplex 5. Duração: 81 minutos. Classificação etária: 16 anos.



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