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Menino do Cata Preta é o novo ‘rei de Praga’
Do Diário do Grande ABC
08/11/2003 | 21:37
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Em 1992, ele era mais um garoto pobre do bairro Cata Preta, na periferia de Santo André, que lutava pelo sonho de ser jogador de futebol. Onze anos depois, ele é o Rei de Praga, o melhor jogador da República Checa, artilheiro do Slavia Praga. A trajetória do atacante Adauto preenche todas as etapas comuns relacionadas a de muitos craques brasileiros. Começou nos campos de terra da várzea, despontou em equipes de base e profissionais e foi transferido para a Europa. O diferencial, porém, está na boa dose de ousadia necessária na hora de encarar os campos do velho continente. Apostou todas as fichas no desafio de ser o primeiro jogador transferido de um clube brasileiro a atuar na República Checa, na equipe do Slavia Praga. “A equipe é uma das mais tradicionais, fundada em 1892. Foi vice-campeã da Gambrinus Liga (Campeonato Checo) no ano passado. Nesta temporada, recebi também o prêmio Rosa de Cristal de Bohemia, como melhor jogador do torneio. Fui o primeiro não-europeu que recebeu esta condecoração”, disse Adauto, em entrevista ao Diário. O cônsul da República Checa em São Paulo, Tomas Lonicek ressaltou: “Adauto conquistou o país. É reverenciado como grande craque pela imprensa e fãs”.

O jogador foi revelado pelas categorias de base do Santo André, onde foi artilheiro da Copa São Paulo de Juniores, em 2000. “Ele sempre teve boa índole. Desde que começou aqui no clube sabíamos que seria uma pessoa vitoriosa em todos os sentidos. Hoje é ídolo internacional. Mas continua humilde. Mora aqui no ABC e sempre faz questão de falar que o Santo André ainda é sua equipe de coração”, afirmou o diretor de futebol do EC Santo André, Sérgio do Prado.

Posteriormente, teve seu passe adquirido pelo empresário Juan Figger, que o emprestou ao Atlético Paranaense pela primeira vez. Após rápida passagem pelo Sporting Gijón (clube da segunda divisão da Espanha), retornou à equipe paranaense, onde conquistou o título brasileiro de 2001. “Nesta época, os diretores do Slavia visitaram o centro de treinamentos do Atlético e assistiram à semifinal da Copa Sul-Minas. Marquei três gols contra o Grêmio, em pleno Olímpico. Resolveram me levar. No começo, relutei. Mas meu procurador deixou bem claro que se não gostasse, poderia voltar na hora”, afirmou o atacante.

Estranho no ninho – O início da odisséia de Adi (como é chamado em Praga) foi complicada. Negro, teve de enfrentar hostilidade e racismo das torcidas rivais. “Nem me importei. Apesar de tudo, acredito que a maior dificuldade foi o idioma. Logo que cheguei, um companheiro de clube que jogou no Atlético de Madri traduzia tudo para mim. Depois de seis meses fazendo aulas, consegui bom domínio da língua. Com isso aumentou o respeito e me enturmei melhor com todos. Hoje dou até palpite nas preleções do técnico”, disse. Dificuldades superadas e respeito adquirido aos poucos, com boas atuações e gols importantes, o atacante, um ano depois, conta com regalias de ídolo no país. Conquista fãs a cada partida e constantemente é tema de reportagens e capas de jornais e revistas. “Mesmo assim, ainda não me considero ídolo aqui. Falta muito”, afirmou. Em relação ao assédio feminino, o atacante é enfático. “Aqui não tem Maria Chuteira, tem Maria Patins. Elas gostam dos jogadores de hóquei e não dos boleiros. Sorte da minha namorada, que está em Santo André, me esperando”, disse.

Em relação a um possível retorno aos clubes brasileiros, o atacante ressaltou. “Meu contrato, em princípio, vai até 2006. Mas gostaria de voltar um dia e jogar num clube grande de São Paulo ou do sul do país”, disse. A fama de Adauto na Europa, porém, já ultrapassou fronteiras. Clubes da França e Alemanha também já cogitam seu futebol.




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